Filosofia

Aqui a Filosofia é apresentada em seu momento de crise maior. Aqui não se apresenta uma Filosofia das Ciências, dividida em temas, muito menos uma Filosofia que se posiciona de forma dogmática e como instância maior do conhecimento. Muito pelo contrário, aqui se apresenta uma Filosofia-Científica, cética, que necessita e depende dos demais campos do conhecimento para encarar suas limitações e voltar a refletir sobre as questões do mundo atual.

Com Tales de Mileto nasce a Filosofia, em 28 de maio de  585 a.C.

Tales de Mileto


Pouco sabemos sobre a vida de Tales de Mileto. Mileto não era seu sobrenome, mas sim a cidade mais importante da Jônia e sua terra natal. De ascendência fenícia, provavelmente Tales nasceu em 624 a.C. e faleceu em 547 a.C. É possível que Tales tenha viajado para o Egito, onde aprendeu matemática e astronomia. Dele também se conta que era um pouco dispersivo e que, certa vez, ao contemplar os astros, caiu em um buraco. Talvez daí a origem do preconceito de que o filósofo é um homem cindido da realidade. Tales nunca escreveu uma palavra para a posteridade, ou, se escreveu, até hoje não foi achado escrito algum. Mas há de se notar a força do pensamento racional deste homem, que conseguiu um feito notável: prever o eclipse total do sol em 28 de maio de 585 a.C. Além da previsão do eclipse, Tales deu outra contribuição essencial para a filosofia. Ao pensar sobre a origem do mundo, disse ele: "Tudo vem da água". Esta proposição, de que o elemento primordial da natureza (physys em grego) e de todas as coisas é a água, pode parecer estranha, mas não é. Considerada como uma tentativa de mostrar a origem do mundo, temos que: a) já não é mais um pensamento mítico, ou seja, não se atribui a origem das coisas à criação de deuses; b) já é um pensamento científico, e até com um certo grau de verdade, na medida em que pode ser constatado que na maior parte das coisas existe um pouco de água, ou ciclos da água. E ainda que como pensamento científico esteja errado, o fato é que; c) no plano filosófico, esta proposição contém o pensamento de que o múltiplo deriva do uno, ou seja, de que todas as coisas que existem derivam de um único elemento primordial. Será justamente esta busca pelo elemento primordial da natureza que caracteriza o pensamento pré-socrático.

Anaximandro de Mileto (cerca de 610-547 a.C.) nos deixou os primeiros fragmentos escritos de Filosofia.

Anaximando de Mileto

Anaximandro de Mileto (cerca de 610-547 a.C), é conhecido como o primeiro filósofo a escrever em grego. Escreveu um livro, hoje perdido, intitulado Sobre a Natureza, do qual conhecemos apenas três fragmentos onde se apresenta um conceito de lei universal presidindo todo o processo cósmicol. Para Anaximandro o princípio da physis é o ilimitado, ou o indeterminado (em grego o ápeiron) ou seja, algo abstrato e não fixado a nenhum elemento da natureza. Vejamos o que diz o seu fragmento: Fragmento 1 "... Princípio dos seres... ele disse (que era) o ilimitado... Pois de onde as coisas têm seu nascimento, ali também devem ir ao fundo, segundo a necessidade; pois têm de pagar penitência e de ser julgadas por suas injustiças, conforme a ordem do tempo..." 2. "O ilimitado é eterno." 3. "O ilimitado é imortal e indissolúvel." É justamente neste fragmento que podemos encontrar a ideia de um tempo circular, que possui duas fases distintas, uma de geração e outra de degeneração, justamente em função da justiça, esta entendida como uma contra-parte das coisas que existem e deixam de existir. Em poucas palavras, tudo nasce de uma fonte, mas tudo o que existe, um dia deixará de existir, necessariamente, por uma questão mesmo de justiça.

Tudo é números

Pitágoras de Samos

 Não se sabe muito sobre a pessoa de Pitágoras. Sabe-se que nasceu por volta de 580 a.C., em Samos, na Ásia Menor, cidade que era rival comercial de Mileto e que faleceu em 497 a.C. Sua existência atingiu o auge em 540 a.C., quando deixou sua pátria e estabeleceu-se em Crotona, atual sul da Itália, onde fundou uma escola para iniciados e participou ativamente da vida política. Por ter despertado uma revolta dos crotonenses, fugiu para Metaponto, onde faleceu. A escola e os escritos de Pitágoras foram destruídos. Seus ensinamentos foram transmitidos por tradição oral, daí a dificuldade de se reconstruir o pensamento do pitagorismo primeiro. Ao que parece, sua doutrina esotérica era mais religiosa do que filosófica, sendo que os seus adeptos sobreviventes acabaram formando novos centros. Pela polêmica que causou e pelas respostas que provocou, pode-se reconstruir alguns pontos do pitagorismo: a) o famoso teorema: a soma dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa; b) a questão do uno e o múltiplo: Pitágoras identificou o Ápeiron (o indeterminado, o ilimitado) de Anaximandro, com o não ser; por outro lado, o Péras, (o determinado) ele identificou com o ser. Dessa junção Ápeiron + Péras, provém o Uno. Em outras palavras, o Uno é formado por um duplo princípio e a unidade, algo que veio a ser. Por conseguinte, o Não Ser existe e a pluralidade existe justamente por causa desse Não Ser. (Parece ser uma oposição à doutrina dos eleatas, que afirmavam justamente o contrário, principalmente Parmênides). Dessa relação entre o Ápeiron e o Péras, pode-se estabelecer, aliás como fez Aristóteles,  toda uma relação de opostos; c) Relações Numéricas: os pitagóricos acreditavam discernir a verdadeira essência das coisas através de suas relações numéricas. Portanto, não há qualidades, mas sim quantidades e relações entre elas. Mesmo a matéria, que é representada como inteiramente destituída de qualidade, somente através das relações numéricas que adquirem alguma qualidade determinada. Deve ser notado que, enquanto os números pares possibilitam estabelecer relações exatas, os números ímpares geram outros números, (no caso números quadrados). Toda a nossa ciência é, nesse sentido, pitagórica, pois trata de de encontrar fórmulas matemáticas para fenômenos que antes eram impenetráveis ; d) transmigração das almas: sabe-se que Pitágoras acreditava na transmigração das almas. Em seu sentido ético, essa doutrina interpretava como castigo, ou recompensa, a reencarnação de uma vida anterior; e) vida ascética: em ética, Pitágoras sustentava uma vida ascética. Este caráter de sua filosofia moral, influenciará a filosofia do direito, mais precisamente na questão da pena, que nesta perspectiva, seria um processo de purificação. Assim, Pitágoras teria formulado  conceitos matemáticos e geométricos que posteriormente serão transpostos e relacionados às mais diversas e variadas questões do conhecimento.

Entenda que tudo flui; que tudo muda; observe o eterno jogo dos contrários; que da tensão surge a harmonia; e  que a guerra é a mãe de todas as coisas.

Heráclito de Éfeso

Heráclito de Éfeso Heráclito, nascido em Éfeso, cerca de 540-470 a.C., era de origem nobre e desprezava a plebe. Contrariando o que era dele esperado, recusou-se a intervir na política. Escreveu um livro chamado Sobre a Natureza, tão conciso que o filósofo passou a ser chamado de "O Obscuro". Heráclito chamava Pitágoras de "ancestral dos charlatães” e sua filosofia versa, basicamente, sobre duas questões: 1) a questão da unidade permanente do ser, diante da pluralidade e mutabilidade das coisas particulares e transitórias; 2) a existência de um logos, (ou seja, de uma lei universal e fixa) que regeria todos os acontecimentos particulares assim como também fundamentaria a harmonia universal. Para Heráclito, o fogo é o elemento primordial e gerador do processo cósmico, o fogo tudo modela, é juiz soberano a que nada resiste. O mundo, por sua vez, encontra-se em constante movimento, tudo flui, de forma que ninguém pode banhar-se no mesmo rio duas vezes. Contudo, as oposições aparentes encontram-se num jogo permanente, criando uma unidade. Mas os homens se enganam pois não conseguem entender esta unidade, sempre pendem para um lado. Deve-se, pois, aprender essa dialética conforme a razão, conforme o logos. Mas esse logos não é compreendido por todos. Segundo Heráclito, a grande maioria dos homens se iludem por não saberem ouvir o logos. Ouvir o logos é pensar sensata e corretamente. O mundo e o pensar comunicam-se justamente através do logos, pois são idênticos. 

"o que é, é, o que não é, não é"

Parmênides de Eléia

Dentro deste universo próprio que rodeia o nascimento da filosofia, deve ser destacada a importante figura de Parmênides, 530 a.C. - 460 a.C. Discípulo de um Pitagórico, ele combate a filosofia dos jônios. Ao contrário de Heráclito, Parmênides sustenta que os contrários não podem coexistir e procura eliminar tudo o que é variável e contraditório. As constantes mudanças e alterações que o mundo apresenta são meras opiniões, ilusões, que velam o verdadeiro ser. O verdadeiro ser é metafísico, racional, imutável e só pode ser compreendido pela razão. O mundo da razão é imutável, perfeito, atemporal e real. Não podemos versar sobre uma coisa que não é. Portanto, Parmênides descarta o conhecimento por via dos sentidos, que geram doxas, opiniões, em prol de um conhecimento epistemológico, fundamentado pela razão, verdadeiro. É nesse mesmo sentido que deve ser entendida a seguinte proposição de Parmênides: "o que é, é, o que não é, não é", que estabelece uma princípio de identidade entre as coisas e o pensamento. Parmênides escreveu um poema denominado Sobre a Natureza, e que é dividido em duas partes: a primeira versa sobre a verdade; a segunda, sobre a opinião. No prólogo de seu poema observa-se uma aproximação da justiça enquanto caminho que leva à verdade.

Nasce o Atomismo Pré-Socrático

Lá em Abdera, no Séc. V a.C., o filósofo Leucipo pensava sobre a grande ordem do mundo e a origem da matéria. Seguindo a tradição Pré-Socrática de se reduzir o múltiplo ao uno, Leucipo chegou à conclusão de que todas as coisas existentes derivam de partículas indivisíveis, denominadas átomos, que se agrupavam e se dissipavam necessariamente

Demócrito de Abdera

Se para Leucipo tudo são átomos, seu discípulo Demócrito acrescenta à teoria de seu mestre a noção de vazio. A rigor é bastante difícil distinguir os conceitos oriundos de cada um desses dois pensadores por inexistir suficiente fundamentação textual e original de ambos. Pelo caminho da Doxografia de Simplício: “Demócrito julga que a natureza das coisas eternas são pequenas substâncias infinitas em grande quantidade. Para estas admite um outro lugar infinito em grandeza. E chama o lugar com estes nomes de vazio, de nada, de infinito e cada uma das substâncias com os nomes de algo, de sólido e de ser. E julga que as substâncias são tão pequenas que fogem às nossas percepções. E lhes são inerentes formas de toda espécie, figuras de toda espécie, e diferentes em grandeza. Destas, pois, como de elementos, engendra e combina todos os volumes visíveis e perceptíveis. E estas se agitam e são arrebatadas no vazio por causa da dessemelhança e das outras diferenças mencionadas; e, arrebatadas, tombam e se enlaçam num entrelaçamento tal que faz com que elas se toquem e estejam próximas umas das outras... e a causa de se coordenarem as substâncias umas com as outras até certo ponto, ele atribui aos ajustes e correspondência dos corpos. Pois alguns deles são oblíquos, outros em formas de anzol, ocos, curvos e mais outros de inúmeras diferenças. Julga, portanto, que se mantêm a si mesmas e se coordenam até que alguma mais forte por uma necessidade surgindo do ambiente as agite e disperse. E afirma que a geração e a separação que lhe é contrária se processam não apenas com animais, mas também com plantas, com mundos, e, em suma, com todos os corpos sensíveis. Se, efetivamente, a geração é uma combinação de átomos, a concepção é uma separação, e, conforme Demócrito, a geração seria uma alteração. (SIMPLÍCIO, Do Céu, p. 294, 33Heib (DK 68 A 37) in Coleção OS PENSADORES, vol. Os Pré-Socráticos, 1985, p. 311). Para alguns estudioso Demócrito deu um golpe fatal à teoria atômica de Leucipo ao definir o que era o átomo e ao desenvolver a noção de vazio. Leucipo evitara a noção de vazio, pois tudo eram átomos. Com a introdução da teoria do vazio, por Demócrito, a teoria atomística teria caído em descrédito, uma vez que a noção de vazio implicaria na noção de não ser. Esse acréscimo da teoria do vazio por Demócrito foi questionado e comentado por Cícero: “Leucipo postulava átomos e vazio, e neste aspecto Demócrito assemelhava-se a ele, embora noutros aspectos fosse mais produtivo.” (Cícero, Academia pr. II, 37, 118 APUD, KIRK et RAVEN, 1966, p 416). A paternidade da noção de vazio permanece sem conclusão. São questões que perduram em aberto por milênios.

A beleza matemática da música nos remete aos Mistérios de Elêusis na Grécia Antiga, à formação do homem grego. Artigo de Samuel Fernando

SINFONIA DO UNIVERSO

Por Samuel Fernando

A beleza matemática da música nos remete aos Mistérios de Elêusis na Grécia Antiga, à formação do homem grego que compreendia três etapas: Paidéia, de παιδεία, de onde surge a palavra "pedagogia": formação ética e intelectual (dos 6 aos 18 anos); Psiquéia, de ψυχή, de onde provém a palavra "psicologia": educação do psiquismo, o conhecimento de si (dos 15 aos 28 anos); Mistéia, de μυστήριον, "mistério", que se tratava do conhecimento dos Deuses (dos 28 aos 40-60 anos). Essas etapas eram necessárias para se tornar um iniciado nas "Escolas do Mistérios". Um terço dos cidadãos da pólis atingia a última etapa, a mais sublime. Eles estudavam os mistérios dos ritmos, chamados de máthimas, resultando daí a matemática (μαθηματικός). Estamos diante da origem da origem etimológica comum das palavras música e matemática. Segundo Viktor Salis, mitólogo grego, a matemática era considerada uma ciência dos Deuses, assim como a música, em grego "musiké téchne" (μουσική τέχνη), a arte ou técnica das Musas. Apolo, o Deus da música, foi quem trouxe os sons primordiais, com a Lira de Sete Cordas (as sete vibrações da alma), que encontramos na tradição hindu como os "Sete Chacras". Pitágoras dizia que a música era o melhor meio para purificarmos a alma. Ele afirmou que “o universo era uma escala ou um número musical cuja própria existência se devia à sua harmonia“. A ele é atribuído a descoberta das leis dos intervalos musicais regulares, ou seja, as relações aritméticas de uma escala musical. Ele também teria criado o monocórdio, um instrumento musical de uma corda, que lhe permitiu investigar e propor uma lei segundo a qual: “a altura do som é inversamente proporcional a extensão da corda“. Ele afirmou também que não só a música, mas todas as harmonias e proporções geométricas que existem na natureza podem ser descritas por relações simples entre números inteiros. Assim sendo, do mesmo modo que a corda da lira gera sons harmônicos conforme seu comprimento, os padrões geométricos do mundo também geram as suas melodias; a música seria a expressão da harmonia da natureza e de suas manifestações. Segundo a lenda, quando Pitágoras ouviu os diferentes sons produzidos pelos martelos de uma oficina de ferreiro, percebeu que os valores dos sons poderiam ser expressos em relações quantitativas, e portanto em valores numéricos e em proporções geométricas. A música instrumental terrena é uma imagem da música das esferas divinas. Para concluir, um pouco de física: Segundo a Teoria das Supercordas, as diferenças topológicas das partículas que formam a matéria são oriundas das diferenças de arranjo de minúsculas cordas - filamentos de energia. A propagação e o surgimento de novas partículas no vácuo são resultados dessas cordas. O mais interessante nisso tudo, é que essas cordas teriam a característica de estar em constante vibração. Como uma corda de violão, que ao ser tocada gera o som de uma nota musical definida, a oscilação das cordas resultaria na manifestação física dos elementos básicos da matéria, ou seja, criando quarks, elétrons, neutrinos e outros. Desta maneira, o que diferenciaria um quark de um elétron, por exemplo, seria tão somente o “tom” como oscila a “corda” que o forma. Assim, podemos imaginar o nosso Universo poeticamente como uma grande sinfonia cósmica repleta de matemática. Desta infinita sinfonia, surgem os sons e toda a vida que conhecemos. Da menor partícula às maiores galáxias, manifesta-se a a incrível magia de uma “música” divina, que pode ser admirada nas batidas ritmadas de cada coração, no pulsar da vida, no arranjo dos elementos que formam o mundo vivo, no som retumbante das ondas do mar quebrando na praia, no suave sussurro das folhas das árvores balançando ao vento e no caminhar incessante dos planetas, estrelas e galáxias pelo espaço sideral. É que Shiva dançou e o Universo se fez.

"Conhece a ti mesmo" é a máxima socrática. É assim, alterando o objeto da Filosofia para o Homem, que Sócrates divide a História do Pensamento em duas partes: antes dele e depois dele.

Sócrates e a Filosofia Ática

Natural de Atenas, Sócrates nasceu em 470 a.C. e morreu em 399 a.C. Com ele nasce a chamada Filosofia Ática. Sócrates funda a filosofia ética.  Observa-se, dessa maneira, que a physis, a origem do mundo, deixa de ser o principal objeto de estudo da filosofia e o homem passa a ser o foco. Sócrates pensa racionalmente nas questões humanas, principalmente nas questões morais. Sócrates era feio, possuía nariz achatado, com narinas largas, e apesar de não lhe faltar recursos, vivia como se não tivesse dinheiro: andava descalço, sujo e mal vestido. Sua figura contrastava com um povo que possuía um forte senso estético, que admirava o belo e as artes.  Em uma época em que os sábios sofistas viajavam por toda a parte ensinando a erística aos jovens de famílias ricas, Sócrates ficava sentado na ágora, no centro de Atenas, atraindo ouvintes e debatedores, com quem mantinha diálogos fecundos e, ao contrário dos sofistas, nada cobrava por isso. Conta-se que o santuário de Delfos havia revelado que não havia homem mais sábio do que Sócrates. Instigado, Sócrates resolve questionar a revelação, pois não se achava o mais sábio dos homens, e passa a investiga-la. Para tanto, vai ter com os mais sábios e afirma: "a única coisa que eu sei é que nada sei". Esta afirmação caracteriza o ponto de partida da desconstrução busca do saber de seu interlocutor, é o início do método Maiêutico de Sócrates. Por meio de perguntas sucessivas e com vistas a uma definição universal de um conceito, Sócrates acaba destruindo o saber de seu interlocutor e nem sempre atinge seu objetivo. Ao empregar a maiêutica, Sócrates também utilizou-se da ironia, o que invariavelmente provocava a ira do interlocutor. Sócrates encanta os jovens atenienses com esse novo tipo de ágon, de disputa transposta à dialética, uma esgrima onde a espada é a razão. Sócrates é tido como a primeira consciência moral da História da Filosofia, pois não se contenta em estudar a ordem cosmológica e tampouco as abstrações sobre o "ser". Em sua obra intitulada Tusculanae, IV, 37, 80, Cícero conta que, certa vez, um estrangeiro olhando para Sócrates disse-lhe: “Sócrates, você é um monstro que esconde no seu íntimo todos os vícios e maus apetites", ao que Sócrates teria respondido: "Conheceis-me, senhor, mas dominei todos eles" . Este domínio de si, esse auto controle sobre os impulsos e as paixões, essa busca pela excelência, são as principais características da filosofia socrática. A busca pela verdade, temperança, lealdade, probidade, coragem, equidade, desprezo pelos valores materiais e a justiça são fulcrais no pensamento socrático. Mas, segundo Sócrates, nenhum conhecimento é possível sem o autoconhecimento "Conhece a ti mesmo" é a máxima socrática. Acusado por corromper os jovens com esse novo tipo de "razão mais fraca" e por não acreditar nos deuses, Sócrates é levado a juízo e é condenado à pena capital.  No decorrer de seu julgamento, Sócrates expõe, então, que é a primeira vez que vem a juízo, que sua linguagem é simples, e que nunca viveu em desonra, que a morte não lhe assusta e que vergonhoso é praticar o mal e dar mais valor às riquezas do que à alma, ou seja, não dar valor ao que possui mais valor, não procurar melhorar a alma. Afirma, ainda, que um homem melhor não sofre danos por um pior, e que pior é ser injusto do que sofrer uma injustiça. Contudo, a luta contra a injustiça é individual. E que sua defesa é constituída pelos atos que praticou durante sua vida. Sócrates negou-se a fugir. Ao beber a cicuta, o gesto de Sócrates pode ser interpretado de várias maneiras, mas não estava em Sócrates descumprir uma decisão judicial, mesmo porque, ainda que injusta, é melhor ser vítima do que autor de uma injustiça. No dia seguinte à sua morte, uma profunda tristeza abateu-se sobre toda Atenas.
Sócrates nunca escreveu um texto. Seu pensamento nos foi transmitido por seu discípulo Platão e também por Xenofonte e pelo escritor de comédias Aristófanes.

Platão (Atenas, (427 /428- 348/347 a.C.) foi um filósofo e matemático do período clássico da Grécia Antiga, autor de diversos diálogos filosóficos e fundador da Academia em Atenas, a primeira instituição de educação superior do mundo ocidental

Platão

De origem nobre, recebeu educação esmerada, mas, aos vinte anos passou a acompanhar as lições de Sócrates. Apesar da origem, o que o levaria para um cargo político, após a morte de Sócrates, Platão abandona aquela carreira para dedicar-se à filosofia. Após viajar pelo Egito, onde teria tomado conhecimento da doutrina monoteísta dos hebreus e pelo sul da Itália, aos quarenta anos, funda a Academia, que dura até 529 d.C., ou seja, quase mil anos. No início, Platão escreveu o pensamento de Sócrates na forma de diálogos. Após ter assimilado de seu mestre essa forma de reflexão, Platão desenvolve a sua própria filosofia, mantendo Sócrates como personagem e porta-voz. O estilo predominante da obra de Platão é o diálogo. Dos vinte e seis diálogos conhecidos, alguns criam embaraços para distinguir o pensamento de Sócrates e o de Platão. Existem, ainda, algumas cartas sendo a Carta VII a mais conhecida delas, através da qual renuncia a vida política por causa da corrupção e do nepotismo. Platão foi o primeiro filósofo a retomar e tentar sistematizar as questões mais importantes da filosofia: o princípio do mundo; o rigor no pensamento; o impasse entre o uno e o múltiplo; e os valores humanos. De seu mestre, Sócrates, Platão herda a briga com os sofistas, a luta contra a injustiça, e a noção de conceito universal. De Parmênides herda a noção de um mudo imutável e eterno. De Heráclito herda a noção de um mundo sensível em permanente transformação. De Pitágoras herda o amor à geometria, o rigor do pensamento exato presente na matemática, assim como a noção de emigração e purificação da alma. No portal de sua Academia manda escrever: "Não entre quem não souber geometria". Isto porque a geometria é pródiga em verdades imutáveis e atingíveis através da razão.
Dando prosseguimento ao processo de conhecimento do real, cria a palavra eidos, ideia em grego, para referir-se à representação intelectual, distinta da percepção do mundo sensível. Para Platão, o mundo das ideias é o único verdadeiro, por uno, atemporal, imaterial, imutável e perfeito. Platão irá sustentar que o mundo dos fenômenos, acessível pelos sentidos, é múltiplo, temporal material, mutável, ilusório e enganador, uma mera cópia do mundo das ideias. O pensamento de Platão perfaz, assim, uma divisão entre o mundo das ideias (inteligível) e o mundo dos fenômenos (sensível).  Para combater os sofistas, Platão desenvolveu o método dialético, que pode ser entendido como um método de encadeamento preciso do raciocínio, sucessivas oposições e superposições de teses, de forma a impossibilitar qualquer refutação, e com a finalidade de se atingir conceitos universais. Através da dialética é possível ascender do mundo sensível para a contemplação do mundo das ideias. No ápice da pirâmide do mundo das ideias, na hierarquia do mundo das ideias, encontra-se a ideia do Supremo Bem, atingível apenas por aqueles que desenvolvem uma pureza de alma através da Filosofia. Em questões políticas, Platão não admitia que o individualismo infectasse o Estado, a noção de coletivo deveria permear o indivíduo. Na obra A República, Platão ataca a democracia ateniense e suas características, a saber: a) a ignorância;  b) o  amadorismo;  c) egoísmo; d) individualismo. Contra o egoísmo e o individualismo, Platão propõe um governo altruísta e a noção de bem comum, presentes em um Estado ideal dividida em três segmentos, cada qual com sua função: filósofos-governantes, Guardiões e Artesões. A ideia de que cada um tenha prazer em bem desempenhar as suas funções e de forma altruísta é fundamental nessa organização social idealizada. A injustiça emerge quando o indivíduo passa a desempenhar funções que não lhe compete.  A obediência do indivíduo às leis do Estado ocorre de forma natural quando não forem constituídas de modo injusto. No diálogo Timeu Platão nos apresenta a sua cosmologia, com a noção de um universo perfeito, eis que elaborado por um arquiteto, um demiurgo que conhece a ideia de perfeição e bem comum.  

Aristóteles nasceu em 384 a.C. e faleceu em 322 a.C., na Estagira.

Aristóteles

Com Aristóteles encerra-se o Período Ático da filosofia, iniciado com Sócrates e continuado por Platão. Aristóteles mudou-se para Atenas onde frequentou a Academia de Platão por duas décadas. Aristóteles chegou a lecionar na Academia de Platão, e esperava suceder o mestre na direção, contudo, em 347 aC, com a morte de Platão quem lhe sucede é Espeusipo, um sobrinho. Descontente, Aristóteles segue Assos, Ásia Menor; ilha de Lesbos e posteriormente Perla, Macedônia. Chamado por Filipe para ser preceptor de seu filho, Alexandre. Ao suceder seu pai no trono, Alexandre torna-se um grande conquistador, unificando a Grécia ao Império Macedônico (inclusive Atenas foi subjugada). Aristóteles ainda é preceptor de Alexandre quando, em 388 a.C. (?) os macedônios derrotam os gregos. É o fim da autonomia das cidades-estados. A partir de então, a Grécia será dominada pelos Macedônios e, posteriormente, pelos Romanos. Com isso as fronteiras e os laços culturais gregos (que os separavam dos bárbaros, sofrem irremediáveis alterações). Em 335 a.C. Aristóteles volta para Atenas, onde funda sua escola, o Liceu. De terras distantes, Alexandre enviava ao mestre exemplares da fauna e da flora que enriqueciam as coleções do Liceu. Após a morte de Alexandre, em 323 a.C., Aristóteles passou a ser hostilizado pela facção ante macedônica, que o considerava suspeito. É acusado de impiedade, mas ao contrário de Sócrates, fugiu para que os Atenienses "não pequem mais uma vez contra a filosofia". Morre desterrado em Cálcis, na Eubéia, em 322 a.C.  Aristóteles apresenta uma vasta obra que foi organizada por Andrônico de Rodes no século I. Aristóteles classificou a ciência em ramos e versou sobre lógica, física, da alma, ética, política, retórica, poética, biologia, e metafísica.  Aristóteles apresenta uma nova versão para a metafísica, para a ontologia e criou e desenvolveu a lógica silogística, ou clássica, reunidas sob o nome de Organon (instrumento).  Em sua cosmologia Aristóteles dividiu o universo em supralunar e sublunar. A região supralunar é onde se situam os corpos celestes, que possuem movimentos circulares perfeitos e eternos; a região supralunar é composta dos quatro elementos, como supunha Empédocles, e se caracteriza pela imperfeição, pelos ciclos de geração e corrupção. Sua concepção cosmológica é teleológica, isto é, finalista: o universo é explicado como um organismo que se desenvolve graças a um mecanismo interior, um mecanismo que se desenvolve (physis). Aristóteles não admitia que o maior pudesse vir do menor, ou que o superior tivesse origem do inferior, ou que a potência conduza ao ato. Um ato sempre desencadeia outro. O mundo supralunar seria finito, em uma sucessão de esferas. O primeiro motor, o ser primeiro, foi posteriormente identificado pelo Tomismo como o Deus cristão.   Para explicar porque as coisas são do jeito que são, e porque mudam, Aristóteles identificou quatro tipos de causas: Causa material - a matéria ou a substância da qual as coisas são feita e que possibilita a ocorrência de mudanças. Causa efetiva – O evento que precede e que remete a um resultado Causa formal – A propulsão interna e essencial que remete a uma mudança Causa final – a finalidade ou o propósito de uma mudança. Em Aristóteles não se encontra uma concepção do acaso, de mudanças sem uma finalidade. Seria interessante ouvir uma conversa entre Aristóteles e Darwin. 

Diógenes da Lanterna (413 a.C. - 327 a.C.)

Diógenes da Lanterna

Diógenes da Lanterna (413 a.C. - 327 a.C.) foi o cínico mais conhecido, sendo clássica a sua figura avessa às convenções sociais. Dizem que morava dentro de um tonel e que carregava uma lamparina acesa em plena luz do dia, procurando um "verdadeiro homem", ou, "Procuro o homem". "...procuro o homem que viva segundo a sua mais autentica essência, procuro o homem que, além de toda exterioridade, de todas as convenções ou de todas as regras impostas pela sociedade, e além do capricho do destino e da fortuna, reencontre a sua natureza genuína, viva em conformidade com ela e assim seja feliz". Interrogado sobre qual seria a coisa mais bela entre os homens, disse: “A liberdade das palavras”. Mas o estudo dos cínicos se justifica na medida em que buscam uma natureza perdida do homem e uma vida em estado de natureza, temas estes, que serão privilegiados no Iluminismo. Mas além disso, o estudo dos cínicos, e mais especificamente Diógenes, revela-se de extrema importância quando observamos que, mesmo em uma Grécia dominada e subjugada pelo império da Macedônia, a luta por uma liberdade irrestrita de pensamento, expressão e ação é uma prioridade. Pelo menos duas passagens ilustram essa defesa pelo direito de livre expressão sustentado por Diógenes: “O estóico Dionisio conta que, depois de Queroneia, foi capturado e conduzido a Filipe. A Filipe que lhe perguntou quem era, replicou: “observador de sua insaciável avidez”. Por este dito conquistou a sua admiração e foi posto em liberdade” (Laércio). O seu encontro com Alexandre também é uma passagem clássica da nossa história. - “Pede-me o que quizeres”, teria dito Alexandre. - “Não me faça sombra. Deixe-me o sol”, teria sido a resposta de Diógenes. A liberdade defendida por Diógenes não se limitava, em absoluto, à palavra, pois seu comportamento refletia o seu pensamento. Existem várias outras passagens sobre a vida de Diógenes e que revelam seu comportamento essencialmente livre e repressões. Diógenes e os demais cínicos lutavam contra a presunção, a avidez; também rechaçavam uma visão romanceada do amor e do mundo (Anaideia). A luta contra as convenções sociais é uma crítica à corrupção da natureza do homem que emerge na vida em sociedade. Posteriormente, a mesma crítica será retomada por Rousseau. O desprezo à busca do prazer também reflete essa mesma crítica. O ideal de felicidade, sob esse prisma, seria uma apathia, onde o indivíduo basta a si mesmo e não tem necessidade de nada.

Epicuro de Samos (341 a.C., Samos — 271 ou 270 a.C., Atenas) foi um filósofo grego do período helenístico. Seu pensamento foi muito difundido em numerosos centros epicuristas que se desenvolveram na Jônia, no Egito e, a partir do século I, em Roma, onde Lucrécio foi seu maior divulgador.

Epicuro

Sobre este filósofo do período Helenístico diz-se que escreveu mais de 400 livros, que filosofava em um jardim e que foi o primeiro a filosofar conversando com escravos e prostitutas. Seu pensamento foi muito difundido em numerosos centros epicuristas que se desenvolveram na Jônia, no Egito e, a partir do século I, em Roma, onde Lucrécio foi seu maior divulgador. A filosofia de Epicuro procurava a felicidade enquanto um estado caracterizado pela afasia, ataraxia e apatia. Epicuro  levou adiante o atomismo de Demócrito. Nesse sentido, ver mais abaixo. 

A Teoria do Átomo e os Epicuristas

A Teoria do Átomo foi recuperada pelo filósofo Epicuro de Samos (341 – 270). Epicuro não era o típico filósofo versado em física, sua filosofia já é do período helenístico, em outras palavras, cerca de dois séculos após a teoria de Leucipo e Demócrito ter surgido, após a era da filosofia clássica em Atenas. O interesse de Epicuro sobre a teoria atomista é “periférico”, segundo Duane Roller em seu artigo intitulado Greek Atomic Theory. Ao procurar a origem do universo, Epicuro teria tomado e reformado a teoria atomista pré-socrática, introduzindo a noção de que os átomos seguiam rotas imprevisíveis. “Os átomos têm uma inconcebível variedade de formas, pois que não poderiam nascer tantas variedades se as suas formas fossem limitadas. E, para cada forma, são absolutamente infinitos os semelhantes, ao passo que as variedades não são absolutamente infinitas, mas simplesmente inconcebíveis.” (EPICURO, Coleção Os Pensadores, 1980, p. 15). “E deve supor-se que os átomos não possuem nenhuma das qualidades dos fenômenos, exceto forma, peso, grandeza e todas as outras que são necessariamente intrínsecas à forma. Porque toda qualidade muda, mas os átomos não mudam, visto que é necessário que na dissolução dos compostos permaneça alguma coisa de sólido e de indissolúvel que faça realizar as mudanças, não o nada ou do nada, mas sim por transposição.” (Idem). “Os átomos encontram-se eternamente em movimento contínuo, e uns se afastam entre si uma grande distância, outros detêm o seu impulso, quando ao se desviarem se entrelaçam com outros ou se encontram envolvidos por átomos enlaçados ao seu redor. Isto o produz a natureza do vazio, que separa cada um deles dos outros, por não ter capacidade de oferecer resistência. Então a solidez própria dos átomos, por causa do choque, lança-os para trás, até que o entrelaçamento não anule os efeitos do choque. E este processo não tem princípio, pois são eternos os átomos e o vazio. (Idem, Ibidem). “Ainda mais, o universo como um todo é infinito, pois tudo o que é limitado possui uma borda externa para limitá-lo. e tal borda é definida por algo além. Visto que o universo não tem uma borda, ele não tem limite; e como não tem limite, é infinito e ilimitado. Além disso, o universo é infinito tanto no número de seus átomos quanto na extensão de seu vazio. (42a) Se, por um lado, o vazio fosse infinito e a matéria finita, os átomos não permaneceriam em nenhum lugar, mas seriam carregados e dispersos através do vazio infinito, uma vez que não haveria átomos de fora para sustentá-los e mantê-los juntos, golpeando-os. Se, por outro lado, o vazio fosse finito, não haveria lugar para um número infinito de átomos. (EPICURO, Carta a Heródoto). A argumentação dedutiva de Epicuro se sustenta de forma que um universo infinito com uma quantidade infinita de átomos faz mais sentido do que aquela concebia por Leucipo e Demócrito. Surge com Epicuro o afastamento do mecanicismo absoluto do átomo, e, por conseguinte o surgimento de uma noção de acaso, ou a inserção de uma certa liberdade do átomo, que tudo formam em combinações ou separações. 

Tito Lucrécio Caro (c. 94 a.C. – c. 50 a.C.) foi um poeta e filósofo romano. Seu único trabalho conhecido é o poema filosófico De Rerum Natura, obra sobre os princípios e a filosofia do epicurismo.

Lucrécio

É provável Lucrécio que tenha nascido em Roma, onde foi educado. Conhecido pela sua obra De Rerum Natura (Sobre a natureza das coisas), expõe a filosofia atomista de Epicuro de Samos. Segundo  São Jerônimo (Patrística), Lucrécio matou-se aos 44 anos de idade  após ataques de loucura, contudo as circunstâncias da vida e da morte de Lucrécio são desconhecidas. Sobre a Natureza das Coisas  foi estudada durante a Idade Média apenas para ser contestada pelos representantes da Patrística e da Escolástica.

Lúcio Aneu Sêneca  (Córdoba, ca. 4 a.C. — Roma, 65) foi um filósofo estoico e um dos mais célebres advogados, escritores e intelectuais do Império Romano. Sua obra literária e filosófica, tida como modelo do pensador estoico durante o Renascimento, inspirou o desenvolvimento da tragédia na dramaturgia europeia renascentista.

Sêneca

20 Frases de Sêneca

1. É errado acreditar em todo mundo, mas também é errado quando não se acredita em ninguém. 
2. Os desgostos da vida ensinam a arte do silêncio.
3. É preciso dizer a verdade apenas a quem está disposto a ouvi-la. Sêneca
4. A maldade bebe a maior parte do veneno que produz.
5. Alguns são considerados grandes porque lhes mediram também o pedestal.
6. Apressa-te a viver bem e pensa que cada dia é, por si só, uma vida.
7. Os progressos obtidos por meio do ensino são lentos; já os obtidos por meio de exemplos são mais imediatos e eficazes.
8. Devem ser evitados os tristes que de tudo se queixam.
9. Deixarás de temer quando deixares de ter esperança.
10. Quando se navega sem destino, nenhum vento é favorável.
11. Devemos ir buscar a coragem ao nosso próprio desespero. Sêneca; 
12. Evitamos a inveja se guardarmos as alegrias para nós próprios.
13. Podes conhecer o espírito de qualquer pessoa, se observares como ela se comporta ao elogiar e receber elogios.
14.Ensinando, aprende-se.
15. Pobre não é aquele que tem pouco, mas antes aquele que muito deseja.
16. Existe muita diferença entre uma vida tranquila e uma vida ociosa.
17. Quem acolhe um benefício com gratidão, paga a primeira prestação da sua dívida.
18. Ninguém se preocupa em ter uma vida virtuosa, mas apenas com quanto tempo poderá viver. Todos podem viver bem, ninguém tem o poder de viver muito.
19. O tempo revela a verdade.
20. Do mal não pode nascer o bem, assim como um figo não nasce de uma oliveira: o fruto corresponde à semente. Sêneca

Hipátia ou Hipácia (Alexandria, c. 351/370 – Alexandria, 415) foi uma filósofa grega neoplatônica  e como chefe da escola platônica em Alexandria, também lecionou filosofia e astronomia

Hipátia

Como neoplatonista, Hipátia pertencia à tradição matemática da Academia de Atenas, representada por Eudoxo de Cnido e era da escola intelectual do pensador Plotino, que a incentivou a estudar Lógica e Matemática, no lugar de se dedicar à investigação empírica, e a estudar Direito, em vez de ciências da natureza. De acordo com a única fonte contemporânea, Hipátia foi assassinada por uma multidão de cristãos depois de ser acusada de exacerbar um conflito entre duas figuras proeminentes em Alexandria: o governador Orestes e o bispo de Alexandria, Cirilo de Alexandria. O  assassinato de Hipátia marcou o fim da Antiguidade Clássica,  o seu assassinato marca a queda da vida intelectual em Alexandria. Outros sustentam que a filosofia helenística continuou a florescer nos séculos V e VI, e, talvez, até a era de Justiniano.

O Átomo na Idade Média

 Com a morte de Jesus de Nazaré, surgem os Padres Apostólicos e em seguida os Padres Apologéticos, que fundariam as bases das religiões cristãs. Por volta dos Sécs. IV e V, Roma é saqueada, e o Império Romano do Ocidente chega a um fim. De igual maneira é destruída a cidade de Alexandria e sua biblioteca, até então centro cultural e intelectual do mundo. Cabe mencionar o assassinato da filósofa, astrônoma e matemática Hipátia de Alexandria em 415. Com isso perde-se o pensamento filosófico-científico greco-romano que marcou toda uma era e surge um outro tipo de pensamento: o filosófico-religioso, de judaico-cristã. O pensamento filosófico-religioso predominará por toda a Idade Média ocidental. As principais características desse pensamento são: a filosofia passa a ser uma serva da teologia, em evidente hierarquia da fé sobre a razão. São raros os pensadores com um perfil filosófico-científico. Se nos concentrarmos na filosofia latina ocidental, parece que a teoria do atomismo é discutida pelos filósofos da Patrística e da Escolástica apenas para ser criticada e refutada e o melhor exemplo disso é o poema de Lucrécio foi copiado. O mesmo ocorreu com a doutrina de Epicuro, cujo obras eram parcialmente conhecidas através de uma longa cadeia de fontes intermediárias (Cícero, Lactantius, São Jerônimo, Santo Ambrósio, Santo Agostinho). Assim, por um longo período, os antigos atomistas não foram discutidos por suas teorias da matéria como tal, mas sim pelas consequências teológicas de seus pontos de vista, pois fragilizavam a crença no Divino, da Divina Providência, a impassibilidade de Deus e a eternidade do mundo, entre outras crenças. Os caminhos pelos quais a filosofia atomista passou são tortuosos, no século XII encontramos nas obras do filósofo escolástico e francês Guilherme de Conches (1009 – 1154), notadamente em seu Dragmaticon philosophiae, onde ele cita passagens do De natura rerum de Lucrécio. Lá encontra-se uma inclinação para o estudo das ciências naturais, incluindo um tipo de atomismo misturado com a doutrina clássica dos quatro elementos. Destaca-se o movimento intelectual inglês, oriundo da então emergente Universidade de Oxford, no Século XIII, e em especial o pensamento de Robert Grosseteste (1168 – 1253) e de Roger Bacon (1220 – 1292).

Tertuliano Quinto Sétimo Florêncio Tertuliano nasceu em Cartágo entre 150 e 160.

Tertuliano
"Creio porque é absurdo"

No início de sua vida, Tertuliano escarnecia dos cristãos e vivia de forma desregrada. Era casado e não consta que tenha se tornado sacerdote. Em 205 funda a sua própria seita, os Tertulianistas, a qual veio a ser conciliada à Igreja, posteriormente, por obra de Agostinho, quando este tornou-se bispo. Tertuliano era fogoso e colérico, apoplético, possuía uma fantasia ardente e formou-se em jurisprudência, mas acabou trocando a toga do tribuno pelo manto do filósofo. Possuía pleno domínio do latim e cunhou várias expressões e conceitos que até hoje são utilizados pela teologia: “Um Deus em três pessoas”; “trinitas”. A sua linguagem é a que mais profundamente influenciou o latim eclesiástico. Suas obras visavam convencer as autoridades romanas a desistirem das perseguições dos cristãos. Alegava que os cristãos sempre se portaram como bons cidadãos, muito embora se recusassem a fazer sacrifícios. Tertuliano era um adversário da filosofia grega e alegava que devido ao fascínio e à sedução que possuia, esta dava causas às heresias. Sustentava algumas teses que devem ser consideradas, ainda que superficialmente: a) no seio do cristianismo não há lugar para a filosofia. A verdade cristão pode ser revelada pela fé e até mesmo aos iletrados. Daí a falta de necessidade da filosofia; b) para os cristãos a filosofia é supérflua e perigosa; c) a fé e a razão se contradizem; d) sustentava, em favor da Igreja, a tese de prescrição, pouco explanada, mas que pode ser resumida da seguinte maneira: Por tradição cabia à Igreja o direito de interpretar a Escritura e a verdade cristã. Os gnósticos não possuiam esse mesmo direito, pois eram escolas recentes. Dizia sobre a filosofia grega: “Eis as doutrinas de homens e demônios, nascidas do engenho da sabedoria mundana para encantar ouvidos”. No que se referia à perseguição dos cristãos, descreveu o dia do juízo final, fruto de uma justiça divina: “Mas restam outros espetáculos, aquele último e perpétuo dia não esperado pelos povos, dia escarnecido, quando tamanha antigüidade do mundo e tantas gerações serão consumidas num só fofo. Quão vasto será então o espetáculo! Como admirarei! Como rirei! Lá me alegrarei! Lá exultarei, vendo tantos e tão grandes reis, de quem se dizia estarem no céu, gemendo nas , mais fundas trevas, junto do próprio Júpiter e testemunhas. Do mesmo modo os líderes, perseguidores do nome do Senhor, derretendo-se em chamas mais cruéis do que aquelas com que maltrataram os cristãos! E também aqueles sábios filósofos, que diante dos seus discípulos tornaram-se rubros ao se consumirem no fogo, juntamente com eles, a quem persuadiram que nada toca a Deus, a quem asseguraram que as almas ou não existem ou não retornarão aos corpos antigos! Os poetas também, a tremer, não diante do tribunal de Radamanto ou de Minos, mas daquele do Cristo inesperado! Então se escutará melhor os trágicos, a saber, melhor serão ouvidas as suas vozes em sua própria desgraça; então serão conhecidos os histriões, mais desenvoltos no fogo, então se verá a auriga, todo rubro no carro flamejante, então se contemplarão os atletas, não no ginásio, mas no fogo lançando seus dardos, a não ser que nem então os queira visitados, e antes prefira dirigir um olhar insaciável àqueles que maltrataram o Senhor: “Eis”, direi, “o filho do artesão e da prostituta, o destruidor do Sábado, o Samaritano, o que tem o demônio. Eis aquele que foi golpeado com a vara e com bofetadas, que foi humilhado com escarros, a quem foi dado de beber fel e vinagre. Eis aquele que os discípulos roubaram às escondidas, para que se dissesse que havia ressuscitado, ou aquele aquele a quem o artesão arrastou, para que suas alfaces não fossem machucadas pelo grande número de passantes.” Tais visões, tais alegrias, que pretor, ou cônsul, ou questor, ou sacerdote, te poderia oferecê-las, da sua própria generosidade? E no entanto, de certo modo já as possuíamos mediante a fé, representadas no espírito que imagina. De resto, como são aquelas coisas que nem o olho viu, nem o ouvido ouviu, nem subiram ao coração do homem? (1, Cor. 2,9) Creio que são mais agradáveis que o circo, que ambos os teatros, e todos os estádios.” Essa noção de uma justiça divina estará presente ao longo desses séculos que constituem a Idade Média.

Dentro da Patrística salienta-se a figura de Santo Agostinho, nascido em Cartago, norte da África em 13.11. 354 e falecido em 28.8.430.

Santo Agostinho 
"Compreender para crer, crer para compreender"

Agostinho educou-se me Cartago, onde tornou-se professor de retórica. Adepto ao maniqueísmo, seita fundada pelo persa Maní 215-276. Posteriormente, mudou-se para Roma e depois para Milão. Teria despertado para a filosofia após ter lido a obra Hortensius de Cícero, hoje perdida. Ouvindo as pregações de Ambrósio, em Milão, começou a conhecer melhor as ideias neoplatônicas, e a doutrina de Plotino acerca do nous (conhecimento). E o evangelho de João. Utilizou-se da filosofia para meditações profundas. Converteu-se ao cristianismo em 386. Agostinho levou uma vida errante até os trinta e cinco anos de idade; sentado em um banco, soluçando as mazelas da vida, uma menina lhe aparece e estende-lhe uma Bíblia. Com esta revelação inicia-se sua vida de pensador, que passa do maniqueísmo à doutrina cristã. Nomeado bispo, combate as seitas heréticas e abre caminho para escolástica. O ensejo para a redação de A Cidade de Deus foi a queda de Roma para Olarico. Os dez livros da primeira parte é uma apologia do cristianismo contra os ataques daqueles que diziam que Roma e o império caíram por causa da nova seita e dos cristãos. Também é um livro de história da filosofia, onde hábitos pagãos são colocados em comparação com o cristianismo. Agostinho efetua várias adaptações da doutrina platônica com a fé cristã. Tal qual o Uno de Plotino, para Agostinho Deus é o transcendente absoluto, indizível; nada pode ser comparado à perfeição divina. Por outro lado, se Tertuliano (155-220) afirmava que "Creio por que é absurdo", Agostinho afirmava "Compreender para crer, crer para compreender". Nota-se a diferença na abordagem, onde o primeiro dá primazia ao absurdo da fé, como dizia Paulo, e o segundo já procura conciliá-la com a razão. Na doutrina de Agostinho, Deus é o fundamento e o princípio de todas as coisas. A razão e a vontade divinas são homogêneas. Agostinho tenta restaurar a confiança na razão através da fé. Ao contrário dos homens que são perecíveis e mutáveis, a fé é eterna e imutável. A verdade, por sua vez, é assegurada por Deus que se situa acima dos homens, Isto porque Deus é o criador de todas as coisas existem; coisas criadas segundo uma ordem semelhante à da trindade. Em sua busca e questionamento teológico, Agostinho acaba desenvolvendo uma teoria do conhecimento, chamada de teoria do Lume Sagrado, segundo a qual o conhecimento humano só é possível porque o homem recebe de Deus parte do conhecimento divino e das verdades eternas. A teoria do conhecimento de Santo Agostinho é desenvolvida a partir do questionamento teológico que ele realiza e apresenta pelo menos três aspectos básicos: a) o conhecimento é possível aos bem-aventurados; b) estes poderão conhecer uma coisa em outra, por possuírem Luz semelhante à luz dada pelas razões eternas de deus; c) O conhecimento se dá por semelhança entre a luz interior do homem e a luz divina. O lume existente no homem não é senão uma semelhança participada do lume incriado. Somente alguns poucos bem aventurados podem conhecer e atingir o inteligível. Existe uma ligação entre a alma humana e as razões eternas de Deus. Nota-se, aqui, a influência platônica na medida em que Agostinho a) afasta os sentidos como meio de cognição e b) utiliza uma idéia absoluta. Existe, portanto, uma ligação entre a alma humana e as razões eternas de Deus. Mas mesmo através do espírito não podemos ver Deus. Isto por que Deus é perfeito e imutável e o espírito humano erra, é mutável, se engana, ora quer e ora não quer. A doutrina de Agostinho é o elo de transição entre os pensamentos grego e medieval. Para Agostinho, a verdadeira justiça interior não adota o costume como parâmetro, mas sim a lei divina, fonte legítima do costume. A Justiça seria uma virtude e também a essência do direito. Na doutrina de Agostinho, Deus é o fundamento e o princípio de todas as coisas, o que refletirá, necessariamente, na noção de direito natural, por ele apresentada. Segundo Agostinho a lei divina é universal e imutável. Os costumes podem variar de acordo com a razão, o tempo e o lugar. A lei humana, ou terrena, seria a própria lei eterna adaptada pelo legislador à realidade concreta. O direito positivo se fundamentaria, em último grau, na lei eterna, que é a de Deus. A lei terrena está subordinada à lei divina. A lei divina era uma determinação para a conservação da ordem natural e o consequente impedimento de sua violação. Uma vez que em Deus tudo é perfeito, razão e vontade divinas são uma única coisa. Lei Eterna = universal e imutável, inacessível diretamente ao conhecimento humano, exceto por intermédio da Lei Natural. Lei Natural = seria um reflexo da Lei Eterna e, a exemplo de Paulo, estaria inscrita no coração dos homens. Lei Humana, ou Terrena = é aquela adaptada pelo legislador à realidade concreta. A causa final da Lei Humana seria a ordem, definida como a "disposição de coisas iguais e desiguais, dando-se a cada uma o lugar que lhe corresponde". Em suas reflexões sobre o Estado, Agostinho revela que a sociedade humana, antes do pecado original, passara por uma fase de esplendor, quando os homens eram iguais, imortais e viviam como irmãos. Era a Cidade de Deus. Após o pecado original, surge a Cidade Terrena com seus sofrimentos, morte e paixões. Em adaptação à nova condição humana, foram criados o Estado, o Direito e suas instituições. O papel do Estado era prover a paz, na ordem, possível somente onde existe justiça.. O Estado, por sua vez, deve estar subordinado à Igreja, assim como a lei terrena está subordinada à lei divina.

A questão que se impõe é quem, nos dias de hoje, escreveria uma autobiografia sem pular alguns capítulos? No trecho abaixo, extraído se suas Confissões, Agostinho se desnuda perante Deus - e o leitor.

Santo Agostinho II

Meu Deus, a Vós o confesso, a Vós que de mim Vos compadecestes quando ainda Vos não conhecia, quando Vos buscava não segundo a compreensão da inteligência, mas segundo o raciocínio da carne. Vós, porém, éreis mais íntimo que o meu próprio íntimo e mais sublime que o ápice do meu ser! Encontrei aquela mulher audaz e desprovida de prudência, enigma de Salomão, assentada à porta numa cadeira, a dizer: "Comei à vontade o pão tomado às escondidas e bebei a doçura da água roubada". Ela me seduziu, porque me encontrou fora de mim, a habitar nos olhos da minha carne e a ruminar o que por eles tinha devorado

Robert Grosseteste (Stradbroke, 1168 − Buckden, 1253) foi um político, filósofo escolástico, teólogo, cientista e bispo de Lincoln. Foi apelidado de Grosseteste pela sua extraordinária capacidade intelectual (Grosse = grande + teste = cabeça).

Roberto Grosseteste

Grosseteste é o fundador da escola Franciscana de Oxford, seu primeiro diretor, e foi o primeiro escolástico a entender plenamente a visão Aristotélica do caminho duplo para o pensamento científico: generalizar  a partir de observações particulares até desenvolver uma lei universal; e depois fazer o caminho inverso: partir de leis universais para a previsão de situações particulares. Grosseteste chamou isso de método da resolução e composição. Seu conhecimento dos textos de Aristóteles o estimulou a especular e escrever sobre a metodologia da pesquisa científica. Para ele, a ciência começava com a experiência dos fenômenos pelos homens, e a sua finalidade seria encontrar as causas desses fenômenos. Pelo seu método, o primeiro passo era tentar descobrir as possíveis causas para os fenômenos vividos - os agentes causais -, o próximo passo seria separar o agente causal em seus princípios componentes. Depois, com base numa hipótese, o fenômeno observado deveria ser reconstruído a partir de seus princípios. Finalmente a própria hipótese deveria ser testada e validada, ou não, pela observação. Esse procedimento continha a base essencial de toda a ciência experimental por vir, sendo, nesse sentido, o precursor do método científico. 
Grosseteste inicialmente escreveu textos em latim e francês, inclusive o chamado Chasteua d'amour, poema alegórico sobre a criação do mundo e a redenção cristã, bem como vários outros poemas e textos sobre administração doméstica e etiqueta. Ele também escreveu trabalhos teológicos, como o influente "Hexamerão" escrito em torno de 1230.
Conforme o já exposto acima, Grosseteste é conhecido como um pensador original principalmente pelos seus textos relacionados ao que hoje chamamos ciência e filosofia da ciência

Roger Bacon OFM, (Ilchester, Somerset, 1214 — Oxford, 1294), também conhecido como Doctor Mirabilis  foi um Padre e filósofo inglês que enfatizou o empirismo e ao uso da matemática no estudo da natureza. Estudou nas universidades de Oxford e Paris. Contribuiu em áreas importantes como a Mecânica, a Filosofia, a Geografia e principalmente a Óptica.

Roger Bacon

Se Roberto Grosseteste é considerado o iniciador o naturalismo filosófico de Oxford, seu principal representante foi seu aluno, Roger Bacon (1220 – 1292). Roger Bacon (1220 – 1292), também conhecido como Doctor Mirabilis (Doutor Admirável) teve uma educação privilegiada desde a sua infância, tendo estudado geometria, aritmética, música e astronomia. Aos 13 anos Bacon ingressa em Oxford sob a orientação de Robert Grosseteste e depois vai para Paris, onde se tornou mestre em Teologia, posteriormente, por volta de 1252, volta para Oxford. Para Bacon o uso da lógica e da observação não era suficientes para a Filosofia, que englobava aa Ciências Naturais, era necessário o experimento combinado com o uso da matemática. Estudioso da física, Bacon dá continuidade a diversos estudos de Grosseteste, dentre estes o estudo em ótica, especificamente sobre a reflexão e refração da luz. Também as lentes e as propriedades das lentes convexas, antevendo a criação dos óculos, telescópios, microscópios e também da alquimia (que mais tarde viria a se transformar em química). Roger Bacon também intuiu o coisas como o voo, a circum-navegação do globo, a propulsão mecânica entre outras. Nas palavras de Bacon: “com os recursos e erupções do engenho humano (…) pode-se construir meios para navegar sem remadores, de modo que naves imensas (…), com um só timoneiro, andem em velocidade maior do que se fossem movidas por uma multidão de remadores. Pode-se construir carros que andem sem cavalos (…). E é possível também construir máquinas para voar; (… e) um instrumento de pequena dimensões, mas em condições de erguer e abaixar pesos de grandeza quase infinita. (…) Também não seria difícil construir um instrumento pelo qual um só homem poderia puxar violentamente para si mil homens (…). Da mesma forma, é possível construir instrumentos para caminhar nos rios e no mar até tocar no seu fundo, sem acarretar perigos para o corpo. Alexandre Magno deve ter usado instrumentos desse tipo para explorar o fundo marinho, como foi relatado pelo astrônomo Ético.” Bacon afirma que tais instrumentos foram feitos na antiguidade e eram feitos “até hoje”, com exceção da máquina de voar. Bacon cita mais instrumentos, dentre os quais “pontes lançadas para o outro lado do rio”. (REALE, G. História da Filosofia, Vo. II, p. 275). Vale a pena lembrar que o pensamento de Roger Bacon é contemporâneo à Escolástica, Bacon pode acompanhar a plena consolidação do pensamento de Tomás de Aquino (1225 – 1274). O Renascimento emergiria no século seguinte e a Reforma Protestante anglicana e sua ruptura com a Igreja Católica, só seria levada a cabo na Inglaterra pelo Rei Henrique VIII, no Século XVI. Com a figura monumental para a Igreja representada por São Tomás de Aquino atinge-se o apogeu da filosofia Aristotélica, e com ela as duas teses que dominaram toda a Cosmologia da época: a finalidade interna de todos os seres e a composição dos corpos de matéria é de uma só forma substancial, mantendo-se corrente as teorias dos quatro elementos, dos lugares naturais e da incorruptibilidade dos astros. Para Bacon apenas as observações e a lógica não seriam suficientes para o avanço do conhecimento, este dependeria mais de experimentações científicas e de perguntas melhores do que de respostas ruins. Para tanto, seria necessário que os experimentos fossem realizados com um método científico, através do qual observa-se um fenômeno, levanta-se uma hipótese, efetua-se experimentos, e tira-se as conclusões. Por questões hierárquicas, Bacon enviou seus pensamentos para Roma e é acusado de heresia. Bacon foi julgado e condenado a passar 14 anos encarcerado. Esse tempo não é de todo perdido, pois é no cárcere que Bacon escreve a sua maior obra Opus Majus, que abordava teologia, filosofia, ciência, cartografia, óptica, matemática e avanços tecnológicos. Além das contribuições de Bacon para a o método científico, destaca-se o argumento de que existem quatro causas principais para os erros em ciência: 1). autoridades não merecedoras de respeito; 2). costumes e tradições ultrapassadas; 3). a opinião da massa ignorante; 4). e o disfarce da ignorância em aparentes demonstrações de sabedoria. Sua insistência no valor dos experimentos como meio para arbitrar as disputas filosóficas abriu caminho para o empirismo inglês e para a construção da ciência moderna, já que colocou a natureza dos fenômenos físicos fora do domínio mental de forma taxativa. Embora essa ruptura metodológica tenha sido fundamental para preparar o terreno para o avanço da física, não parece que o franciscanos tiveram alguma preocupação científica com a natureza da matéria até a Alta Idade Média. O pensamento de Roger Bacon marca um princípio de ruptura metodológica com a tradição aristotélica de preferir a dedução lógica à comprovação experimental. A ruptura completa demoraria a ocorrer – se é que já ocorreu.  

William of Ockham ou Guilherme de Ockham como é mais conhecido no Brasil, nasceu no condado de Surrey, na Inglaterra, no ano de 1285 e faleceu em Munique, Alemanha, no ano de 1349. Seguindo a tradição do movimento intelectual inglês surgido em Oxford

Guilherme de Ockham

Guilherme de Ockham é considerado o último dos escolásticos. Em 1280, com cerca de 20 anos de idade, Guilherme de Ockhan ingressa na Ordem Franciscana e também na Universidade de Oxford. Por causa de vários pontos em seus escritos, Ockhan é denunciado por heresia Papa pelo ex-chanceler da universidade. Convocado para responder as acusações, Ockhan transfere-se para o convento franciscano de Avignon. Após três anos de apreciações, Ockhan é julgado herético pelo próprio Papa. Por se alinhar de forma intransigente à questão da pobreza, característica da própria Ordem Franciscana, e novos conflitos com o Papa João XXII, dominicano, para evitar maiores sanções, Ockhan consegue abrigo junto a Ludovico da Baviera. Vitimado pela epidemia de cólera, Ockhan falece em 1349. Observa-se que Guilherme de Ockhan viveu em precioso período histórico do pensamento ocidental, entre o final de Idade Média e início de Renascimento. Dentre as questões que o colocaram em risco, podemos destacar: a) Ockhan se opõe à Teocracia, e a teoria da infalibilidade do papa; b) declara o Papa João XXII o seu inimigo; c) refuta os ensinamentos de Tomás de Aquino baseados em Aristóteles; d) propõe um distanciamento radical entre Fé e Razão; e) apresenta um método próprio de se fazer ciência. Naquele final de Idade Média, a Escolástica ainda preponderava, assim como a hierarquia das leis: a Lei Divina, que só Deus conhece; a Lei Natural, que é um reflexo racional da Lei Divina; a Lei Revelada na Bíblia; e a Lei dos Homens, feitas para o convívio em sociedade. Contudo, Ockhan aproveita-se dessa rígida hierarquia, iniciada na Patrística e consagrada por Tomás de Aquino também chamado de Doctoris Angelici, para através dela fazer um corte ontológico e epistemológico onde menos se esperava: entre a Lei Divina e a Lei Natural. Com base nessa divisão Ockhan sustenta que Deus é de tal modo onipotente que deve ser objeto de fé e sua existência não precisa ser provada racionalmente. Todos as questões teológicas são artigos de fé e não precisam ser provadas. A razão deve servir a Filosofia (Ciência) que tem por objeto as leis naturais. Nas palavras de Ockhan: “os artigos de fé não são princípios de demonstração nem conclusões, e nem mesmo prováveis, já que parecem falsos para todos, ou para a maioria ou para os sábios, entendendo por sábios, os que se entregam à razão natural, já que só de tal modo se entende o sábio na ciência na filosofia” REALE, G. História da Filosofia, Vo. II, p. 299). Em outras palavras, Ockhan efetua um corte epistemológico tão profundo, que rompe com a tradição tomista, separa a Fé da Razão e possibilita o surgimento de uma epistemologia fundamentada na experiência, iniciada pelos sentidos humanos e elaborada através da abstração. Quanto ao uso da razão nas ciências, a ruptura com a tradição milenar da metafísica ocidental é enorme, basta dizer que das dez categorias aristotélicas, Ockhan afasta oito e mantem apenas duas: Qualidade e Acidentes. Da Teoria das Quatro Causas de Aristóteles, Ockhan afasta a Causa Eficiente e a Causa Final. Em breve síntese o pensamento de Ockhan pode assim ser exposto: Autonomia de Fé e Razão: as verdades de fé não são evidentes por si mesmas, nem são demonstráveis e nem aparecem como prováveis, portando são estranhas ao conhecimento racional. O conhecimento é individual: a ciência ocupa-se apenas dos entes individuais e não dos universais; o primado do indivíduo implica o primado da experiência. O conhecimento é subdividido: o conhecimento divide-se em (a) complexo (relativo a proposições compostas de termos) e Não complexo (relativo aos termos singulares) Os não complexos subdividem-se em (a) intuitivo (capta a existência dos objetos pelos sentidos) e (b) abstrato (que baseia-se no intuitivo). Os Universais não são mais do que sinais abreviativos: A realidade inteira é individual. O mundo passa a ser concebido como um conjunto de elementos individuais, sem laços entre si e não ordenáveis em termos de essência. Os Universais são apenas termos convencionados para indicar para indicar a repetição de múltiplos conhecimentos semelhantes. A Navalha de Ockhan: A Navalha de Ockhan surge como metáfora para a proposta de seu procedimento intelectual. Nas palavras de Ockhan: “Não se deve multiplicar os entes se não for necessário.” Em outras palavras, quanto mais simples a teoria, mais próxima da realidade”, maior a probabilidade de ser o verdadeiro fundamento ontológico de um objeto ou de um fenômeno. Uma Nova Lógica: a prevalência dada ao indivíduo, tanto em lógica como em metafísica permitem a separação lógica da realidade e elaborar uma nova lógica, fundamentada sobre uma sintaxe mais rigorosa e sobre uma maior clareza na definição dos termos, em relação à realidade designada. É como se Ockhan tivesse afastado o imaterial do material, destacando este último conjunto, dos objetos materiais e individualizados, como objeto da Razão (da ciência). O universo é assim fragmentado em inúmeros indivíduos isolados mas passíveis de estudo. Qualquer tentativa de universalização é afastada e o pensamento de Ockhan é categorizado como Nominalista. Ockhan iniciava suas preleções apresentando a filosofia natural de Aristóteles, citando o livro a Física. Chamava Aristóteles de O Filósofo, seguindo, assim, o hábito escolástico, mas apenas para romper com este. Ockhan é o cristão crítico do cristianismo, o herético denunciado e condenado mas que libera a razão da fé, o aluno que que teve seus estudos acadêmicos interrompidos, o Venerabilis Inceptor que praticamente destruiu o pensamento do mestre Doctoris Angelici. Possibilitando a libertação da razão da fé Ockhan dá continuidade ao movimento do empirismo inglês, mas isso foi só o começo de uma longa tradição que perdura até os dias de hoje.     

São Tomás de Aquino nasceu em Aquino, no reino da Sicília, no ano de 1225 e faleceu em 1274

Tomás de Aquino

São Tomás de Aquino era de origem nobre e aos cinco anos seu pai o ofereceu como oblato (uma espécie de aspirante à vida monástica) à abadia do Monte Cassino. Estudou nas Universidades de Nápoles, e por volta de 1244 Tomás ingressou na Ordem dos Dominicanos, o que não agradou a família. A família tentou de tudo para demovê-lo, até mesmo o recurso de sedução por uma bela mulher. Posteriormente, Tomás segue para a Universidade de Paris que se encontrava sob forte influência do aristotelismo, introduzido por São Alberto Magno (1193-1280).  Por ser muito quieto, alto e gordo,  foi apelidado de "O Boi Mudo da Sicília". Existem várias anedotas sobre Tomás de Aquino, sobre sua mesa, e sua boa fé.  Caminhando com seu fiel secretário Reginaldo, bateu com a cabeça num tronco de árvore e entrou em coma. Um pouco antes de morrer saiu da coma e disse ter tido uma revelação divina, que tudo o que tinha escrito era “palha”. Em seguida faleceu. Em 1323 foi canonizado.

São Tomás foi um teólogo filosofante e isso é bem diferente de ser um filósofo. Alguns estudiosos não chegam a considerá-lo um filósofo, uma vez que não era seu interesse encontrar verdade alguma, mas simplesmente fundamentar a sua fé. Como era de hábito nesta época, onde a razão e a fé entram em desacordo, é sempre a razão que está equivocada. São Tomás de Aquino também sintetiza o pensamento aristotélico, que até então era visto com desconfiança.

Desenvolve o pensamento aristotélico-tomista, escrevendo a Suma Contra os Gentios e, posteriormente, a Suma Teológica. São Tomás passou grande parte de seu tempo mostrando que o pensamento aristotélico, ou as verdades da razão natural, não contradiziam as verdades da fé cristã. Tomás recusa a doutrina de Agostinho de que o intelecto humano só consegue ter um conhecimento correto por um contato com as razões eternas existentes no intelecto divino. Além disso, traça o limite entre fé e razão. A fé deve limitar-se aos mistérios divinos, enquanto que a razão deve abranger o domínio do ser, e em primeiro lugar, do mundo sensível.

São Tomás concorda com Aristóteles, para quem o conhecimento começa com os sentidos, e que a partir da sensação, o intelecto abstrai a individualidade das coisas, criando, assim, as formas. Não obstante, a filosofia devia subordinar-se à revelação, que é critério de verdade. 

Nicolau de Cusa (1401 – 1464) é considerado um dos maiores gênios especulativos do Quatrocento. Nascido na atual Tries, Alemanha, é considerado italiano por causa da sua formação em Pádua.

Nicolau de Cusa

Nicolau de Cusa . Ordenou-se sacerdote em 1426, Cardeal em 1448 e morreu em 1464. Diversos historiadores o considera como o filósofo que encerra a Idade Média criando uma ponte para o renascimento. Nicolau de Cusa se forma com base nas correntes formadas a partir do pensamento de William de Ockham e também influenciado pela mística de Mestre Eckhart. Porém as principais características de seu pensamento é o predomínio do Neoplatonismo, especificamente pela formulação dada pelo Pseudo-Dionísio, para fins de interesses teológicos e religiosos. Em seu pensamento Nicolau de Cusa utiliza métodos extraídos da matemáticos de forma bastante original ao qual ele denomina de docta ignorantia. A douta ignorância consiste na a) Consciência da desproporção entre a mente humana, que é finita, como a mente de Deus, que é infinita. Quando se busca a verdade acerca das coisas, é comum que o homem efetue analogias ou aproxime o desconhecido daquilo que lhe conhecido. Procedemos comparando e estabelecendo proporções entre o objeto desconhecido e o aquilo que o sujeito conhece como pressupostos certos. Ao efetuar isso, em relação à infinitude de Deus, o homem descobrirá a desproporção existente entre sujeito e objeto. b) Considerando os limites da mente humana, o nosso intelecto, está para verdade assim um polígono está para o círculo. Nas palavras dele: “O intelecto...que não é a verdade, não pode compreender nunca a verdade de modo preciso, não podendo portanto compreende-la ainda mais precisamente ao infinito, porque está para a verdade assim como o polígono está para o círculo. Quanto mais ângulo estiver o polígono, tanto mais será semelhante ao círculo; entretanto, jamais será igual a ele, ainda que multipliquemos seus ângulos ao infinito, já que nunca se chegará à identidade com o círculo.” O infinito transcende toda proporção e comparação que o homem faz, o infinito permanecerá incognoscível. c) A verdade é, portanto, inatingível pois existe uma desproporção entre a finita mente humana e o infinito. Uma vez consciente de suas limitações cognoscíveis, o homem passa a ter uma douta ignorância. Este é o ponto máximo que aquele que busca o saber pode atingir: a consciência de sua ignorância. E tanto mais será douto, quanto mais conhecer sua ignorância. d) O homem não passa de um microcosmo e isso em dois níveis: em nível ontológico geral, pois contrai as realidades superiores, médias e inferiores, assim como em si mesmo todas as coisas; e, em nível ontológico especial e gnóstico, pois sendo uma razão, sendo um ser questionador, o homem também é uma complicação a mais dentre as complicações. No pensamento de Nicolau de Cusa, o homem é apresentado como um microcosmo, sendo esta a sua natureza. O homem é capaz de contrair as realidades superiores, ou angelicais, as realidades médias ou intermediárias, e as inferiores, como os animais e os vegetais. Em Deus-Pai feito homem, isto é, primeira e segunda pessoas da trindade cristã, o máximo, o médio e o mínimo da natureza se unem de forma sintética no que Nicolau de Cusa chama de máximo absoluto. Dessa maneira, Deus se impõe como perfeição absoluta. Porém, de outro lado, na própria Infinidade de Deus, o homem pode ser considerado como um infinito “humanamente contraído”, um Deus humano. Todas as coisas do Universo existiriam no homem, ainda que de forma humana. Nesse sentido o homem é um microcosmo. A natureza humana seria a mais elevada das criaturas de Deus. Se Nicolau de Cusa pretendia analisar Deus em termos racionais, problema já abordado por diversos pensadores, como Santo Agostinho, Maimônides, Santo Anselmo, Tomás de Aquino dentre outros, o fato é que suas análises geram diversas consequências. Se atingir Deus racionalmente é impossível, dada a ausência de proporção entre a criatura-finita e o Criador-Infinito, a conclusão inevitável é que a verdade das Leis Divinas jamais serão atingidas. Em transposição para a teoria do conhecimento, mesmo através de métodos analógicos aos matemáticos, Nicolau de Cusa acaba provocando uma questão de Teoria do Conhecimento que se encontra viva desde então: até onde pode chegar o intelecto humano? Quais são os limites do conhecimento humano? Quais são os tipos do conhecimento humano? Saindo dos campos teológico e filosófica, essas questões, em nova transposição, podem muito bem ser aplicadas no campo científico. Quais são as limitações cognitivas que o homem possui? Existindo limitações, os fenômenos são tais como observados? É possível fazer ciência com limitações cognitivas? E se existir outras limitações racionais? Em nova transposição, desta vez cosmológica, o Universo não contém o Absoluto. Deus-Infinito possui o centro assim como todos os limites do Universo, e as coisas que nele existe, sem qualquer tipo de hierarquia. Como consequências dessas concepções, a Terra não teria um papel privilegiado no centro do universo e este não seria limitado. Para Nicolau de Cusa podemos chegar próximos à verdade, mas nunca chegaremos à ela.

Pico De La Mirandola nasceu em no ano de 1463 e faleceu em 1494.

Pico De La Mirandola

Pico De La Mirandola  é conhecido por sua  obra Discurso Sobre a Dignidade do Homem. Sendo o homem um ser criador, neste aspecto ele se assemelha ao Divino, daí a sua condição de criatura/criador, daí a sua dignidade. O conceito de dignidade será posteriormente reformulado por Immanuel Kant.

Nicolau Maquiavel nasceu em Florença, no ano de 1469 e faleceu em 1527.

Maquiavel

 Todos conhecem a expressão “fulano é maquiavélico” como sinônimo de conduta pérfida e de astúcia. Isto decorre do fato de Maquiavel ter desenvolvido um pensamento cuja proposta é uma aplicação prática, independente da moral, com vistas a aumentar o poder político de quem governa. Maquiavel não foi o típico homem teórico da Renascença, mas se inclui nela pelo afastamento e ruptura da dogmática medieval. Foi um homem de Estado, um teórico político, responsável por uma revolução da política e na moral. Tendo sido secretário da República da Florença, com a troca de governantes, Maquiavel é afastado e do exílio escreve sua principal obra: O Príncipe. De noite, no exílio, vestia-se gala para encontrar, ler e estudar os grandes clássicos da história e da filosofia: “ Caindo a noite, volto a casa. Entro em meu escritório e, desde a porta, me dispo das roupas de trabalho, cobertas de pó e lama, para pôr as vestes de corte e cerimônia; assim decentemente trajado, entro no recinto dos homens da antigüidade. Lá, acolhido com afabilidade por eles, me nutro do alimento que é meu, para o qual nasci. Lá, nenhuma vergonha em falar com eles, em lhes interrogar sobre os motivos de suas ações e eles, em virtude de sua humanidade, me respondem. E durante quatro horas, não sinto o menor aborrecimento, esqueço todas as minhas aflições, cesso de temer a pobreza, a morte mesma não me perturba. E como Dante disse que não há ciência se não se retém o que se compreendeu, anotei desta conversações com eles o que acreditei essencial e compus um opúsculo, De Principatibus.” O Príncipe é um livro que possui várias leituras, mas é um manual da arte da administração pública. Com esta obra Maquiavel afasta a moral da política. As manobras políticas que a obra ensina seriam lícitas na medida em que atingem seu objetivo, qual seja, a perpetuação do governante no poder. Daí a expressão: “os fins justificam os meios”. Note-se o afastamento de Maquiavel em relação aos demais teóricos do Estado que estavam preocupados em alcançar o bem comum, em preservar a justiça. Maquiavel valeu-se da observação empírica, do estudo de casos concretos, não podendo ser chamado de um racionalista. O pensamento de Maquiavel pode sugerir que até mesmo os fins anti-éticos devem ser usados para adquirir e manter o poder. Este tipo de leitura e interpretação é possível. Alguns estudiosos estendem que Maquiavel queria dizer que, por vezes, para manter a ordem, o governante pode realizar um ato que, visto isoladamente, pode parecer imoral, mas que dentro de um contexto, é justificável. Outros estudiosos não concordam com esse tipo de interpretação, e sustentam que a filosofia de maquiavel é utilitária e mesmo imoral. Por exemplo, Maquiavel achava que os soldados devem receber cuidadosa preparação religiosa a fim de se tornarem mais obedientes.

Leonardo di Ser Piero da Vinci, ou simplesmente Leonardo da Vinci, (15 de abril de 1452, Anchiano, Itália  - Falecimento: 2 de maio de 1519, Clos Lucé, Amboise, França) foi um polímata nascido na atual Itália, uma das figuras mais importantes do Alto Renascimento, que se destacou como cientista, matemático, engenheiro, inventor, anatomista, pintor, escultor, arquiteto, botânico, poeta e músico.

Leonardo da Vinci

Todo o mundo sabe que Leonardo da Vinci pintou a Monalisa; ninguém sabe que ele era filho bastardo. Além disso, ele era ambidestro, ou seja, escrevia e pintava com as duas mãos. Ainda mais: Vinci era o nome do lugar onde nasceu. A bem da verdade Da Vinci foi um grande gênio. Além de artista, desenhou máquinas para voar, máquinas hidráulicas, dragas, realizou estudos anatômicos e sobre o processo de envelhecimento, totalizando cerca de 120 livros. Seus cadernos de experimentos foram comprados por Bill Gates. Da Vinci encarna o espírito do Renascimento, quando diz: "A experiência não engana nunca; só erram os vossos julgamentos, que prometem a si mesmos resultados estranhos à sua à nossa experimentação pessoal. Pois, dado um princípio, é necessário que sua consequência dele decorra naturalmente, a menos que haja um impedimento; ao passo que, se for afetado por uma influência contrária, o efeito que deveria resultar do princípio procederá dessa influência contrária, mais, ou menos, segundo esta se exerça com maior ou menor potência sobre o princípio dado." (C.A. 154). Essa confiança na experiência e na matemática afasta Da Vinci das ilusões consoladoras. A frase "O homem é a medida de todas as coisas", sintetiza o renascimento. Ou mesmo ao salientar ser um homem de virtú: "Já fiz planos de pontes muito leves... Sou capaz de desviar a água dos fossos de um castelo cercado. Conheço meios de destruir seja que castelo for... Sei construir... galerias e passagens sinuosas que se podem escavar sem ruído nenhum..." É assim com estas palavras que Leonardo solicita emprego a Ludovico, o Mouro, da família Sforza de Milão. Em MIlão Leonardo desenha os canais que secarão a cidade e recentemente descobertos. Algumas Invenções de Leonardo AR Asas a pedal Paraquedas Helicóptero Mecanismo de Aterrisagem ÁGUA Snorquel Barco a Roda Escafandro Boia Salva-Vidas Roda hidráulica Moinhos Beliza Transportadora INSTRUMENTOS Viola organista Instrumentos de sopro Tambores GUERRA Canhão de 11 Tiros (três segmentos) Tanque de guerra Muros e escadas móveis Besta automática (princípio da repetição) ENGENHARIA Escusas e canais Ponte levadiça Draga Fortaleza circular (de modo a proteger os tiros de pólvora) “Um pássaro é um instrumento que trabalha de acordo com uma lei matemática. Esta dentro do poder do homem fazer esse instrumento com todos os movimentos, mas sem todo o alcance dos seus poderes.” “Vou fazer veículos cobertos, seguros e inexpugnáveis, que penetrarão entre o inimigo e sua artilharia e não existe porte de homens armados tão grande que não possa ser vencida por eles. E por detrás deles poderá seguir a infantaria, totalmente ilesa e desimpedida... (Tais veículos ) substituem os elefantes...”

Giordano Bruno nasceu em Nola, no ano de 1549 e faleceu em 1600 na fogueira da inquisição.

Giordano Bruno

Bruno entra para a ordem dominicana de Nápoles em 1560 e faz estudos clássicos, de onde é obrigado a fugir por causa de um processo de impiedade. Bruno vai para Roma e uma série de cidades italianas, estabelece-se em Genebra onde converte-se ao protestantismo. Em seguida vai ensinar Aristóteles em Toulouse de onde é expulso pelas guerras da religião. Vai para a Inglaterra onde vive um período fecundo que lhe possibilita escrever seus principais diálogos. Em Cambridge participa de uma grande disputa com os aristotélicos ingleses e volta para a França. Novamente é obrigado a fugir pois participa de uma desastrada controvérsia no dia de Pentecostes de 1586. Passa a ter uma vida difícil e errante, passando por várias cidades da Alemanha. Bruno vaga até Praga. Aceita um convite de um nobre para voltar para a Itália; Bruno volta para Pádua e Veneza, onde é denunciado à inquisição e preso. No primeiro processo, que versava sobre questões religiosas, Bruno abjura de seus erros; transferido para Roma passa os últimos oito anos de sua vida na prisão do Santo Ofício sob tortura e miséria física. Interrogado, recusa-se a se submeter e é condenado à fogueira. Morre em 1600, cuspindo no crucifixo que lhe mostram. Razão x Dogmatismo - A vida de Bruno reflete a novidade da razão em conflito com o dogmatismo medieval. Além de desenvolver um método para desenvolver a memória, de fórmulas de magia, e de criticar a virgindade de Maria e ridicularizar os milagres de Cristo, o pensamento de Bruno é voltado para a cosmologia onde demonstra a sua força, ao conceber um universo infinito, ilimitado e sem hierarquias. Crítica a Aristóteles - Apesar de ter ensinado a filosofia de Aristóteles, Bruno a contesta, assim como afasta o sistema copernicano das esferas. Segundo Aristóteles existe uma causa primeira que desencadeia todos os movimentos; segundo Copérnico a origem do movimento dos astros está na forma esférica. Para Bruno o universo é infinito, possuindo milhares de sistemas semelhantes aos nossos (com sol e planetas). Uma força anímica, uma vida inextinguível, anima todos os seres, dos astros aos vegetais. Não se trata, portanto, de uma explicação matemática. Bruno também defendia o movimento da terra, apesar de não conseguir demonstrá-lo. Giordano Bruno foi um filósofo infatigável, e possui um heroísmo próprio, individual. Cosmologia - Mas não é a cosmologia de Bruno que causa os maiores atritos com a igreja, afinal suas descobertas não são tão novas assim. Bruno viveu em uma época de endurecimento da igreja católica, que combatia seitas dissidentes. Além disso, o pensamento de Bruno é essencialmente anti-católico: o Deus de Bruno é imanente às coisas, encontra-se em tudo e em todos. Deus é a natureza. O mundo é um ser vivo e divino, além disso, se deus é infinito, a natureza também é. Antecipou, assim, Spinoza e Leibniz. Bruno também possibilitou que o universo se tornasse calculável matematicamente. Principais obras - Ars Memoriae; La Cena delle Ceneri; De la causa principio e uno; Spaccio della bestia tronfante; De Immenso.

Galileo di Vincenzo Bonaulti de Galilei, mais conhecido como Galileu Galilei (Pisa, 15 de fevereiro de 1564 — Florença, 8 de janeiro de 1642), foi um astrônomo, físico e engenheiro florentino. Com frequência é referenciado como "pai da astronomia observacional", "pai da física moderna",  "pai do método científico" e "pai da ciência moderna".

Galileu Galilei

O próprio Galileu poliu as lentes adquiridas em Murano e montou o seu primeiro telescópio. Uma vez pronto, subiu para o telhado de sua casa e passou várias noites daquele inverno observando o céu. Descobriu que a superfície da Lua era irregular e assim a desenhou. Aos poucos descobriu que Júpiter possuía quatro luas, e com grande precisão anotou suas diversas observações. Em seguida focou as Plêiadas, desenhou Mérope mas não a identificou, pois sabia-se, conforme o mito, que a menor delas por vezes se escondia. Algumas certezas e várias dúvidas: a Lua não era lisa e plana; Júpiter possuía luas (satélites) que não podem ser vistos a olhos nus; o céu não era perfeito e nem limitado ao que podemos enxergar; nossos sentidos não davam conta da imensidão do céu; o que existiria para além daquilo que conseguiu observar? Quantas estrelas haveriam para além das estrelas fixas ? E o Sol? Como seria o Sol?

Nascida Virginia (nascida em 1600 - 2 de abril 1634) 

Irmã Celeste

Galileu foi devoto católico romano e pai de três filhos  com Marina Gamba:  Virginia (nascida em 1600); Livia (nascida em 1601), e um filho, Vincenzo (nascido em 1606). Por causa de seu nascimento ilegítimo, o pai considerou que as filhas jamais conseguiriam se casar, de acordo com os valores sociais da época.   A única alternativa viável para as filhas era o ingresso na vida religiosa. As duas meninas foram aceitas pelo convento de San Matteo, em Arcetri, e permaneceram lá pelo resto de suas vidas. Virginia recebeu o nome de Maria Celeste ao entrar no convento, provavelmente em homenagem ao pai. O convento era pobre, Irmã Celeste passava fome e frio. Ajudou o pai na medida em que pode e vice e versa. Enfrentando processos movidos pela Inquisição da Igreja Católica, doente e cego, Galileu cumpria pena domiciliar. Irmã Celeste morreu de pneumonia, antes do pai. Ela morreu em 2 de abril de 1634 e está enterrada com Galileu na Basílica de Santa Cruz.    

Francis Bacon (não confundir com Roger Bacon) foi um pensador inglês nascido em Londres no ano de 1561 e falecido em 1626.

Francis Bacon

Francis Bacon foi um ensaista, advogado, homem de Estado, e um filósofo. Seu pensamento teve grande influência na filosofia da ciência. Bacon teve uma vida política muito ativa, e é incrível como pode escrever uma obra filosófica com uma tal vida. Bacon era perdulário, gastava mais do que ganhava, chegou a ir preso por dívidas e acabou virando Procurador-Geral. Se opôs à medidas de taxação impostas pelo reino e isto poderia ter acabado com sua carreira política, não tivesse ele defendido o Duque de Essex, então processado por traição. Em 1621 foi acusado de receber propinas e foi afastado da vida política. Alguns escritores do século XIX acharam que ele foi o verdadeiro escritor das peças de Shakespeare, mas essa teoria está descartada. Pensamento - O pensamento de Bacon realça o papel que a ciência poderia desempenhar na vida da humanidade. Ele descarta e despreza um saber contemplativo, desinteressado e sem finalidade. Bacon busca um saber que sirva de instrumental e que possibilite a dominação da natureza (basta dizer que era fã de Maquiavel). Com ele inicia-se um ideal prometéico da ciência. É dele a frase "Saber é poder". Quanto à estrutura de seu pensamento Bacon opõe ao método dedutivo a descoberta do indutivo. Sua principal obra chama-se Novum Organum, escrita para substituir o Organon aristotélico. Dos filósofos antigos Bacon criticava Aristóteles. Filosoficamente, Bacon procurava ... da mente aquilo que ele chamava de "Idols", ou tendências para o erro. Essa tendência teriam a seguinte proveniencia: da própria natureza humana (Idols from the Tribe); do temperamento e das experiências individuais (Idols of the Cave); da linguagem (Idols of the market place); das filosofias falsas (Idols from the theater). Ele planejou um grande trabalho que deveria se chamar Instauratio Magna, ou a Grande Restauração, no qual colocaria seus conceitos de forma a viabilizar uma restauração da humanidade que deveria dominar sua natureza. Deveria tyer seis partes: 1. Uma classificação das ciências; 2. Uma nova lógica indutiva; 3. Um apanhado de fatos empíricos e experimentais; 4. Exemplos para demonstrar a eficácia dessa nova abordagem; 5. Generalizações derivadas da história natural; 6. Uma nova filosofia que seria uma completa ciência da natureza. Bacon completou apenas duas partes: Da Dignidade e do Crescimento das Ciências (1623) e o Novo Organon (1620). Classificou as ciências sob a classificação geral de História, Poesia e Filosofia. Sua culminação era uma filosofia indutiva da natureza, na qual Bacon propunha achar as formas, ou leis naturais, da ação do corpo. Para esse fim ele estabeleceu a assim chamada tábulas de indução (de presença, ausência e degraus) designadas para descobrir tais formas e com o objetivo final da maestria sobre a natureza. Sua obra influenciou Boyle, Newton e Hobbes. No século XVIII Voltaire e Diderot consideraram-no o pai da ciência moderna. Filosofia do Direito - O pensamento de Bacon Obras - Da Dignidade e do Crescimento das Ciências (1623); Novo Organon (1620); Ensaios 91597-1625) e A Nova Atlântica (1627). 

Thomas Hobbes (5 de abril de 1588 – 4 de dezembro de 1679) foi um matemático, teórico político e filósofo inglês, autor de Leviatã (1651) e Do cidadão (1642). Na obra Leviatã, explanou os seus pontos de vista sobre a natureza humana e sobre a necessidade de um governo absolutista.

Thomas Hobbes
"O homem é o lobo do homem"

A tendência absolutista foi apoiada por Thomas Hobbes, filósofo jusnaturalista que firmou a primeira teoria sobre o Estado Moderno. Hobbes defendia o poder exclusivo e absoluto do soberano para governar. Sustentava que esse poder devia ser absoluto justamente para garantir um total poder do Estado. Hobbes estava combatendo a influência exercida pelo poder eclesiástico, contudo, a sua polêmica acaba envolvendo, em um segundo plano, a aplicação da common law. De uma forma geral, Hobbes segue a linha de raciocínio dos demais jusnaturalistas de sua época. Alguns chegam a considerá-lo como precursor do positivismo jurídico. Hobbes questiona se existiam leis no estado de natureza. Conclui que sim. Mas essas leis deveriam ser obedecidas São obrigatórias? (0) Tome-se por exemplo aquela lei fundamental e que diz “não matar”. Que sentido faz respeitar essa lei e manter um pacto estipulado em relação ao outro se este não quer respeitá-la e deseja me matar? Para Hobbes, só sou obrigado a não matar o outro se ele não me matar. Portanto, se ele deseja matar-me, não matá-lo não é mais razoável. Observa Bobbio que antes da criação de organismos internacionais de controle permanente, este era o principal argumento utilizado pelos estados em suas agressões. O Estado agressor jamais afirma que violou um dever de não agredir. Invariavelmente diziam que se defenderam de uma invasão. Hobbes desenvolve seu raciocínio afirmando que, naquele estado de natureza, no qual todos os homens são iguais, nada garante que as leis serão obedecidas. Cada qual tem o direito de utilizar a força necessária para defender seus próprios interesses. A lei perde, portanto, a sua eficácia. O estado de natureza é um estado de anarquia permanente, estado de guerra de todos contra todos. Para sair de tal estado de anarquia, é necessário criar o Estado e conferir todo poder a um só soberano. Sob um regime absoluto e autoritário, tem-se a certeza de que o outro também observará a lei. Por conseguinte, o direito natural deixa de ter valor (mesmo porque já não era respeitado no estado de natureza) e o único direito que passa a valer é o direito civil, ou o direito positivo posto pelo Estado. Com base nesta legitimação, Hobbes nega legitimidade à common law. O reconhecimento de um direito preexistente ao Estado é, dessa maneira, negado por Hobbes: “Não é a sapiência mas sim a autoridade que cria a lei” diz Hobbes, . Dessa maneira fica claro que, para ele, o direito é fruto de quem tem o poder. Se os juízes tem a sapiência necessária para a aplicação da lei, não possuem a autoridade necessária criá-las. Hobbes apresenta a seguinte definição de direito: “Direito é o que aquele ou aqueles que detêm o poder soberano ordenam aos seus súditos, proclamando em público e em claras palavras que coisas eles podem fazer e quais não podem”. Observa-se, nesta concepção, as seguintes características: a) formalismo, pois referida definição não faz referência ao conteúdo da lei; b) imperativismo, o direito é definido como o conjunto de normas através das quais o soberano ordena ou proíbe seus súditos. Estas duas características reaparecem no juspositivismo. Common Law A common law não é o direito comum de origem romana, mas sim um direito consuetudinário tipicamente anglo-saxônico. “É um direito que surge das relações sociais e é acolhido pelos juízes nomeados pelo rei. Numa Segunda fase, ele se torna um direito de elaboração judiciária, visto que é constituído por regras adotadas pelos juízes para resolver controvérsias individuais (regras que se tornam obrigatórias para os sucessivos juízes, segundo o sistema do precedente obrigatório)” Statute Law O direito estatutário difere da common law. Este é posto pelo poder soberano (pelo rei, num primeiro momento; e pelo Rei, juntamente com parlamento, num segundo momento). Na nossa tradição, o direito consuetudinário foi inteiramente incorporado pelo direito positivo, isto é, o Estado acolheu e legitimou uma boa parte do direito proveniente dos costumes. Na Inglaterra isto não se deu. Mesmo durante a transformação de um estado medieval em um estado moderno, ou mesmo em tempos de monarquia forte, permanece o primado do direito comum. Na Inglaterra sempre vigorou o princípio que dispõe que o direito estatutário vale enquanto não contrariar o direito comum. Assim, o poder do rei e do Parlamento devia ser limitado pela common law. A constituição inglesa divide em dois os poderes básicos do soberano: Gubernaculum, ou pode de governar; e o Jurisdictio, ou o poder de aplicar as leis, que que deve ser exercido através de seus juízes. Ao exercer o jurisdictio, o Rei era obrigado a aplicar a common law. Portanto, esta última limita o poder do soberano. Isso explica porque a monarquia inglesa nunca teve poderes ilimitados, diferentemente das monarquias do continente europeu. Dois fatores podem ser identificados como auxiliares neste processo de governo inglês: a) a Inglaterra foi a primeira a a desenvolver a separação dos poderes, posteriormente transferida à Europa através da teorização executada por Montesquieu; b) a Inglaterra também foi a pátria do liberalismo, aqui entendido como a doutrina que impõe limites jurídicos aos poderes do Estado. Contudo, a história revela que alguns soberanos ingleses, como Jaime I e Carlos I, tentaram valer a preeminência absoluta do direito estatutário. Queriam negar aos juízes a aplicação do direito comum na resolução das controvérsias. Em oposição a essa tendência absolutista, encontramos a voz de Sir Edward Coke. Sir Edward Coke foi o autor de Instituições do direito Inglês, que é considerado como a “summa” da common law. Em sua defesa pela common law Coke entrará em polêmica com Thomas Hobbes, defensor do absolutismo inglês. Ao contrário da nossa tradição, a Inglaterra sofreu pouca influência do direito comum romano.

John Locke foi um médico e filósofo empirista inglês nascido em 1632; faleceu em 1704.

Locke

Considerado o pai do empirismo inglês,  Filósofo e teórico da política, rJohn Locke recebeu seus estudos no Christ College, em Oxford. De início, seguiu o curriculum tradicional, mas depois voltou-se para o estudo da medicina e das ciências. Apesar de não ter conseguido um diploma, recebeu uma licença para medicar. Tronou-se médico e conselheiro pessoal do Duque de Shaftesbury, e através dele teve pequenos cargos no governo e involveu-se em pequenas e turbulentas questões políticas. Em 1675, vai viver na França onde familiariza-se com as doutrinas de Descartes. Em 1679 retorna para a Inglaterra, quando Shaftsbury estava no poder, procurando excluir o Duque de York (futuro Rei James II) da sucessão do trono. Shaftsbury acabou sendo processado por traição e apesar de inocentado, mudou-se para a Holanda. Por causa de sua aliança, Locke também foi, isto em 1683. Viveu na Holanda até 1688, (derrubada de James II). Voltou para a Inglaterra onde passa a dar apoio para a a Princesa de Orange, (futura Rainha Maria II). Em 1691, aposenta-se em Oates, Essex, onde escreveu e editou suas obras, e onde também recebeu visitas, inclusive de Isaac Newton. Suas amizades com oficiais do governo e acadêmicos tornaram-o um dos homens mais influentes do século XVII. Foi amigo de Isaac Newton, um dos criadores da física moderna. Apesar de ter recebido a influência de Descartes em seus estudos em Oxford, criticou as idéias inatas do racionalista, afirmando que a alma é como uma tábula rasa onde não existe qualquer impressão. O conhecimento só começa após a experiência sensível. Para Locke o inatismo é puro preconceito; tampouco constitue princípios universais ou úteis. Para saber que o mel é doce e não amargo, não é necessário se socorrer do princípio lógico da identidade, basta provar o mel e algo amargo separadamente. Da mesma maneira a existência de Deus pode ser demonstrada por uma forma variante da prova "por contigência do mundo". O ser contigente pressupõe a existência de um ser eterno, todo poderoso e inteligente. A prova de que a idéia de Deus não é inata são os selvagens. É a crítica ao inatismo que levou Locke a conceber a alma com uma tábula rasa no instante do nascimento. As idéias são provenientes da natureza. A fonte de todo conhecimento é a experiência sensível e a reflexão. A sensação provém do mundo exterior e a reflexão do mundo interior e portanto, decorrentes da primeras e ambas da experiência. Amarelo, branco, quente, são idéias de sensação; pensar, duvidar, crer, são idéias de reflexão. Na política, Locke defendeu a tese de que no estado natural: "nascemos livres e na mesma medida em que nascemos racionais". Locke contribui como teórico do liberalismo, pois viveu num período de grandes mudanças políticas na Inglaterra, lutando pela entrega do poder à burguesia. A sociedade e o poder político nasceriam de um pacto entre os homens. Ao contrário de Hobbes, Locke não procura fundamentar o absolutismo. Segundo Bobbio: “A resposta liberal se baseia no conceito de tolerância religiosa: o Estado Liberal não elimina as partes em conflito e sim deixa que o próprio embate se desenvolva entre os limites do ordenamento jurídico posto pelo próprio Estado” . Bobbio chama a atenção para o fato de que situação análoga ocorre no embate de classes sociais no Estado Moderno. O Estado, nesta situação, pode adotar duas posturas: a) deixar que o conflito se desenvolvsa dentro de seu ordenamento jurídico; ou b) elimina o conflito (identificando-se com alguma das classes). Deve ser notado também que a concepção liberal utiliza uma teoria do absolutismo pelo inverso, na medida em que coloca na prática o dogma da onipotência do legislador. Assim, o indivíduo não está mais à mercê de eventuais arbitrariedades de um juiz. Ao por as normas iguais para todos, o legislador está colocando impedimentos para arbitrariedade do Poder Judiciário. Para que o legislador não cometa abusos, das medidas são tomadas: A separação do poder do legislar não é do Execeutivo, do príncipe, mas de um colegiado que age junto a ele; a representatividade: o poder legislativo representa a nação inteira (e não apenas uma oligarquia) através da técnica da representação política. No estado de natureza o homem deve preservar a paz e evitar ferir o direito dos outros. Em seu estado natural todos os homens participam de uma sociedade peculiar que é a humanidade, ligando-se pela razão. O direito à propriedade seria natural e anterior à sociedade civil, mas não inato, sua origem encontra-se nas relações de trabalho entre o homem e as coisas. O trabalho sustenta o direito de propriedade. Na sociedade política formada por contratos, as leis aprovadas por seus membros e aplicadas por juízes impaciais garantiriam a harmonia geral e impossibilitariam a inclinação egoista dos homens de beneficiarem a si próprios. Na Carta Sobre a Tolerância advoga a liberdade de consciência religiosa, sustentando que o Estado deveria cuidar apenas do bem estar material dos cidadãos. No Primeiro Tratado Sobre o Governo Civil, Locke combate a tese de que o poder dos monarcas reinantes remonta a Adão e Eva. O Ensaio Sobre o Entendimento, que demorou vinte anos para ser escrito, é a obra mais importante de Locke sob o ponto de vista filosófico. É nela que o filósofo afirma que "pode-se levar, facilmente, a alma das crianças numa ou noutra direção, como a própria água". O pensamento de Locke encontrou resistências, notadamente de Cudworth, filósofo inglês, que sustentava que a demonstração da verdade da idéia de Deus exige o pressuposto de que o homem possui idéias inatas, isto é, aquelas idéias que se encontram na alma do indivíduo desde o seu nascimento. A doutrina empirista, segundo a qual "nada está no intelecto que antes não tenha estado nos sentidos" conduz ao ateísmo, razão pela qual deve ser combatida.

René Descartes foi um filósofo francês muito inteligente e também muito nervoso. Ele nasceu em 1596 e morreu em 1650.

René Descartes

Com Descartes inicia-se uma nova forma de se raciocinar, uma nova maneira de se fazer filosofia, chamada Racionalismo, que se baseia na exigência de ideias claras e distintas. Esta revolução cartesiana será oposta pelo empirismo e, posteriormente, pelo positivismo. Mas esse racionalismo, seria isso filosofia? Com o tempo passou a ser.  Descartes foi o primeiro a escrever filosofia em língua vulgar, isto é, em francês e não em Latim. As meditações cartesianas compõe um sistema que funda o racionalismo na história da filosofia. É chamado de pai da Filosofia Moderna. A importância histórica do pensamento cartesiano é inquestionável. Descartes discute o conhecimento ou a possibilidade do conhecimento através da razão pura. O método: o método que Descartes desenvolveu e utilizou foi o método da dúvida hiperbólica: para demonstrar-se a falsidade de um grupo de argumentos não é necessário afasta-los um a um. Para demonstrar-se a falsidade de um grupo de argumentos basta demonstrar a ruína de seus alicerces: "Visto que a ruína dos alicerces carrega necessariamente consigo todo o edifício" (Primeira Meditação - §2º). Cogito Ergo Sum: A primeira certeza a qual Descartes chega é o Cogito: "Penso, logo existo" ("cogito ergo sum"), resultado de uma exaustiva meditação onde os conhecimentos adquiridos através dos sentidos são afastados por completo. O pensamento, enquanto substância primeira lhe garante a certeza de sua existência. Toda vez que o Cogito é repetido, temos a comprovação de uma certeza. Esta primeira certeza, a certeza da existência, é a certeza da existência de algo que pensa, é a certeza da existência do espírito, enquanto intelecto. E enquanto ser que pensa, pode-se excluir todos os atributos do corpo e da alma. A dúvida permanece no campo da metafísica. Assim, este pensamento é puro pois não possui a intervenção de nada mais. É simples, indivisível. As ideias, consideradas quanto à sua forma, podem ser definidas como modos do pensamento. Quanto ao conteúdo objetivo, elas se diferenciam entre sí. E não só no conteúdo mas nos respectivos graus de perfeição desses conteúdos. A ideia deve representar a substância e não o acidente. Três Tipos de Ideias: Para Descartes as ideias podem ser divididas em três tipos: Inatas - nascem comigo, é a própria faculdade do pensamento Adventícias - vem de fora, são os ruídos, o calor, ou seja, os sentidos; Produzidas - feitas e inventadas, por exemplo a composição de imagens, ficções. A ideia que possuo de Deus é de tal forma que posso conhecê-Lo de uma maneira essencial. Portanto, a ideia que tenho de Deus possui muitas determinações, possibilitando conhecê-Lo de maneira perfeita. É uma ideia tal que, dentre todas as demais é a que possui um grau máximo de realidade objetiva. Prova da existência de Deus: Face ao princípio da causalidade, Descartes, acaba por conhecer mais realidade objetiva na ideia de Deus do que na realidade objetiva da ideia de substância pensante. A ideia de Deus representa algo fora de mim e não fui eu quem produziu esta ideia, ela reflete algo fora de mim. Algo tão real e perfeito quanto a ideia que tenho sobre Deus. Deus é perfeito e a existência é um grau de perfeição. Um ser perfeito não pode abranger qualquer grau de imperfeição, logo, a existência de Deus é algo real, e fora de mim. A causa desta ideia só pode Deus mesmo.

Blaise Pascal (Clermont-Ferrand, 19 de junho de 1623 – Paris, 19 de agosto de 1662) foi um matemático, escritor, físico, inventor, filósofo e teólogo católico francês."

Blaise Pascal

Pensamentos Zombar da filosofia é, em verdade, filosofar. Desejais que falem bem de vós? Não o faleis vós mesmos. É preciso conhecer-se a si mesmo Duas coisas instruem o homem acerca de sua natureza: o instinto e a experiência. Concentrai-vos em vós mesmos e aí encontrareis vosso bem. A grandeza do homem é grande na medida em que ele se conhece. O homem é, em si mesmo, a criatura mais prodigiosa da natureza A natureza do homem é toda natureza omne animal. Contrariedades – o homem é naturalmente crédulo, incrédulo, tímido, temerário. Os homens são tão necessariamente loucos que seria ser louco não ser louco. É perigoso fazer ver demais ao homem quanto ele é igual aos animais, sem lhe mostrar a sua grandeza. É ainda perigoso fazer-lhe ver demais a sua grandeza sem a sua baixeza. É ainda mais perigoso deixá-lo ignorar uma e outra. Mas é muito vantajoso representar-lhe ambas. Se o homem não sabe que vive cheio de soberba ambição, de concupiscência, fraqueza, miséria e injustiça, é bem cego. E se, sabendo-o, não deseja libertar-se, que se dirá de um homem...? Todos os homens se odeiam naturalmente entre si. Digo em verdade que, se todos os homens soubessem o que dizem uns dos outros, não haveria quatro amigos no mundo. É o ruído, que nos desvia de pensar na nossa condição. A justiça e a verdade são duas pontas tão sutis que nossos instrumentos se revelam demasiadamente grosseiros para as tocar exatamente. A vontade é um dos principais órgãos da crença, não porque forme a crença, mas porque as coisas são verdadeiras ou falsas segundo o ângulo pela qual as encaramos. As pessoas disciplinadas têm o poder de não pensar naquilo em que não querem pensar.

Baruch de Espinosa, nascido Baruch Espinosa, mais tarde como autor e correspondente Benedictus de Spinoza (Amsterdam, 24 de novembro de 1632 — Haia, 21 de fevereiro de 1677  foi um filósofo holandês de origem sefardita portuguesa.

Baruch de Espinosa

 Machado de Assis escreveu um poema para Spinoza (ou Espinosa): Spinoza Gosto de ver-te, grave e solitário, Sob o fundo da esquálida candeia, Nas mãos a ferramenta de operário, Na cabeça a coruscante ideia. E enquanto o pensamento delineia Uma filosofia, o pão diário A tua mão a labutar granjeia E achas na independência do teu salário. Soem cá fora agitações e lutas, Sibilia o bafo aspérrimo do inverno, Tu trabalhas, tu pensas, tu executas Sóbrio, tranqüilo, desvelado e terno, A lei comum, e morres e transmutas O suado labor em prêmio eterno.

Os versos de Machado de Assis traduzem a vida desse gênio nascido em 1632 e falecido em 1677. Bento de Espinosa ou Baruch de Espinosa era judeu de origem e sua família havida imigrado de Portugal e se refugiado na Holanda, em virtude de perseguições d inquisição da Igreja Católica. Sua primeira formação foi judaica, em hebraico. Leu o Talmud, o Antigo Testamento e a Kabbalah. Estudou Maimônides, Gersonides e Crescas. Posteriormente estudou os neoplatônicos e os estoicos, latim e a filosofia cartesiana, da qual é profundamente influenciado. Aos 24 anos rejeita as interpretações tradicionais das Sagradas Escrituras e em 27 de julho de 1656, acaba sendo expulso da Sinagoga de Amsterdam: “Pela decisão dos anjos e julgamento dos santos, excomungamos, execremos e maldizemos Baruch de Espinosa...Maldito seja de dia, maldito seja de noite, maldito seja quando sai, maldito seja quando regressa... Ordenamos que ninguém mantenha com ele comunicação oral ou escrita, que ninguém lhe preste favor algum, que ninguém permaneça com ele sob o mesmo teto ou a menos de quatro jardas, que ninguém leia algo escrito ou transcrito por ele” Para dar continuidade ao seu pensamento, o filósofo converte-se ao cristianismo e trabalha como polidor de lentes. Posteriormente, lhe é feito um convite para voltar à comunidade judaica, mas o filósofo já havia transcendido qualquer corrente religiosa. Foi convidado para dar aula na Faculdade de Heidelberg, mas recusa o convite para não comprometer a sua liberdade de pensamento. Usava uma capa cortada por uma facada para lembra-se como é perigoso filosofar. Teve seu talento reconhecido em vida. Leibniz, entre outros, chegou a visitá-lo. Morreu de tuberculose.  As inovações oriundas da filosofia espinosiana são várias: 1. Deus e natureza são uma só coisa;  2. Deus não é um ser transcendente, onipotente, dotado de entendimento e vontade oniscientes, nem age tendo em vista julgamentos ou finalidades  misteriosas; 3. O homem é livre não por possuir um livre arbítrio, mas mas por ser parte da natureza divina, dotado de força interna para pensar e agir por si mesmo. 4. A verdadeira religião é uma relação espiritual entre a consciência individual e a divindade, dispensando o aparato de textos alegóricos, igrejas, cerimônias e teologias; 5. O poder político provém das massas que forma um corpo político e não de um contrato social; 6. O poder político das massas não pode se submeter ao poderio religioso-teológico; 7. Teologia difere da política e da filosofia. Além disso, Espinosa 8. Não acata a ideia cartesiana de que a certeza nasce da dúvida. 9. Para fundamentar seu pensamento, Spinoza desenvolve um método matemático. Espinosa admitia um Estado de Natureza, que termina com o contrato social. O Estado foi criado em concórdia para estabelecer limites à força individual, contudo, a consciência individual é incoercível de forma que os cidadãos poderiam abandonar o pacto social. Espinosa rejeitava a noção de Poder do Soberano que, encarnando todo o Poder Público, pode determinar o que é justo e o que é injusto, interpretar as leis. Ele argumentava que, na verdade, nenhum soberano age só. Os Estados, por conseguinte, seriam aristocráticos.  As leis seriam a alma do Estado e deveriam se fundar na razão e concordar com as tendências dos homens.  Por Direito Natural Espinosa entende a potência do indivíduo, que se limita ou varia com a potência do semelhante. Portanto, trata-se de um direito relativo, o que contrasta com o princípio da igualdade (o que é inadmissível para muitos).  As principais obras de Espinoza são: Princípios da Filosofia (sobre o pensamento de Descartes), publicada em vida; Tratado Teológico Político – publicado anônimo em 1670; Ética – publicação póstuma em método matemático. Outras lhe são atribuídas, como o Tratado do dos três Impostores.

Filósofo e matemático alemão nascido em 1646 e falecido em 1716, Leibniz foi um gênio e também fundador da ciência moderna.

Leibniz

 Filho de um professor de filosofia moral, Leibniz também foi uma criança precoce. Foi auto didata em latim e grego para poder ler os livros do pai. Graduou-se em direito e doutorou-se em jurisprudência em 1667. Atuou ativamente em questões de direito internacional e, na França, entrou em contato com Malebranche. Chegou a encontrar Pedro o Grande várias vezes, a quem recomendou reformas educacionais na Rússia. Se opôs, em 1700, à teoria da tábula rasa de Locke e contra Samuel Clarke, que defendia ideias de Newton. Leibniz defendeu a ideia de que o tempo e o espaço são relativos. No século XVIII, o filósofo Christian Wolf sistematizou e alterou seu pensamento. Pensamento Antecipou o desenvolvimento da lógica simbólica, desenvolveu cálculos, desenvolveu e expôs a teoria das substâncias, baseada nas mônadas. Também defendeu pontos ecumênicos para a religião cristã. No direito, Leibniz codificou leis romanas e introduziu o direito natural na jurisprudência. Pelo seu trabalho, é tido como o progenitor do idealismo alemão e pioneiro do iluminismo. Opondo-se à Escola Clássica que apontava a razão como a fonte do Direito Natural, e afastando o Direito da crença religiosa, Leibniz defendeu a tese contrária: por estar presente em todas as coisas, Deus seria a fonte do Direito. Tanto o Direito, como a Justiça, seriam emanações da essência divina. Leibniz sustentava que o universo existe em harmonia pré-estabelecida. No âmbito da teoria do conhecimento, Leibniz se coloca contra Locke, pois a mente abrigaria conceitos em gérmen, potencialmente. Em ética, sustentava que a ideia de bem, se manifesta distintamente nas esferas do Estado, da humanidade e de Deus.

Voltaire nasceu na França em 1694 e faleceu em 1778. Seu nome era Francois Marie Arouet. V

Voltaire

Voltaire foi um gênio, a figura mais importante do iluminismo e seu valor chegou a ser reconhecido em vida, isto é, seus contemporâneos o chamavam de o maior poeta e dramaturgo do século. É mais conhecido por suas cartas e contos. A sua educação pelos jesuítas, assim como o fato de ter sido criado entre um grupo de aristocratas e livre pensadores, marcaram-no de forma a determinar o seu gosto. Por ter escritos versos satíricos, foi parar preso por um ano. Depois disso, adotou o nome de Voltaire. Posteriormente, após nova discussão, foi novamente preso, depois exilou-se na Inglaterra por três anos. Lá, ele absorveu os ensinamentos dos livres-pensadores ingleses, deístas e literatura. Voltou para a França, teve um longo caso amoroso (mais um com a sobrinha) e novos desencontros com as autoridades fizeram que ele fosse de um lugar para outro até que se instalou ás margens do lago de Genebra. Por segurança voltou para a fronteira francesa e, no final da vida, retornou para Paris. Foi um filósofo e um lutador pela reforma. Ele lutou não para desmontar a estrutura hierárquica do antigo regime, mas sim para reformá-la. Suas ideias podem ser encontradas em milhares de cartas, contos. panfletos, poemas e peças. "Ecrasez l'infame" era o seu famoso slogan contra a igreja, cristianismo e a intolerância Outro de seus alvos foi o sistema de justiça criminal, taxas e censura na imprensa. Voltaire foi o lider, chefe organizador e propagandista de um grupo reformista chamado os Filósofos. Lutou em colaboração com os mais radicais dos enciclopedistas, tais como Diderot e d'Holbach. Em 1770 os dois grupos entraram em conflito por causa de questões sobre ateísmo e táticas. Voltaire defendia um despotismo iluminista para a França, uma monarquia constitucional para a Inglaterra e um governo democrático para a Suíça. Alguns consideram Voltaire como um precursor do antissemitismo moderno, uma vez que, constantemente, criticava os judeus, e especialmente os antigos hebreus, a quem chamava de fanáticos supersticiosos, culpados por terem produzido a Bíblia, Jesus Cristo e o cristianismo. Durante muito tempo ele lutou com a ideia de Deus e concluiu que ela era necessária para explanar o universo e a vida, para justificar a moralidade, e para atuar como um guarda para o povo. Com a ideia do mal, numa preocupação crescente, Voltaire concluiu que o homem luta em um universo estranho às suas necessidades e aspirações, e daí, sua concepção de deus foi alterada para uma entidade inativa, que lavrou um determinado número de leis naturais e deixou o homem se virar por conta própria. Apesar de não acreditar na alma, achava que sua doutrina não devia ser espalhada. Acabou por concordar com o determinismo e afastou o materialismo. Também foi um criadores da historiografia moderna, apesar de utilizar a história para fazer propaganda ou para fins políticos e sociais.

Jean Jacques Rousseau nasceu em Genebra em 1712, e faleceu em 1778

Rousseau

Rousseau desenvolveu as principais teses do jus naturalismo, tendo alcançado ampla divulgação e prestígio. Suas ideias acabaram por influenciar os estatutos ideológicos da Revolução Francesa. Apesar de ter nascido em Genebra, Rousseau viveu na França. Sua bela mãe morre ao dar-lhe à luz. Jean Jaques e seu pai leem toda a biblioteca de sua falecida mãe. Acusado de ter desembainhado a espada dentro dos limites da cidade, para evitar uma ação criminal, seu pai o abandona, ainda jovem, aos cuidados de um tio. Para fugir de uma ação criminal, deixa o filho a mercê de um tio. O jovem apresenta algumas falhas de caráter, chegando a roubar uma fita cor de rosa de sua patroa. A culpa recai sobre uma camareira. Interessante notar que por influência materna e paterna o jovem lia muito. Interessante notar que em 1719 Danuel Dufoe escreve Robinson Cruzoé, livro que vai exercer grande influência em parte do pensamento de Rousseau. Rousseau foi contemporâneo dos enciclopedistas, pensadores franceses e críticos: D’Alembert, Diderot e Voltaire. Divergindo dos enciclopedistas, Rousseau acreditava que ao atingir-se a natureza perfeita que existe no interior de cada indivíduo, de cada ser humano, esta se manifestaria como íntimo sentimento de vida. Rousseau foi um filósofo atípico e revolucionário em todos os aspectos. A começar, Rousseau privilegiava o sentimento, mais do que a razão. O sentimento seria uma faculdade “infinitamente mais sublime” do que a razão. O sentimento seria o caminho para o autoconhecimento. Acreditava ainda que, o homem devia procurar o autoconhecimento. Percebe-se que Rousseau mantém, de certa forma, o ideal socrático, contudo, procura guiar-se pelo sentimento e não pela razão; e sua busca é interior e não na exterioridade. Mas observa que isto não ocorre através do intelecto e busca exterior: “Vi muitas pessoas que filosofavam mais doutamente do que eu; mas sua filosofia parecia, por assim dizer, estranha... Estudavam o universo como teriam estudado qualquer máquina que tivessem visto por curiosidade. Estudavam a natureza humana para poder falar sabiamente dela, não ara conhecerem-se a si mesmos” Tinha horror à sistematização conceitual, escrevia em forma de romances, ensaios. Por causa disso, não gostava de ser chamado de filósofo. Observa-se, ainda uma dupla ruptura com o centro de reflexão da época. O instrumento a ser utilizado é o sentimento e não o intelecto; a busca é interior e não exterior. A idéia básica que Rousseau desenvolve é uma antítese entre a natureza do homem e os acréscimos da civilização. Segundo Rousseau, a vida do homem primitivo seria mais feliz pois ele viveria conforme as duas necessidades inatas. Ele é autossuficiente, constrói sua existência na floresta, satisfaz suas necessidades de alimentação e de sexo sem maiores dificuldades. O sentimento de preservação o impele às ações agressivas, que são contrabalançadas pelo inato sentimento de piedade. Este sentimento de piedade o impede de fazer mal aos outros desnecessariamente. Este homem natural é dotado de livre arbítrio desde a sua origem, assim como é dotado de sentido de perfeição. Rousseau via na civilização a responsável pela degeneração das exigências morais mais profundas. A uniformidade artificial do comportamento, imposto pela sociedade às pessoas, leva-as a ignorar os deveres humanos e as necessidades naturais. As regras de etiqueta esconderiam o egoísmo mais vil; as ciências e as artes seriam máscaras da vaidade e do orgulho. Trata-se da ideia de que tudo o que vem da natureza é bom e de que em seu estado de natureza o homem era mais feliz. Sem comando político, os seres humanos viviam no livre exercício de seus Direitos Naturais, em uma Idade de Ouro, sem corrupção ou propriedade privada. As primeiras comunidades locais são baseadas no grupo familiar. A sociedade civil teve início quando um indivíduo cercou um terreno e disse: Isso é meu! Se naquele momento alguém tivesse gritado: “Guardai-nos de escutar esse impostor!”, a humanidade teria sido poupada das guerras e dos crimes. Portanto, a desarmonia teria surgido quando alguns homens impuseram seu domínio sobre determinada propriedade através da força. Em outras palavras, a corrupção começa com a propriedade privada. Visando recuperar o bem-estar primitivo, o homem teria transferido seus direitos naturais ao Estado, em troca de direitos civis. Notar que o contrato social não é um fato histórico, mas sim um postulado da razão, que não alcançou exito pois os homens não recuperaram o seu estágio primitivo de bem estar. A obra Contrato Social é escrito de maturidade do pensador, resumo de todo o seu pensamento. A obra também possui por objeto demonstrar a passagem de uma liberdade natural para um liberdade convencional. VER PAGINA 130 do Nader Rousseau apregoava uma religião natural, não velada, e um Deus que poderia ser atingido pelo coração, sem a necessidade de rituais e igrejas. Este pensamento deixou furioso os crentes católicos e protestantes. Ao apregoar um governo republicano, fundado na vontade soberana do povo, provocou a ira da monarquia francesa e da aristocracia de Genebra. Rousseau propos a ensinar o Direito Natural com alguma base em Puffendorf e Grotius, que representavam o melhor da cultura jurídica da época. A eles atirou-se Rousseau para adquirir conhecimentos para dominar as questões sobre o Estado. Contudo, de Grotius repele método e doutrina, de Pufendorf repele algumas conclusões e princípios. Rousseau também lê Hobbes, Montesquieu e Locke. Após a formação do Estado, este passa a exercer a tutela dos Direitos Naturais. Não se trata de uma renúncia da liberdade, ato incompatível com a natureza humana. Para Rousseau o homem nasce livre. A finalidade última de toda legislação seria promover a liberdade e a igualdade entre os homens. Rousseau já era autor de várias obras conhecidas e famosas pela Europa quando escreve o Emílio e o Contrato Social. Em O Contrato Social analisa a formação do Estado. Visando recuperar seu bem estar primitivo, o homem transfere seus direitos naturais para o Estado em troca de direitos civis. No Discurso sobre a Desigualdade dos Homens, expõe o homem em seu estado de natureza, como sendo bom e feliz, desfrutando da liberdade e da igualdade. Em suas Confissões, procura esclarecer suas ideias e sua vida. Da publicação de Emílio e O Contrato Social surgem polêmicas, problemas e perseguições. As obras são condenadas e queimadas em praça pública em Paris, Berna e Londres. Rousseau passa da fama à perseguido. Foragido, com mania de perseguição, refugia-se na Inglaterra, na casa de Hume, com quem corta relações por suspeitas. Volta para a França onde veste-se de armênio. Escreve Devaneios de um Caminhante Solitário. Morre aos sessenta e seis anos de idade. Várias críticas foram e são feitas ao pensamento de Rousseau. Voltaire disse: “Ninguém jamais pôs tanto engenho em querer nos converter em animais”. Disse ainda que Rousseau faz nascer em nós “desejos de caminhar em quatro patas”. Ocorre que a idealização do homem primitivo em Rousseau não é um retorno à animalidade. Não se trata de uma aproximação da crítica que Diógenes fazia. Talvez seja um artifício através do qual Rousseau procura ressaltar o contraste da profunda animalidade positiva do selvagem se comparado ao homem civilizado. Mais ainda: o homem não se regenera pela destruição da sociedade e com o retorno para a vida nas florestas e sim em repudiar os abusos, afinal, com a civilização ocorreu uma ampliação dos horizontes intelectuais, um enobrecimento dos sentidos, elevação da alma, etc... Os abusos que advém da civilização são a perda da consciência através do culto dos refinamentos, das mentiras convencionais, da ostentação da inteligência e da cultura, onde se busca mais a admiração do próximo do que qualquer outra coisa. Rousseau parece procurar uma conquista intelectual verdadeira e o limite de um espírito criativo. Deixar de lado as convenções da razão civilizada e entrar no fundo da natureza através do sentimento que é o instrumento de penetração na essência da interioridade Alcançando um estado de consciência da liberdade, o sentimento interno da vida, com o qual o homem teria consciência de sua unidade com os seus semelhantes e com a universalidade dos seres.

David Hume (Edimburgo, 7 de maio (ou 26 de abril-Antigo) de 1711 – Edimburgo, 25 de Agosto de 1776) foi um filósofo, historiador e ensaísta britânico nascido na Escócia que se tornou célebre pelo seu empirismo radical e o seu ceticismo filosófico

David Hume

Influenciado pelo empirismo de John Locke, Hume radicalizou e criou o “fenomenismo” – teoria filosófica que contraria as crenças naturais e do sentido comum.  Hume dizia que todo conhecimento só é possível através das percepções da experiência, percepções que podem ser “impressões”, dados diretos dos sentidos ou da consciência interna, ou “ideias”, que resultam da combinação de impressões. Existem ideias simples e compostas, essas últimas produto da generalização, mas todas podem reduzir-se a uma associação de impressões. Noções como a relação causa-efeito. Nessa linha de pensamento, Hume questionou a existência da alma. É a generalização de ideias simples que conduz à crença de que existe um “eu” pensante, idêntico a si mesmo. Segundo Hume, há somente um conjunto de conteúdos de consciência, sem substância que lhe sirva de suporte. A moralidade e a religião, por conseguinte, são apenas o resultado de costumes e hábitos. Devem basear-se no bem comum, que constitui o princípio fundamental da sociedade. Hume compõe a famosa tríade do empirismo britânico, sendo considerado um dos mais importantes pensadores do chamado iluminismo escocês e da própria filosofia ocidental.  Hume opôs-se particularmente a Descartes e às filosofias que consideravam o espírito humano uma perspectiva teológica-metafísica.

A sua importância no desenvolvimento do pensamento contemporâneo é considerável e teve profunda influência sobre o pensamento de Immanuel Kant, sobre a filosofia analítica do início do século XX e sobre a fenomenologia.  Por muito tempo o pensamento de Hume se destacou por um tipo de ceticismo classificado como destrutivo, como por exemplo a sua crítica aos milagres.  Somente no fim do século XX os comentadores se empenharam em mostrar o caráter positivo e construtivo do seu projeto filosófico. Leitor voraz, dentre as suas fontes, incluem-se os clássicos da Filosofia antiga bem como o pensamento científico de sua época, sendo assim influenciado não só por Locke e Berkeley mas também por vários filósofos franceses, como Pierre Bayle e Nicolas Malebranche, e diversas figuras dos círculos intelectuais ingleses. Contudo, Hume deve o seu método de análise à leitura de Isaac Newton, conforme assinalado no subtítulo do Tratado da Natureza Humana – Uma Tentativa de Introduzir o Método Experimental de Raciocínio nos Assuntos Morais. 

Immanuel Kant (Königsberg, 22 de abril de 1724 — Königsberg, 12 de fevereiro de 1804) foi um filósofo prussiano. Amplamente considerado como o principal filósofo da era moderna,

Immanuel Kant

Nascido de uma modesta família de artesãos, depois de um longo período como professor secundário de geografia, Kant veio a estudar filosofia, física e matemática na Universidade de Königsberg e em 1755 começou a lecionar ensinando Ciências Naturais e Direito Natural. Em 1770 foi nomeado professor catedrático da Universidade de Königsberg, cidade da qual nunca saiu, levando uma vida monotonamente pontual inteiramente dedicada aos estudos filosóficos. Tornou-se anedota o fato de que toda a cidade acertava seus relógios de acordo com o passeio diário do Prof. Kant, assim como o fato de nunca ter se casado e dormir inteiramente enrolado com a ajuda de criados. Immanuel Kant é considerado o ácido sulfúrico da Filosofia ocidental. Impactado com a filosofia de David Hume,  Kant desenvolveu uma filosofia única. Em sua obra mais conhecida, intitulada Crítica da Razão Pura.  onde perfaz uma análise da razão,  Kant edifica uma metafísica transcendental. A pergunta básica é: o que pode a razão conhecer independente da experiência? Trata-se do tribunal da razão, onde o réu questionado é a própria razão. Em si mesma, isto é, de forma a priori e independente de qualquer experiência, a razão conhece o tempo, o espaço e a noção de causalidade. Segue-se um dos livros mais importantes da ética: Fundamentação Metafísica dos Costumes, no qual enfatiza a noção de "Dever" como conhecimento a priori  do homem.  Este pequeno livro, também fundamentará a sua Doutrina do Direito e a sua Crítica da razão Prática. Menos conhecido mas nem por isso menos importante, são os Escritos Pré-Críticos e seu trabalhos sobre ciências naturais e exatas.  Mais conhecida nos estudos de Astronomia, Kant propôs a existência de universos ilha (outras Galáxias) e a existência  de vida em outros sistemas solares. Sua  teoria da formação do Sistema Solar, foi posteriormente retomada pelo matemático francês Laplace e ainda mais tarde, ambas foram reunidas sob ao nome de hipótese Kant-Laplace.

Arthur Schopenhauer (Danzig, 22 de fevereiro de 1788 — Frankfurt, 21 de setembro de 1860) importante filósofo alemão do século XIX.

Arthur Schopenhauer

A partir do idealismo de Immanuel Kant e com a inclusão de budistas, Arthur Schopenhauer desenvolveu a sua filosofia, pela qual ficou conhecido como um filósofo pessimista, rótulo que pode e deve ser questionado.  Arthur Schopenhauer é conhecido como  um filósofo pessimista por ter trazido à filosofia questões como doença, pobreza, loucura e morte. Em sua obra  "O Mundo como Vontade e Representação" , de 1818,  Schopenhauer  caracteriza o mundo fenomênico como o produto de uma vontade metafísica e sem telos. Schopenhauer acreditava no amor como meta na vida, mas não como busca da felicidade mas já antecipando uma visão darwinista, onde o homem procura na mulher e vice e versa, bons parceiros para a reprodução, dando assim continuidade à vida e, por conseguinte, ao sofrimento. Para Schopenhauer, somente o sofrimento é positivo, pois se faz sentir com facilidade, enquanto que aquilo ao qual chamamos felicidade é negativo, pois é a mera interrupção momentânea da dor ou do tédio, sendo estes últimos a condição inerente à existência. Enquanto professor de filosofia na Universidade de Heildeberg, Schopenhauer marcava o horário de suas aulas exatamente no mesmo horário em que Hegel ministravas suas aulas. O resultado era que as aulas de Schopenhauer estavam sempre vazias. Ao ter um sonho que a cólera chegaria à cidade, Schopenhauer a abandona e Hegel morre vítima da pandemia. Com a publicação de "Parerga e Paralipomena", no final de 1851, Schopenhauer alcançou a fama ainda em vida. Nesta obra o filósofo discorre sobre diversos assuntos, que variam entre temas relacionados ao ensino universitário, à escrita, à sociedade em que vive, e revê conceitos que outrora defendia e  aconselha seus leitores como levar uma vida com menos sofrimento. O colérico e obsessivo Arthur Schopenhauer morreu  tranquilo e sereno em 21 de setembro de 1860. 

Georg Wilhelm Friedrich Hegel (Estugarda, 27 de agosto de 1770 – Berlim, 14 de novembro de 1831) foi um filósofo germânico.

Hegel

Hegel pode ser incluído naquilo que se chamou de Idealismo Alemão, uma espécie de movimento filosófico marcado por intensas discussões filosóficas entre pensadores de cultura alemã do final do século XVIII e início do XIX. Essas discussões tiveram por base a publicação da Crítica da Razão Pura de Immanuel Kant. Hegel, ainda no seminário de Tübingen, escreveu, juntamente com dois renomados colegas, os filósofos Friedrich Schelling e Friedrich Hölderlin, o que chamaram de "O Mais Antigo Programa de Sistema do Idealismo Alemão". Posteriormente desenvolveu um sistema filosófico que denominou "Idealismo Absoluto", uma filosofia capaz de compreender discursivamente o absoluto (de atingir um saber do absoluto, saber cuja possibilidade fora, de modo geral, negada pela crítica de Kant à metafísica dogmática). Apesar de ser notavelmente crítica em relação ao Iluminismo, a filosofia hegeliana é tida por muitos como, para usar a expressão de Habermas, a "filosofia da modernidade por excelência".[1] Hegel influenciou um grande número de autores (Strauss, Bauer, Feuerbach, Stirner, Marx, Dilthey, Bradley, Dewey, Kojève, Hyppolite, Hans Küng, Fukuyama, Žižek). Era fascinado pelas obras de Spinoza, Kant e Rousseau, assim como pela Revolução Francesa. Muitos consideram que Hegel representa o ápice do Idealismo Alemão. Hegel descreve sua concepção filosófica, no prefácio a uma de suas mais célebres obras, a Fenomenologia do Espírito, da seguinte forma: "Segundo minha concepção – que só deve ser justificada pela apresentação do próprio sistema –, tudo decorre de entender e exprimir o verdadeiro não como substância, mas também, precisamente, como sujeito. Ao mesmo tempo, deve-se observar que a substancialidade inclui em si não só o universal ou a imediates do saber mesmo, mas também aquela imediates que é o ser, ou a imediates para o saber. [...] A substância viva é o ser, que na verdade é sujeito, ou – o que significa o mesmo – que é na verdade efetivo, mas só na medida em que é o movimento do pôr-se-a-si-mesmo, ou a mediação consigo mesmo do tornar-se outro. Como sujeito, é a negatividade pura e simples, e justamente por isso é o fracionamento do simples ou a duplicação oponente, que é de novo a negação dessa diversidade indiferente e de seu oposto. Só essa igualdade reinstaurando-se, ou só a reflexão em si mesmo no seu ser-Outro, é que são o verdadeiro; e não uma unidade originária enquanto tal, ou uma unidade imediata enquanto tal. O verdadeiro é o vir-a-ser de si mesmo, o círculo que pressupõe seu fim como sua meta, que o tem como princípio, e que só é efetivo mediante sua atualização e seu fim."

Jeremy Bentham (Londres, 15 de fevereiro de 1748 — Londres, 6 de junho de 1832) foi filósofo, jurista e um dos últimos iluministas. Pai do Utilitarismo, propôs um sistema de filosofia moral  com a preocupação radical de alcançar uma solução prática exercida pela sociedade de sua época. As propostas têm, portanto, caráter filosófico, reformador, e sistemático.

Jeremy Bentham

 Jeremy Bentham foi um pensador inglês, e é por muitos conhecido como o pai do utilitarismo. Ficou conhecido como sendo o menos prático dos filósofos que se dedicaram a temas práticos. Apesar de ter estudado direito, abandonou a prática da advocacia, por achá-la imoral. O pensamento de Bentham teve uma grande influência em todo o mundo civilizado. Bentham apresenta várias concepções, inclusive no campo do direito penal, sendo a mais famosa delas o panopticon, uma prisão na qual a vigilância dos presos podia ser efetuada através de um único guarda situado estrategicamente no centro da construção. Apesar da tradição da common law, Bentham propôs uma codificação do direito inglês. Na primeira fase de seu pensamento, Bentham procura efetuar uma reforma e uma reorganização sistemática do direito inglês, que era – e ainda é – baseado na common law, ou seja, um direito não codificado, não fundado em leis, mas sim em casos. Bentham irá se confrontar com seu mestre, Blackstone, que tal como Coke, antes dele, era defensor do direito da common law. Na Segunda fase de seu pensamento, Bentham projeta uma compilação do direito inglês, que deveria conter, de forma sistemática, os princípios fundamentais do ordenamento jurídico inglês. Na terceira e última fase de seu pensamento, isto é, a partir de 1811, Bentham projeta uma reforma radical do direito, através de uma codificação completa e que separaria a toda matéria jurídica em três partes: direito civil, direito penal e direito constitucional. Pelos princípios que apresenta, o projeto de código constitucional apresentado por Bentham irá influenciar todas as constituições democrático-liberais do século XIX. A codificação planejada e concebida por Bentham será por ele batizada de Padikkaion, e num segundo momento de Pannomion, com pretensões de universalidade para todo o mundo ocidental. Assim como o Panopticon, e de uma forma geral, os projetos de codificação de Bentham não fizeram o menor sucesso na Inglaterra. Isso levou o filósofo a oferecer seus préstimos a Madison, então presidente norte americano, a Alexandre, então czar da Rússia, entre outros. Em sua crítica à common law, Bentham salienta cinco defeitos fundamentais: a) incerteza da common law, na medida em que não se tem uma segurança do direito que permite ao cidadão prever as conseqüências de sua própria atuação; b) retroatividade do direito comum, na medida em que o juiz cria um novo precedente, nessa aplicação de uma norma judiciária, será aplicada para o passado, violando, assim, uma exigência fundamental do pensamento jurídico liberal que é a irretroatividade da lei, especialmente da penal; c) não se fundamenta no princípio da utilidade, sem possibilidade de criar um sistema completo de normas jurídicas; d) o quarto defeito seria o dever que o juiz tem de julgar a lide, ainda que lhe falte elementos para tanto, o que seria facilmente remediado pela produção legislativa do direito; e) a última crítica possui caráter político, pois o povo não pode controlar a produção do direito por parte dos juízes. Esses problemas só seriam sanados através de um código com leis claras, obra de um homem só, a se escolhido através de um concurso. Alédm disso, o código deveria apresentar os seguintes requisitos: a) o código deveria se inspirar no princípio do utilitarismo, qual seja, a maior felicidade para o maior número de pessoas; b) o código deveria ser completo, não possuindo lacunas, abrangendo todas as obrigações jurídicas; c) o código deveria ser redigido em termos claros e precisos; d) as leis do código deveriam ser acompanhadas de uma motivação que indique as finalidades que ela se propõe atingir. Essa motivação seria muito útil para o cidadão e também para o magistrado.

John Stuart Mill nasceu em Londres no ano de 1806 e faleceu em 1875.

John Stuart Mill

Mill John Stuart Mill nasceu em Londres no ano de 1806 e faleceu em 1875. Aos dois anos de idade aprendeu a falar grego e latim; recebeu de seu pai uma educação esmerada e como não podia deixar de ser, sofreu um esgotamento nervoso aos vinte e oito anos e a partir de então foi um defensor da liberdade, incluída a de expressão, e da expressão da opinião própria. Curou-se lendo as poesias de Wordworth. Mill foi o maior divulgador do utilitarismo, que teve início com Bentham. As bases do utilitarismo são: o aumento do prazer e a diminuição da dor. Assim, Mill encontra no aumento do prazer e no afastamento da dor os fundamentos dos valores morais e de seu discurso filosófico. De acordo com o utilitarismo as "coisas podem ser consideradas boas na medida em que aumentam a felicidade no mundo e más na medida em que aumentam o sofrimento" (Wright, Robert, O Animal Moral, Editora Campus, Rio de Janeiro, 1996, p. 290/291). Mill argumenta que, tendo a origem da ação caído em esquecimento, por força do hábito, seus efeitos continuaram a serem chamados de bons. Segundo a ética utilitarista de Mill, a conduta ética a ser observada é aquela que almeja mais felicidade para o maior número possível de pessoas. O utilitarismo de Mill diverge um pouco do de Bentham, na medida em que o primeiro defende uma certa hierarquia de prazeres, sendo o intelectual o de maior valor. Mill também desenvolveu noções de causalidade na lógica de forma a auxiliar o direito penal (Teoria dos Antecedentes); na política lutou para o bem da maioria e pelo sufrágio universal e também desenvolveu diversas questões de economia. Teoria da Equivalência dos Antecedentes, também conhecida como Teoria da Conditio Sine Qua Non, oriunda do pensamento filosófico de Stuart Mill, segundo a qual, causa é toda ação ou omissão anterior que contribui para a produção do crime. Dessa maneira, evita-se o regressus ad infinitum; isto porque a teoria de Stuart Mill situa-se no plano exclusivamente físico, resultante da lei da causalidade. Aplicada juntamente com a voluntariedade do agente, tem-se os elementos que podem redundar na condenação do criminoso. No século XIX Stuart Mill retoma as tábuas de bacon dando-lhes uma nova forma de exposição:

Herbert Spencer nasceu em Derby, Inglaterra, no ano de 1820 e faleceu em 1903.

Herbert Spencer

O pai de Spencer era um homem muito frio: quando sua esposa fazia alguma pergunta que ele considerava estúpida ele simplesmente permanecia em silêncio e não respondia. Dizem que o filho puxou a frieza do pai. Nunca se casou e, no final da vida, sem dinheiro, disse que não aplicou seu raciocínio para fazer fortuna. Numa ironia da vida, seu principal opositor, Stuart Mill, ofereceu-lhe uma ajuda pecuniária, que foi recusada. Com a ajuda de amigos ele conseguiu superar esse período difícil. Dentre as várias obras escritas por Spencer os Primeiros Princípios é a mais conhecida, mas não se encontra traduzida para o português.. Mesclada com a filosofia política, a teoria evolucionista deu origem ao social-darwinismo, que possui em Herbert Spencer seu principal expoente. Segundo essa doutrina, através de adaptações internas e externas, observa-se uma evolução não só dos organismos e das espécies, mas também das instituições sociais, em direção a uma vida com maior segurança e bem estar para todos. Quanto aos valores morais, Spencer concebeu a origem do valor "bom" a partir de uma identificação com o que se revelou socialmente "útil" ao longo da história. Apesar de ser um pensador de enorme potência, há quem afirme que a adaptação é apenas uma consequência de um outro impulso. No que se refere à concepção spenceriana sobre a origem dos valores morais, é certo que esta não apresenta falhas lógicas. Ou seja, bom é aquilo que foi identificado como útil para a subsistência da espécie. Spencer cunhou a expressão “sobrevivência dos mais apto”.

Friedrich Wilhelm Nietzsche (Röcken, Reino da Prússia, 15 de outubro de 1844 – Weimar, Império Alemão, 25 de agosto de 1900) foi um filósofo, filólogo, crítico cultural, poeta e compositor prussiano do século XIX, nascido na atual Alemanha. Escreveu vários textos criticando a religião, a moral, a cultura contemporânea, filosofia e ciência, exibindo uma predileção por metáfora, ironia e aforismo.

Friedrich Nietzsche a Inocência do Devir

Uma das mais belas passagens da filosofia de Friedrich Nietzsche, tirada da obra Crepúsculo dos Ídolos

"Os homens foram pensados como "livres", para que pudessem ser julgados e punidos - para que pudessem ser culpados. Conseqüentemente, toda ação precisaria ser considerada como desejada, a origem de toda ação como estando situada na consciência (- com o que a mais fundamental fabricação de moedas falsas transformou-se, no interior do psicologicismo, em princípio da própria psicologia...). Hoje, quando adentramos o movimento inverso, quando nós imoralistas buscamos novamente com toda força sobretudo retirar do mundo o conceito de culpa e o conceito de punição, purificando destes conceitos a psicologia, a história, a natureza, as instituições e as sanções comunitárias, não há em nossos olhos nenhum antagonismo mais radical do que o em relação aos teólogos que continuam a infectar a inocência do vir-a-ser com as noções de “punição” e "culpa", a partir do conceito de "ordem moral do mundo". O cristianismo é uma metafísica de carrasco...

8. Qual pode ser nossa única doutrina? - Que ninguém dá ao homem suas propriedades; nem Deus, nem a sociedade, nem seus pais e ancestrais, nem ele mesmo (- o contra-senso da representação, aqui por fim recusada, é ensinado por Kant, e talvez mesmo já por Platão, como "liberdade inteligível"). Ninguém é responsável em geral por ele existir, por ele ser constituído de tal ou tal modo, por ele se encontrar sob estas circunstâncias, nesta ambiência. A fatalidade de sua existência não pode ser separada da fatalidade de tudo o que foi e de tudo o que será. O homem não é a conseqüência de uma intenção própria, de uma vontade, de uma finalidade. Com ele não é feita a tentativa de alcançar um "ideal de homem" ou um "ideal de felicidade" ou um "ideal de moralidade". - É absurdo querer fazer rolar sua existência em direção a uma finalidade qualquer. Nós inventamos o conceito de "finalidade": na realidade falta a finalidade... É-se necessariamente, se é um pedaço de fatalidade, se pertence ao todo, se está no todo. Não há nada que pudesse julgar, medir, comparar, condenar nosso ser, pois isso significaria julgar, medir, comparar, condenar o todo... Mas não há nada fora do todo! Que ninguém mais seja responsável, que o modo de ser não possa ser reconduzido a uma causa prima, que o mundo não seja uma unidade nem enquanto mundo sensível, nem enquanto "espírito": só isso é a grande libertação. - Com isso a inocência do vira-ser é restabelecida... O conceito de "Deus" foi até aqui a maior objeção contra a existência... Nós negamos Deus, negamos a responsabilidade em Deus: somente com isso redimimos o mundo

Excelente artigo de Samuel Fernando

Nietzsche II

CLÍNICA DO TRÁGICO

Por Samuel Fernando
Toda a filosofia do Nietzsche poderia ser resumida da seguinte forma: Nietzsche acredita que o ser humano está se despencando em um abismo. Nada faz sentido, ou quase nada, se no existencialismo de Kierkegaard existe um Deus para dar sentido à existência, e no de Camus existe o Amor, no mundo de Nietzsche existe o Caos, o trágico, a tragédia, donde originou-se o espírito dionisíaco nos ditirambos, em oposição à harmonia da lira apolínea. Tragédia, em grego τραγῳδία (tragōidia), que significa "tragos" (bode) + "oidé" (canto), "canto do bode", o bode do altar do sacrifício de Dionísio; que, por ocasião da vindima, recebia homenagens rituais em que lhe era sacrificado um bode acusado de comer as folhas das videiras ("bode expiatório", referência ao sacríficio judaico no Yom Kippur). O ser humano é comparado a um bode expiatório no abismo da existência, mas ele é um bode que dança; dança e ri, ele ri das Moiras - as velhas lúgubres, responsáveis por fabricar, tecer e cortar o fio da vida; ele tem, ou deve ter, o "Amor fati' e dizer o Sim (Quem sobrevive à falta de sentido? Quem sobrevive ao niilismo? Apenas aquele que aprende a dizer Sim!, aquele que torna leve o mais pesado dos pesos e aprende a impor novos valores, amando a existência em sua plenitude). Não é apenas aceitar, mas amar o destino. Para isso é preciso ter 'Vontade de Poder', transvalorar a moral e o próprio niilismo (Nietzsche não é pessimista). E, sem a metafísica, pois Gott ist tot! "deus morreu", emerge o Übermensch, um "além-homem" parindo o Caos, 'parindo uma estrela que dança', com a benção de Dionísio: "A todos os abismos levo a benção do meu Sim (Zaratustra). Mas esta é a ideia de Dionísio mais uma vez”. Finalmente, quem tem Amor fati aceita que todos os seus momentos, de felicidade ou tristeza, se eternizem em um ciclo de Eterno Retorno: Minha fórmula para a grandeza no homem é amor-fati: não querer nada de outro modo, nem para diante nem para trás, nem em toda eternidade. Não meramente suportar o necessário, e menos ainda dissimulá-lo – todo idealismo é mendacidade diante do necessário -, mas amá-lo". O mais impressionante é que Nietzsche parece ter vivido o Amor Fati no final de sua vida, até perecer fatalmente diante das dores e misérias do mundo. Esse resumo pode ser traduzido na obra "Fortuna, com os olhos vendados", de Tadeusz Kuntze, representando a deusa romana da sorte e do acaso e na Roda da Fortuna. As moiras fazem uso da Roda da Fortuna, que é o tear utilizado para tecer os fios da vida de todos os indivídios. Segundo a tradição, elas eram cegas, assim como o nossa existência pelo mundo.

Um pouco mais sobre Nietzsche, com a colaboração de Samuel fernando

Nietzsche III

Por Samuel Fernando

Lamento de Ariadne, de Nietzsche. E uma lição de vida.
"Quem me aquece, quem me ama ainda? Dê a mim mãos ardentes! Dê a mim um braseiro para o coração! Estendida na terra, estremecendo-me, como uma meio morta a quem se aquece os pés, agitada, ai, por febres desconhecidas, tremendo perante glaciais flechas agudas de arrepios, caçada por você, pensamento! Inominável! Escondido! Aterrador! Você caçador entre as nuvens! Fulminada na terra por você, Olho sarcástico que me olha desde o escuro! Assim estou jacente dobrada, retorcida, atormentada por todos os martírios eternos, ferida, por você, o mais cruel caçador, seu desconhecido, deus… Fira mais fundo! Fira de novo! Corte, recorte este coração! Para que vem este martírio com flechas de dentes redondos? O que olha outra vez sem se cansar do tormento humano com malévolos olhos de raios divinos? Não quer você matar, somente martirizar, martirizar? Para que martirizar a mim, malévolo deus desconhecido? Ah, ah! Você se aproxima sinuoso semelhante à meia-noite?... O que quer? Fale! Aperte-me, oprima-me, ah! já está muito próximo! Ouça-me respirar, espíe meu coração, ciumento! — mas, ciumento de que? Fora, fora! para que a escada? você quer subir penetrar, até o coração, subir até meus mais secretos pensamentos? Devasso! Desconhecido! Ladrão! O que quer levar roubando? O que quer levar escutando? O que quer levar atormentando? você, atormentador! você, deus carrasco! Ou como um cão devo esfregar-me contra o chão diante de você? Submissa, admirada fora de mim balançar o rabo por amor? É inútil! Fira-me outra vez, aguilhão o mais cruel! Não sou seu cão, só sua presa, caçador o mais cruel! sua mais orgulhosa prisioneira, bandido detrás das nuvens… Fale afinal! Você, escondido com o raio! Desconhecido! fale! O que quer, salteador, de mim?... Como? Um resgate? O que quer de resgate? Você pede muito, aconselha-o meu orgulho! E fala pouco, aconselha-o meu orgulho! Ah, ah! sou eu quem você quer? Eu? eu inteira? Ah, ah! E me martiriza? Louco que você é, louco! Re-martirize meu orgulho? Dê a mim o amor, quem me aquece ainda? quem me ama ainda? dê a mim mãos ardentes, dê a mim um braseiro para o coração, dê a mim, à mais solitária, à que o gelo, ai! sete camadas de gelo ensinam a somar inimigos, dê, sim, entregue, inimigo o mais cruel, dê a mim, a você! Acabou-se! Então fugiu ele, meu único companheiro, meu grande inimigo meu deus carrasco!... Não! volte! Com todos os seus martírios! Todo o curso de minhas lágrimas escorre até você, e a última chama de meu coração para você re-acende. Oh, volte, meu deus desconhecido! minha dor! Minha última felicidade!... [Um raio. Dionisio aparece com esmeraldina beleza.] Dionisio: Sê prudente, Ariadne… Tens orelhas pequenas, tens as minhas orelhas: Mete nelas uma palavra prudente! — Não temos que odiar-nos primeiro, para podermos amarmo-nos?...Eu sou teu labirinto..."

Ariadne, na mitologia grega, é a princesa de Creta, filha do rei Minos e da rainha Pasífae. Conhecida por ter se apaixonado por Teseu, o herói que derrotou o Minotauro. Em Nietzsche, Teseu simboliza o conceito de "niilismo negativo", que é a negação da vida em torno de um ideal (seja político, religioso, asceta, filosófico), a negação de si mesmo; no caso de Teseu, é um ideal heróico, seu nome significa "o homem forte por excelência". Ele decide entrar no famoso Labirinto de Creta para matar o Minotauro. Ariadne se apaixona pela figura do herói, pela imagem, pela beleza do ato heróico. Pela aparência. Pela persona. Algo comum em nosso cotidiano: estamos sempre nos apaixonando e buscando ideais, imagens, "cascas"; ao conhecermos uma pessoa, na vida real, no dia a dia, em sua essência, descobre-se a sua verdadeira identidade. E então somos frustrados. Quando o "véu de Maya" se rompe, contemplamos a vida em sua plenitude e as pessoas exatamente como elas são. Acontece um "desencantamento do mundo", para citar Max Weber. Sem a capa do Apolíneo. Sem a beleza, sem aquelas qualidades aparentes que a pessoa teve ao nos encantar. Para Nietzsche, quando desejamos uma idealização perfeita, estamos sendo niilistas, pois estamos tentando negar a realidade, a vida, o mundo e as coisas como elas são. . Teseu é o herói, um homem ideal, forte e poderoso, que vence os enigmas, monstros, guerras, mas ignora o enigma e o monstro que há nele: o Caos, o abismo que existe dentro dele e de todos nós, porque tem um véu, o véu que protege os ideais, que o protege contra a completa falta de sentido da existência. Pois precisa coragem para encarar o abismo, por isso Nietzsche vai dizer que "quando você olha para o abismo, o abismo olha de volta para você", não a coragem de um herói, mas a coragem imbuída de amor fati, de aceitação do seu Eu verdadeiro. A coragem do Sim. A coragem de uma criança que brinca na areia da praia totalmente despreocupada. E Ariadne está presa a Teseu, pelo fio do novelo de lã, ela quer ajudar e participar da missão nobre do herói. Para Nietzsche, ela ainda é uma "alma reativa", uma força reativa contra a natureza real - o Minotauro - além de ser uma simples consorte de um herói, ela é nada. É só uma idealista. Então as forças se voltam contra ela, porque o próprio Teseu a abandona após sair do seu labirinto. Ela se encontra só, como nós sempre estamos após vencermos o minotauro, quando nossos ídolos e ideais nos abandonam. . E então, eis o início do seu lamento! Eis o momento! Ela, exclama "quem me ama ainda"? Dionísio a encontra. E é um encontro avassalador, mas nada romântico como pode parecer. É o oposto do romantismo. Representa o encontro com o abismo, com o caos, com a realidade dionisíaca que existe em nós, com a realidade do mundo da vida. Um encontro de entrega e aceitação da vida, como ela é, sem heroísmo, sem falsas aparências e sem a harmonia apolínea, sem romantismo, sem idealismo, sem ídolos e sem deuses - humanos ou divinos. Ariadne é ferida, mas ela não foge. Ela reconhece o terror. É um encontro com a TRAGÉDIA, com a noção trágica da existência. Mas não é uma noção pessimista, como em Schopenhauer. Afinal, "é preciso ter o caos dentro de si para gerar uma estrela que dança. É a aceitação do Niilismo em Nietzsche: você aceita a tragédia da vida, mas aceita dançando, rindo e brincando. Você aceita o simples fato de que a vida é um caos sem qualquer sentido, você se deixa despencar no abismo e emerge dele na forma de Übermensh. . O Dionisíaco é um "Além-homem" (Übermensh), um além do herói, além do homem enfermo de si mesmo, além do mito. Além de Narciso. Além das glórias do herói, além do ideal asceta, filosófico, político, moral e religioso. E Ariadne alivia sua alma se rendendo a Dionísio, ela se descarrega (mas ela resiste, pois sente o terror dionisíaco). A alma se torna ativa, ao mesmo tempo que o Espírito revela a verdadeira natureza da afirmação. Transmutação de Ariadne diante da aproximação de Dionísio: sendo Ariadne a alma que agora corresponde ao Espírito que diz Sim. Dionísio é a afirmação pura; Ariadne é a alma, a afirmação redobrada, o Sim que responde ao Sim. "Eu sou teu labirinto", e não Teseu. Dionísio é o verdadeiro labirinto de Ariadne. O labirinto é o caos. . Todo o poema se resume no lamento de Ariadne, mas em duas instâncias: lamento niilista (por Teseu) e o lamento do Sim. Ela teme a escuridão. Ela é romântica, portanto, pessimista. Pessimismo é romantismo. Ambos são formas de niilismo. De negação da vida. O pessimista sente o peso da existência, é um infeliz. O romântico cria um herói para curar a dor do existir, e até se mata como Werther. Dionísio, por outro lado, ensina a encarar o abismo de frente e, dançando e embriagado, dizer um Sim para a dor: mas aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música. Você conhece essa música? É a música dos ditirambos da procissão de Dionísio, a música que engendra a tragédia, sem essa música a vida seria um erro.

Martin Heidegger (Meßkirch, 26 de setembro de 1889 – Friburgo em Brisgóvia, 26 de maio de 1976) foi um filósofo, escritor, professor universitário e reitor alemão. Foi um pensador seminal na tradição continental e hermenêutica filosófica.

Martin Heidegger
"O homem é um ser para a morte"

Heidegger é conhecido por suas contribuições para a fenomenologia e existencialismo, embora, como a Enciclopédia de Stanford de Filosofia adverte, "seu pensamento deve ser identificado como parte de tais movimentos filosóficos apenas com extremo cuidado e qualificação".[1] Seu primeiro e mais conhecido livro, Ser e Tempo (1927), embora inacabado, é uma das obras filosóficas centrais do século XX. Em sua primeira divisão, Heidegger tentou se afastar das questões "ônticas" sobre os seres para as questões ontológicas sobre o Ser, e recuperar a questão filosófica mais fundamental: a questão do Ser, do que significa para algo ser. Heidegger abordou a questão através de uma investigação sobre o ser que tem uma compreensão do Ser, e faz a pergunta sobre ele, a saber, o Ser Humano, que ele chamou de Dasein ("ser nomundo"). O pensamento de Heidegger não possui grande originalidade. Heidegger enfatizou a importância da autenticidade na existência humana, e a condição do homem de  ser-para-a-morte, a finitude do tempo e do ser que nos é dado. Heidegger também tinha pretensões a crítico de arte e à poeta. O fato de ter sido ministro da educação do regime nazista, prejudicou a sua imagem e a sua fama como filósofo.

Recluso em sua casa na Floresta Negra, negou-se a um encontro com Jean Paul Sartre, alegando não conversar com repórteres. 

Hannah Arendt (nascida Johanna Arendt; (Linden, 14 de outubro de 1906 – Nova Iorque, Estados Unidos, 4 de dezembro de 1975) foi uma filósofa política alemã de origem judaica, uma das mais influentes do século XX.

Hannah Arendt

A privação de direitos e perseguição de pessoas de origem judaica pelo regime nazista alemão, ocorrida na Alemanha a partir de 1933, assim como o seu breve encarceramento nesse mesmo ano, fizeram com que Hannah Arendt  emigrasse para os Estados Unidos.  Dentre outras atividades, Hannah Arendt trabalhou como jornalista e professora universitária e publicou obras importantes sobre filosofia política. Contudo, recusava ser classificada como "filósofa" e também se distanciava do termo "filosofia política"; preferia que suas publicações fossem classificadas dentro da "teoria política". Arendt defendia um conceito de "pluralismo" no âmbito político, o qual abrangia o potencial de uma liberdade e igualdade política entre as pessoas. Não menos importante é a perspectiva da inclusão do Outro.  Como frutos desses pensamentos, Arendt se situava de forma crítica ante a democracia representativa e preferia um sistema de conselhos ou formas de democracia direta. Entretanto, ela continua sendo estudada como filósofa, em grande parte devido a suas discussões críticas de filósofos como Sócrates, Platão, Aristóteles, Immanuel Kant, Martin Heidegger (com quem manteve um caso amoroso) e Karl Jaspers, além de representantes importantes da filosofia moderna como Maquiavel e Montesquieu. Justamente graças ao seu pensamento independente, a teoria do totalitarismo (Theorie der totalen Herrschaft), seus trabalhos sobre filosofia existencial e sua reivindicação da discussão política livre, Arendt tem um papel central nos debates contemporâneos. 

Ludwig Joseph Johann Wittgenstein (Viena 1889 — Cambridge 1951)  filósofo austríaco, naturalizado britânico e um dos principais autores da virada linguística na filosofia do século XX. 

Ludwig Wittgenstein

O Tractatus Logico-Philosophicus, é a obra mais conhecida de Wittgenstein. Nessa obra Wittgenstein procura esclarecer as condições lógicas que o pensamento e a linguagem devem atender para poder representar o mundo. Mais tarde, as ideias por ele formuladas e difundidas em Cambridge e Oxford, impulsionaram um outro movimento filosófico — a chamada "filosofia da linguagem comum". Assim o pensamento de Wittgenstein costuma ser dividido em duas fases: o Tractatus é a obra que termina o primeiro período.   À segunda fase, pertencem as Investigações Filosóficas, publicadas postumamente, em 1953. Na segunda fase Wittgenstein trata de tópicos similares aos do Tractatus mas por uma perspectiva radicalmente diferente e avança sobre temas da filosofia da mente ao analisar conceitos como os de compreensão, intenção, dor, e vontade.

Theodor Ludwig Wiesengrund-Adorno (Frankfurt am Main, 11 de setembro de 1903 – Visp, 6 de agosto de 1969) foi um filósofo, sociólogo, musicólogo e compositor alemão. É um dos expoentes da chamada Escola de Frankfurt, juntamente com Max Horkheimer, Walter Benjamin, Herbert Marcuse, Jürgen Habermas, entre outros.

Theodor Adorno

Adorno É um dos expoentes da chamada Escola de Frankfurt,[7] juntamente com Max Horkheimer, Walter Benjamin, Herbert Marcuse, Jürgen Habermas, entre outros. Estudou filosofia, sociologia, psicologia e música na Universidade de Frankfurt, mudando-se para Viena aos 22 anos para prosseguir seus estudos em composição com Alban Berg. Ele é amplamente considerado como um dos principais pensadores do século XX em estética e filosofia. Como crítico do fascismo e do que ele chamou de indústria cultural, seus escritos - como Dialética do Iluminismo (1947), Minima Moralia (1951) e Negativa Dialética (1966) - influenciaram fortemente a Nova Esquerda Europeia. Em meio à moda desfrutada pelo existencialismo e pelo positivismo na Europa do início do século XX, Adorno avançou uma concepção dialética da história natural que criticou as tentações gêmeas da ontologia e do empirismo por meio de estudos de Kierkegaard e Husserl. Como pianista de formação clássica cujas simpatias com a técnica de doze tons de Arnold Schoenberg resultaram em sua composição de estudos com Alban Berg, da Segunda Escola de Viena, o compromisso de Adorno com a música de vanguarda constituiu o pano de fundo de seus escritos subseqüentes e levou a sua colaboração com Thomas Mann no romance Doutor Faustus, enquanto os dois homens viviam na Califórnia como exilados durante a Segunda Guerra Mundial. A reputação de seu trabalho na música, no entanto, diminuiu acentuadamente ao longo do tempo. Trabalhando no recém-reformado Instituto de Pesquisa Social, Adorno colaborou em estudos influentes de autoritarismo, anti-semitismo e propaganda que mais tarde serviriam de modelos para estudos sociológicos que o Instituto realizou na Alemanha do pós-guerra. Ao retornar a Frankfurt, Adorno se envolveu na reconstituição da vida intelectual alemã por meio de debates com Karl Popper sobre as limitações da ciência positivista, críticas à linguagem da autenticidade de Heidegger, escritos sobre a responsabilidade alemã pelo holocausto e intervenções contínuas em assuntos públicos. Como escritor de polêmicas na tradição de Nietzsche e Karl Kraus, Adorno fez críticas contundentes à cultura ocidental contemporânea. A Teoria Estética postumamente publicada por Adorno, que ele planejava dedicar a Samuel Beckett, é o culminar de um compromisso ao longo da vida com a arte moderna, que tenta revogar a "separação fatal" de sentimentos e entendimentos há muito exigida pela história da filosofia e explodir os privilégios estéticos que a estética atribui ao conteúdo sobre a forma e à contemplação sobre a imersão.

Walter Benedix Schönflies Benjamin (Berlim, 15 de julho de 1892 — Portbou, 27 de setembro de 1940) foi um ensaísta, crítico literário, tradutor, filósofo e sociólogo judeu alemão. Associado à Escola de Frankfurt e à Teoria Crítica, foi fortemente inspirado tanto por autores marxistas, como Bertolt Brecht, como pelo místico Gershom Scholem.

Walter Benjamin

Dentre suas criações intelectuais, Benjamin articulou a teoria da história, da tradução, violência, tendências da recepção da obra de arte, dentre outras questões. A teoria de Benjamin surge no período pós-industrial, o qual influenciou as formas de se ver e se enxergar a sociedade, a política, a ciência e a arte. Os movimentos artísticos de vanguarda, como cubismo, surrealismo e dadaísmo, criaram novas formas de se expressar rompendo com os meios tradicionais. A invenção da câmera fotográfica também levantou diversas discussões entre os intelectuais do final do século XIX e início do século XX, que questionavam se a fotografia é ou não uma forma de arte. Em seu ensaio “A Obra de Arte na Época de sua Reprodutibilidade Técnica” Benjamin desenvolve sua teoria materialista da arte. O ponto central desse estudo encontra-se na análise das causas e consequências da destruição da "aura" que envolve as obras de arte, enquanto objetos individualizados e únicos. Com o progresso das técnicas de reprodução, sobretudo do cinema, a aura, dissolvendo-se nas várias reproduções do original, destituiria a obra de arte de seu status de raridade. Para Benjamin, a partir do momento em que a obra fica excluída das esferas aristocrática e religiosa, que fazem dela uma coisa para poucos e um objeto de culto, a dissolução da aura atinge dimensões sociais. Benjamin também foi um grande crítico das dimensões da obra de Franz Kafka e da literatura russa em geral, em especial do trabalho de Nikolai Leskov.

Max Horkheimer (Estugarda, 14 de fevereiro de 1895 – Nuremberga, 7 de julho de 1973) foi um filósofo e sociólogo alemão, famoso por seu trabalho em teoria crítica como membro da "Escola de Frankfurt" de pesquisa social.

Max Horkheimer

Em suas obras, Horkheimer abordou o autoritarismo, o militarismo, a ruptura econômica, a crise ambiental e a pobreza da cultura de massa, usando a filosofia da história como estrutura. Isso se tornou o fundamento da teoria crítica. Seus trabalhos mais importantes incluem Eclipse da Razão (1947), Entre filosofia e ciências sociais (1930-1938) e, em colaboração com Theodor Adorno, Dialética do Esclarecimento (1947). 

Herbert Marcuse (Berlim, 19 de julho de 1898 — Starnberg, 29 de julho de 1979) foi um sociólogo e filósofo alemão naturalizado norte-americano, pertencente à Escola de Frankfurt.

Herbert Marcuse 

Em suas obras escritas, Marcuse criticou o capitalismo, a tecnologia moderna, o materialismo histórico e a cultura do entretenimento, argumentando que eles representam novas formas de controle social. Seus trabalhos mais conhecidos são Eros e Civilização (1955) e O Homem Unidimensional (1964). De origem judia, emigrou com sua família,  e foi naturalizado Norte Americano, onde chegou a trabalhar  em um projeto de desnazificação . Criticou a ideologia do Partido Comunista da União Soviética no livro Marxismo Soviético: Uma Análise Crítica (1958). Após seus estudos, nas décadas de 1960 e 1970, Marcuse ficou conhecido como o principal teórico da Nova Esquerda e dos movimentos estudantis da Alemanha Ocidental, França e Estados Unidos. Seus estudos acadêmicos críticos e analíticos do marxismo inspiraram muitos intelectuais radicais e ativistas políticos nas décadas de 1960 e 1970, tanto nos Estados Unidos quanto internacionalmente.

Jürgen Habermas (Düsseldorf, 18 de junho de 1929) é um filósofo e sociólogo alemão que participa da tradição da teoria crítica e do pragmatismo

Jürgen Habermas

Jürgen Habermas dedicou sua vida ao estudo da Filosofia Política, da democracia, desenvolvendo a suas teorias do agir comunicativo (ou teoria da ação comunicativa), da política deliberativa e da esfera pública. Ele é conhecido por suas teorias sobre a racionalidade comunicativa e a esfera pública, sendo considerado um dos mais importantes intelectuais contemporâneos. Associado à Escola de Frankfurt, foi assistente de Theodor Adorno, tendo cooperado com este na crítica ao positivismo lógico, especialmente à influência deste na sociologia. Desenvolve sua teoria dos interesses cognitivos, em sintonia com o pensamento de Herbert Marcuse, especialmente em relação ao interesse emancipatório. 

Jean-Paul Charles Aymard Sartre (Paris, 1905 – Paris, 1980) foi um filósofo, escritor e crítico francês, conhecido como representante do existencialismo. 

Jean Paul Sartre

Durante seu exame de mestrado, a mesa pergunta ao jovem Sartre quantos Imperativos categóricos Kant apresenta na obra Fundamentação Metafísica dos Costumes. O jovem estudante caiu na "pegadinha" e responde "três!" Errado. É apenas um único imperativo apresentado de três formas diferentes.  A passagem diz muito, Sartre é um pensador de sua época. 

Sartre acreditava que os intelectuais têm de desempenhar um papel ativo na sociedade e foi um militante de causas políticas de esquerda e na resistência contra os alemães na Segunda Grande Guerra.  Em sua filosofia sustentava que a existência precede a essência, pois o homem primeiro existe, depois se define, enquanto todas as outras coisas são o que são, sem se definir. Dessa maneira, Sartre inverte toda a metafísica de Tomás de Aquino.

Sartre também é conhecido por seu relacionamento com a filósofa e escritora Simone de Beauvoir. Se o casamento era aberto, é fato que ambos estão enterrados juntos em Paris.

Sartre também foi amigo de Albert Camus, A Amizade entre amos durou até a publicação do  livro  O Homem Revoltado no qual Camus ataca o comunismo e o stalinismo. 

Um pouco mais de Sartre por Angela Becker. Não deixe de visitar o http://angelweing.blogspot.com/

Sartre II

Angela Weingärtner Becker

O Burguês, segundo Sartre
(conforme o livro "O século de Sartre" de Bernard-Henri Lévy (ed. Nova Fronteira)

Burguês é aquele que acredita que existe um “papel” e que encena a comédia do seu próprio papel, à custa dessa incessante e maravilhosa invenção de si. É o estado de espírito daquele que acredita que este papel existe, que ele tem um sentido, que o mundo é feito de um repertório de máscaras, bem ajustadas, em concordância: é alguém que “crê no mundo”, fecha-se às experiências da contingência e da náusea e vive na ilusão de que a sociedade é uma bela e boa máquina da qual ele seria um dos pistons e passará a maior parte de seu tempo na manutenção de seu piston. Antes de sair de um dicionário das virtudes e de se aplicar, por exemplo, a um torturador, um assassino, um fascista no sentido corrente, um pervertido, é uma categoria metafísica que designa um cara q não duvida de nada e sobretudo de sua própria existenciazinha nessa grande e vasta sociedade, em que encontrou seu papel e seu lugar, acha natural que haja Ser em vez de Nada e que por causa disso, por causa deste não-espanto primeiro, pela falta de questionamento e de senso filosófico, não vê por que se inquietar com o estilo da sociedade em que vive, nem com a natureza do regime que a governa, nem finalmente com a posição que ocupa nela. É alguém que vê o mundo como uma ordem e sua posição neste mundo como uma absoluta necessidade e vai considerar seus privilégios como de fato privilégios de direito e esmagar, muito logicamente, quem quer que pretenda atacar este direito. O que é mesmo um burguês? Não exatamente uma categoria política, nem uma classe social. É um modo de instalação no ser. É a parte que em cada homem conjuga a gravidade do espírito de seriedade e a ausência da dúvida. É burguês aquele que, achando necessária e legítima a ordem presente das coisas, dedica-se a traçar a dinastia dessa ordem. É burguês aquele que procura fundar sua certeza de que “bem antes de seu nascimento” estava o “seu lugar marcado, ao sol” de que “o mundo o esperava”, senão desde sempre, pelo menos há algumas gerações. É o lado “herdeiro” do burguês. É esse insuportável laço sucessorial. É burguês aquele que nunca duvidando da ordem instituída das coisas, nunca hesitando, por um segundo sequer, quanto a sua tenebrosa e profunda legitimidade, dedica-se a perenizá-la. Garantido pela certeza ser o mundo essa bela e boa máquina em que ele tem seu lugar bem marcado, vai naturalmente escorar-se para que nada mude e que seja conjurado qualquer eventual surgimento de alteralidade que possa vir a tudo revirar. É o lado “conservador” dos burgueses. É tendência deles perpetuar o que existe e, se possível, eternizá-lo. É burguês aquele que mesmo trabalhador ou proletário, sente-se enraizado, não apenas na sociedade, mas no mundo, não somente no mundo, mas no Ser. É burguesa a visão de um ser pleno, opaco, sem falha nem brecha, em que se teria, qualquer que seja seu estatuto social. “É burguês aquele que se dá o tempo de olhar bem o seu interior, para “o maciço granítico de seus gostos”. Tipo de existência do rochedo, a consistência, a inércia, a opacidade do ser-no-meio-do-mundo. Este que não tem a menor dúvida da natureza de seus gostos assim como a qualidade de sua inscrição neste mundo e pode responder com bom timbre “eis os meus gostos, eis o que sou, isto sou eu, eu sou o fulano de tal por inteiro”. 

Simone Lucie-Ernestine-Marie Bertrand de Beauvoir, mais conhecida como Simone de Beauvoir (Paris, 1908 – Paris, 1986), foi uma escritora, intelectual, filósofa existencialista, ativista política, feminista e teórica social francesa. 

Simone de Beauvoir

Por Dilva Frazão

Simone de Beauvoir  desde a adolescência já pensava em ser escritora. Estudou Filosofia na Universidade de Sorbonne, onde entrou em contato com outros jovens intelectuais como René Maheu e Jean-Paul Sartre, com quem manteve um longo e polêmico relacionamento.  Ainda jovem foi nomeada professora de Filosofia na Universidade de Marseille e posteriormente foi transferida para Ruen. Em 1943, retornou à Paris como professora de Filosofia do Lycée Molière. 
Simone de Beauvoir manteve um relacionamento aberto e um compartilhamento intelectual com o filósofo Jean-Paul Sartre por mais de 50 anos. Nunca chegaram a se casar ou a ter filhos. Sua convivência com Sartre fez com que muitos dos seus pensamentos tivessem influência no existencialismo sartreano.
Simone foi uma “filósofa existencialista” que enfatizava a “liberdade e a reflexão” sobre a colocação da mulher na sociedade, tornando-se estes os principais pilares para a formação do se pensamento. Simone possuía a habilidade de refletir profundamente sobre o cotidiano da vida, observando as falhas e as injustiças sociais que passavam despercebidas pela maioria das pessoas.
Em 1945, Simone e Sartre fundaram a revista política, literária e filosófica de extrema esquerda, “Os Tempos Modernos” para maior divulgação do existencialismo.
Após a morte de Sartre, Simone se entregou ao álcool e às anfetaminas, faleceu em Paris, no dia 14 de abril de 1986, vítima das complicações decorrentes de uma pneumonia. Foi enterrada no cemitério de Montparnasse em Paris, junto de seu companheiro.

Algumas Frases de Simone de Beauvoir:
“Viver é envelhecer, nada mais.”
“Querer ser livre é também querer livres os outros.”
“O opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos.”
“Nada, portanto, nos limitava, nada nos definia, nada nos sujeitava, nossa ligação com o mundo, nós é que as criávamos, a liberdade era nossa própria substância.”
“Era-me mais fácil imaginar um mundo sem criador do que um criador carregado com todas as contradições do mundo.”
“É pelo trabalho que a mulher vem diminuindo a distância que a separava do homem, somente o trabalho poderá garantir-lhe uma independência concreta.”
“Que nada nos defina. Que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa própria substância.”

Emil Cioran (Romênia 1911 — França, 1995) foi um escritor e filósofo romeno radicado na França.  Seu pensamento apresenta influencias do pessimismo de Schopenhauer, do ceticismo de Montaigne, cinismo de Diógenes, do niilismo de Nietzsche e um antinatalismo próprio. A condição humana frente à vida, a morte, a obsessão, a ideia de suicídio e o vazio são temas privilegiados em sua obra.

E. Cioran

Breviário de Decomposição

"Em si mesma toda ideia é neutra ou deveria sê-lo. mas o homem a anima, projeta nela suas chamas e suas demências; impura, transformada em crenças, insere-se no tempo, toma a forma de acontecimento: a passagem da lógica à epilepsia está consumada... Assim nascem as ideologias, as doutrinas e as farsas sangrentas. "

Louis Althusser (Argélia, 16 de outubro de 1918 — França 1990) foi um filósofo do Marxismo Estrutural de origem Francesa nascido na Argélia.

Louis Althusser

Louis Althusser ficou  conhecido como professor marxista e teórico das ideologias, e seu ensaio mais conhecido é Ideologia e Aparelhos Ideológicos do Estado. Nesse ensaio Althuesser estabelece seu conceito de ideologia, relacionando marxismo com psicanálise. A ideologia, para ele, deriva dos conceitos do inconsciente e da fase do espelho (de Freud e Lacan, respectivamente), e descreve as estruturas e sistemas que permitem um conceito significativo do eu. Estas estruturas, para Althusser, são tanto agentes de repressão quanto são inevitáveis - é impossível escapar das ideologias ou não lhes ser subjugado.

Em 16 de novembro de 1980 Althusser estrangula e mata a sua companheira Hélène Rytmann durante um surto psicótico. Em livro sobre o episódio Althusser afirma não se lembrar claramente do fato, alegando que, enquanto massageava o pescoço da mulher, descobriu que a tinha matado. A justiça considerou-o incapaz e inimputável no momento dos acontecimentos e inocentado em 1981.

Michel Foucault (1926 – 1984) foi um filósofo, historiador das ideias, teórico social, filólogo, crítico literário e professor da cátedra História dos Sistemas do Pensamento, no célebre Collège de France, de 1970 até 1984 (ano da sua morte).

Michel Foucault

As teorias de Foucault abordam a relação entre poder e conhecimento e como eles são usados ​​como uma forma de controle social por meio de instituições sociais. Embora muitas vezes seja citado como um pós-estruturalista e pós-modernista, Foucault acabou rejeitando esses rótulos, preferindo classificar seu pensamento como uma história crítica da modernidade. Seu pensamento foi muito influente tanto para grupos acadêmicos, quanto para ativistas.

Considerado como sucessor do método genealógico nietzscheano, as críticas de Foucault às instituições sociais, especialmente à psiquiatria, à medicina, às prisões, e por suas ideias sobre a evolução da história da sexualidade, suas teorias gerais relativas ao poder e à complexa relação entre poder e conhecimento, outorgaram ao seu pensamento seu pensamento uma identidade única.

Abaixo trecho que demonstra o tipo da genealogia Foucault:

“[Damiens fora condenado, a 2 de março de 1757], a pedir perdão publicamente diante da poria principal da Igreja de Paris [aonde devia ser] levado e acompanhado numa carroça, nu, de camisola, carregando uma tocha de cera acesa de duas libras; [em seguida], na dita carroça, na praça de Greve, e sobre um patíbulo que aí será erguido, atenazado nos mamilos, braços, coxas e barrigas das pernas, sua mão direita segurando a faca com que cometeu o dito parricídio, queimada com fogo de enxofre, e às partes em que será atenazado se aplicarão chumbo derretido, óleo fervente, piche em fogo, cera e enxofre derretidos conjuntamente, e a seguir seu corpo será puxado e desmembrado por quatro cavalos e seus membros e corpo consumidos ao fogo, reduzidos a cinzas, e suas cinzas lançadas ao vento.1 Finalmente foi esquartejado [relata a Gazette d’Amsterdam].2 Essa última operação foi muito longa, porque os cavalos utilizados não estavam afeitos à tração; de modo que, em vez de quatro, foi preciso colocar seis; e como isso não bastasse, foi necessário, para desmembrar as coxas do infeliz, cortar-lhe os nervos e retalhar-lhe as juntas... Afirma-se que, embora ele sempre tivesse sido um grande praguejador, nenhuma blasfêmia lhe escapou dos lábios; apenas as dores excessivas faziam-no dar gritos horríveis, e muitas vezes repetia: “Meu Deus, tende piedade de mim; Jesus, socorrei-me”. Os espectadores ficaram todos edificados com a solicitude do cura de Saint-Paul que, a despeito de sua idade avançada, não perdia nenhum momento para consolar o paciente. [O comissário de polícia Bouton relata]: (...)” 

Dos Delitos e das Penas

Gilles Deleuze (1925 - 1995) foi um filósofo e escritor francês. Algumas de suas obras principais são: "Crítica e clínica" (1997), "Lógica do sentido" (2015), "Diferença e repetição" (2018) e "Nietzsche e a filosofia" (2018).

Gilles Deleuze: Para o que Serve a Filosofia ?

“Quando alguém pergunta para que serve a filosofia, a resposta deve ser agressiva, visto que a pergunta pretende-se irônica e mordaz. A filosofia não serve nem ao Estado, nem à Igreja, que têm outras preocupações. Não serve a nenhum poder estabelecido. A filosofia serve para entristecer. A filosofia que não entristece a ninguém e não contraria ninguém, não é uma filosofia. A filosofia serve para prejudicar a tolice, faz da tolice algo de vergonhoso. Não tem outra serventia a não ser a seguinte: denunciar a baixeza do pensamento sob todas as suas formas. Existe alguma disciplina, além da filosofia, que se proponha a criticar todas as mistificações, quaisquer que sejam sua fonte e seu objetivo? Denunciar todas as ficções sem as quais as forças reativas não prevaleceriam. Denunciar, na mistificação, essa mistura de baixeza e tolice que forma tão bem a espantosa cumplicidade das vítimas e dos algozes. Fazer, enfim, do pensamento algo agressivo, ativo, afirmativo. Fazer homens livres, isto é, homens que não confundam os fins da cultura com o proveito do Estado, da moral, da religião. Vencer o negativo e seus altos prestígios. Quem tem interesse em tudo isso a não ser a filosofia? A filosofia como crítica mostra-nos o mais positivo de si mesma: obra de desmistificação. [...] tolice e a bizarria, por maiores que sejam, seriam ainda maiores se não subsistisse um pouco de filosofia para impedi-las, em cada época, de ir tão longe quanto desejariam, para proibi-las, mesmo que seja por ouvir dizer, de serem tão tolas e tão baixas quanto cada uma delas desejaria. Alguns excessos lhes são proibidos, mas quem lhes proíbe a não ser a filosofia? Quem as força a se mascararem, a assumirem ares nobres e inteligentes, ares de pensador? Certamente existe uma mistificação propriamente filosófica; a imagem dogmática do pensamento e a caricatura da crítica são testemunhos disso. Mas a mistificação da filosofia começa a partir do momento em que esta renuncia a seu papel... desmitificado e faz o jogo dos poderes estabelecidos, quando renuncia a contrariar a tolice, a denunciar a baixeza.”

Félix Guattari (Villeneuve-les-Sablons, Oise, 30 de abril de 1930 — Cour-Cheverny, 29 de agosto de 1992) foi um filósofo, psicanalista, semiólogo, roteirista e ativista revolucionário francês. Foi um dos fundadores dos campos da esquizoanálise e ecosofia.

Félix Guattari

Félix Guattari foi um dos fundadores dos campos da esquizoanálise e ecosofia. Guattari também é conhecido por suas colaborações com Gilles Deleuze. Guattari produziu uma grande quantidade de textos, relacionou-se de forma produtiva com muitas das figuras mais importantes das últimas três duas ou quatro décadas, militou política e ativamente tanto nas organizações tradicionais, como na maioria das alternativas importantes do seu tempo cronológico, foi criador de uma série de movimentos e fundador de uma série de dispositivos políticos que tiveram um papel importantíssimo nas tentativas de transformação do que é o mundo moderno e pós-moderno.

Entre os conceitos e noções criadas por Guattari, estão os de transversalidade, ecosofia, caosmose, desterritorialização, ritornelo, singularidade, produção de subjetividade e capitalismo mundial integrado. Teorizou também sobre a questão da transdisciplinaridade, do desejo, das instituições e foi, juntamente com Deleuze, o mais profundo crítico da psicanálise.

Atuou e teorizou nos temas da homossexualidade - chegando a ser preso por seus ditos e escritos — travestilidade, feminismo, anticolonialismo e outros movimentos minoritários, além das temáticas anarquistas e comunistas. É um dos principais percursores e referências da reforma psiquiátrica no mundo, juntamente com o italiano Franco Basaglia e outros. É também considerado um dos principais expoentes do pós-estruturalismo francês.

Slavoj Zizek (Iugoslávia, 21 de março de 1949 -  ) é um filósofo esloveno, nascido na antiga Iugoslávia.

Slavoj Zizek

Žižek é chamando de "filósofo celebridade", de "Elvis da teoria cultural" e "filósofo mais perigoso do mundo" por misturar alta e baixa cultura. Em seu pensamento Zazek trabalha temas como filosofia continental, teoria política, estudos culturais, psicanálise, crítica de cinema, metalinguagem, marxismo, hegelianismo e teologia.

"Recorde-se De olhos bem fechados, de Stanley Kubrick: só a fantasia de Nicole Kidman é de fato uma fantasia, enquanto a de Tom Cruise é uma falsificação reflexiva, uma tentativa desesperada de recriar/atingir de forma artificial a fantasia, um fantasiar desencadeado pelo encontro traumático com a fantasia do outro, uma tentativa desesperada de responder ao enigma dessa fantasia. Que cena/encontro fantasiado a marcou tão profundamente? O que Tom Cruise faz em sua noite de aventura é uma espécie de deanibulação em busca de fantasias. Cada situação em que se encontra pode ser interpretada como uma fantasia realizada — primeiro, a fantasia de ser o objeto da paixão da filha de seu doente; depois, a fantasia de encontrar uma espécie de prostituta que nem sequer pretende receber dinheiro; em seguida, o encontro com o estranho proprietário sérvio (?) da loja de aluguel de máscaras, que é o proxeneta de sua jovem filha; e, por fim, a grande orgia na mansão dos subúrbios... Isso explica o caráter estranhamente contido, rígido, e mesmo impotente, da cena da orgia, que constitui o apogeu da aventura. O que muitos críticos menosprezaram, considerando a descrição da orgia como ridiculamente asséptica e ultrapassada, funciona a seu favor, expressando a paralisia da "capacidade de fantasiar" do herói. Isso explica também a eficácia do plano de Nicole Kidman, que dorme com a máscara a seu lado, sobre o travesseiro do marido: nessa versão de "a morte e a donzela" , ela de fato "rouba os sonhos dele" ao unir-se com essa máscara, que representa aqui seu duplo espectral fantasmático. E, por fim, isso justifica também, de maneira plena, a conclusão aparentemente vulgar do filme, quando ele, após confessar sua aventura noturna a Nicole Kidman, ou seja, depois de se confrontarem ambos com o excesso de seu fantasiar, ela, depois de se assegurar de que agora estão bem acordados, de volta ao dia, e de que para sempre, ou pelo menos por muito tempo, ficarão ali, ao abrigo das fantasias, diz-lhe que têm de fazer uma coisa, logo que possível. "O quê?" , pergunta ele, e ela responde: "Foder". Fim do filme, passa o genérico final. Nunca o cinema mostrou de maneira tão abrupta a natureza da passage à l'acte como a falsa saída, como o modo de evitar enfrentar o horror do inferno fantasmático. A passagem ao ato, em vez de lhes proporcionar uma satisfação física real que tornaria supérfluas as fantasias vazias, é apresentada como um subterfúgio, como uma medida preventiva desesperada, destinada a manter à distância o inferno espectral das fantasias. É como se a mensagem que ela veicula fosse a seguinte: vamos foder o mais rápido possível para sufocar as fantasias que proliferam, antes que elas nos dominem outra vez... A perspicaz frase de Lacan de que o despertar para a realidade é uma fuga ao real encontrado no sonho aplica-se particularmente bem ao ato sexual: não sonhamos com foder quando não somos capazes de o fazer. Fodemos para iludir e sufocar o excesso do sonho que, de outro modo, nos submergiria. Assim, voltando a A liberdade é azul, o que temos na longa cena final é fantasia em seu estado mais puro, ou seja, o quadro fantasmático reconstituído, que permite a Julie manter o impossível/real do sexo." Lacrimae Rerum 

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