Artes
A arte aqui é apresentada como cultivo do belo, do harmonioso, do sensível. É a manifestação humana que vai para além das categorias da moral e do real. A arte amplia nossa percepção, criatividade e consciência do mundo. A arte nos educa e é capaz de entreter. É a mais elevada manifestação do anímico em suas duas formas básicas: a apolínea e a dionisíaca.
Pois ninguém pode ser culpado ser nascer com os olhos azuis ou castanhos
Hermaphodite Endormi
Esta obra do Musée du Louvre é um chef d'oeuvre de mármore do século II. Retocada no século XVII pelo genial escultor italiano Bernini que vai deita-la sobre um colchão de mármore. Uma escultura que perturba, difícil de dividir com as pessoas que te acompanham sua impressões
Hermaphodite Endormi II
De outro ângulo nota-se os traços masculinos e femininos em um só corpo.
O Relicário do Espinho Sagrado (década de 1390)
O RELICÁRIO DO SANTO ESPINHO
Por Angela Becker
Há 600 anos, religião e sociedade eram tão ligadas, q era impossível separar. Mundano e não-mundano se confundiam. Sabemos q no mundo cristão medieval o sangue de Cristo salvava para a eternidade. O objetivo da vida terrena era salvar a alma e as relíquias dos santos davam passagem para o Paraíso. Imaginem só, o que representava a coroa!
Vejam esta história do Relicário do Santo Espinho, da coroa de Cristo. O percurso até o Museu é muito interessante.
O Relicário era um objeto luxuoso onde se acreditava estar guardado um espinho afiado, longo e legítimo da coroa de Cristo. Objeto preciosíssimo, pois o sangue de Cristo era a única esperança de salvação da danação eterna. A coroa inteira está guardada em Paris, Notre Dame, salva, por sorte, do fogo q a consumiu recentemente.
Antes ficava na belíssima Sainte-Chapelle (1240 igreja -palácio dos reis de França) construída para guardar a coleção mais preciosa da Europa na época. E este era o objeto supremo. A Coroa de Cristo custou 40 mil libras francesas, 3 vezes mais do q a igreja construída para abrigá-la.
Eu conheci a Igreja Sainte-Chapelle numa manhã radiante, onde os raios do sol atravessavam os ricos vitrais, ao som de Vivaldi. Concluí na hora q não poderia haver coisa mais maravilhosa do que aquela.
O Relicário do Santo Espinho mede 20 cm de altura. Ouro maciço incrustado de pérolas e pedras preciosas. É um pequeno teatro onde ocorre o drama aterrador do fim do mundo, qdo os mortos se levantarão para o julgamento final, os túmulos se abrirão. Vê-se ali 2 homens e 2 mulheres nus (em esmalte branco) q, desde o caixão, olham para cima com as mãos em súplica. 4 anjos soam as trombetas. No topo está Deus todo poderoso esperando para dar o juízo eterno a cada um. O foco está no meio,
Cristo mostrando suas chagas e o espinho.
Impossível imaginar o poder deste objeto para o homem medieval europeu- diz Neil Mc Gregor autor do livro onde tirei estas informações.
Não há como provar a veracidade do espinho, mas este tipo de arbusto ainda existe nos arredores de Jerusalém. A primeira menção à coroa foi feita em Jerusalém por volta do ano 400. Mais tarde a levaram para Constantinopla. Só depois de 1200 o Imperador indigente penhorou a coroa aos venezianos por soma gigantesca. O rei francês, Luís IX, (depois São Luís) liquida a dívida em troca da relíquia.( O dinheiro compra tudo).
O poder da coroa era tão grande aos olhos medievais q o rei Luís vai construir uma igreja completa para ela. Na inauguração da Sainte-Chapelle o arcebispo proclama “Assim como Cristo escolheu a Terra Santa para a Redenção dos homens, escolheu nossa França para a veneração do triunfo da Paixão”.
Numa complexa economia medieval, onde o sagrado estava tb a serviço do profano, um espinho era o melhor presente diplomático. Um deles virou propriedade (séc XIV) do príncipe francês Jean, Duque de Berry e na descrição q está no British Museum diz q ele teria comprado algumas das melhores relíquias cristãs pois era apaixonado colecionador. Tinha tb a aliança de casamento da Virgem, uma taça usada nas Bodas de Caná, um fragmento da Sarsa Ardente, o corpo inteiro de uma santa criança assassinada por Herodes.
O Relicário fez parte do tesouro dos Habsburgos, em Viena, e a partir daí começou a sua secularização. O material de ouro e pedras valiam mais do q o espinho em si. Em 1860, foi enviado a um antiquário para restauração q o falsificou. Devolveu o falso, ficando com o original. Depois o genuíno foi comprado pelo chefe da filial do banco Rothschild e doado ao British Museum.
Hoje ainda -diz Mac Gregor- diante do Relicário exposto no Museu, chegam pessoas com intuito devocional e de oração. E a coroa de espinhos inteira, guardada na Notre Dame, ainda é mostrada à multidão como objeto devocional depois de seiscentos e tantos anos.
Giotto di Bondone, mais conhecido por Giotto (Colle Vespignano, atual Vicchio, 1267 — Florença, 8 de janeiro de 1337), foi um pintor e arquiteto italiano. Foi discípulo de Cinni di Pepo (conhecido por Cimabue). Devido ao alto grau de inovação de seu trabalho (ele é considerado o introdutor da perspectiva na pintura da época), Giotto é considerado por Giovanni Boccaccio o precursor da pintura renascentista. Ele é considerado o elo entre o renascimento e a pintura medieval e a bizantina.
Giotto
Por Angela Becker
A meta, no entanto, era ver Giotto na Cappela degli Scrovegni.
Este pintor liberou a linguagem pictórica da tradição medieval. Deu um largo passo em direção à Renascença.
Conta-se que Cimabue, grande mestre da pintura do século XIII, em viagem pelos arredores de Florença, vê um pastor de seus 13 anos de idade, desenhando numa pedra. Encantado com o que viu, leva-o para seu atelier, torna-o aluno de pintura. Logo é superado pelo discípulo. O mestre era ainda rígido e convencional, de acordo com a tradição bizantina. Giotto tem uma mão ousada, dramática. Cria volumes e preciosos efeitos de cor.
Extraordinária força criativa e naturalismo, levam-no ao ápice da grandeza no ofício e plenamente reconhecido em sua época. É chamado para pintar por toda a Itália, inclusive à Pádua. (1303-1305). Lá, trabalha na Basílica de Santo Antônio e, a pedido de Enrico Scrovegni, faz a superfície inteira do interior da capela. Capela esta que seria ofertada a Deus em troca do perdão ao pai usurário...
A Capela, totalmente restaurada, possui a obra melhor conservada de Giotto, uma preciosidade que salta aos olhos logo ao entrar.
Vê-se um filme explicativo, e depois a visita que nos envolve. Teto estrelado, de um azul “só visto em asa de borboleta” me acode uma frase de Guimarães Rosa. Paredes com a história da Virgem, doces cores, cenas domésticas. Nuances coloridas dão volume e extraordinária dramaticidade. No afresco “A prisão de Cristo” podemos ver o abraço que trai o mestre. Há um grande tumulto, as figuras falam em desespero e estupefação. São mares nunca dantes navegados em pintura. Era o início da Renascença.
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Saímos de lá com a certeza íntima de ter visto uma joia da pintura universal.
Pádua, cidade que eu escolheria para morar. Pequena e grande, me enchia de magia o coração enquanto passávamos, à noite, pelo Observatório de Galileu. A abóboda celeste imensa e estrelada, estrelada. Giotto copiou-a, sempre que possível.
A Capela Azul de Giotto
Ver mais no Blog de Angela Becker, no site abaixo.
Albrecht Dürer (Nuremberg, 21 de maio de 1471 — Nuremberg, 6 de abril de 1528) foi um gravador, pintor, ilustrador, matemático e teórico de arte alemão e, provavelmente, o mais famoso artista do Renascimento nórdico.
ALBRECHT DÜRER (1471-1528)
Por Angela Becker
Ele não tinha só toda a técnica do seu tempo.
Tinha também talento, imaginação, intuição, e uma tremenda sinceridade.
Albrecht foi o terceiro dos 18 filhos de seu pai que veio da Hungria e instalou-se em Nuremberg com a família.
Ourives como o pai e o avô, Albrecht tinha destino traçado. Era nobre ser ourives e na oficina reuniam-se os intelectuais e de poder. Depois de poucos anos de escola, estava ele lá, gravando em ouro e prata, começo de uma enorme carreira deste que foi considerado o Leonardo da Vinci do norte da Europa.
Por quatro anos estuda xilogravura na melhor oficina da época a atividade que mais tarde, ele mesmo, vai elevar à dignidade de "Arte". Neste campo das artes gráficas não teve rival. Nesta época a reprodução por gravuras era um meio poderoso de propaganda religiosa. A Reforma de Lutero já estava no horizonte.
Terminado este aprendizado, planeja encontrar em Colmar o maior mestre gravador em cobre que se tinha notícia. Quando chega soube que ele havia falecido. Mas fica na oficina e absorve tudo com os discípulos.
De lá vai para a Basiléia, Suíça, centro livreiro, estudar sobre impressões.
Segue para o norte da Itália, berço do Renascimento, aspiração maior para um artista.
Com a bagagem cheia de conhecimento, volta para Nuremberg para abrir sua própria oficina e casar.
Agnes Frey, esposa arranjada, não tem filhos e não gosta do gênio artístico ao seu lado. Há cartas em que ele relata aos amigos esta situação.
Na série de xilogravuras do “Apocalipse de São João” talvez sua obra mais famosa, traça visões aterradoras do Juízo Final jamais descritas.
Ele fez tudo: desenhou as ilustrações, gravou e imprimiu.
O público vibra com as cenas cruas, aterroriza-se, comenta os detalhes do acontecimento fatal acreditando que o apocalipse transcorreria ainda no decorrer de suas vidas. Dürer pintou o Anjo São Miguel enterrando a lança na goela do dragão com a fúria que todos queriam ver. Monstros diabólicos pelejam com anjos e os anjos não fazem pose (como era no gótico).
Visionário e detentor de toda a tradição ocidental e toda a técnica da época, Dürer desenhava e pintava com maestria.
A natureza, arvores, flores, céu, animais detalhe por detalhe são cuidados com atenção individual e olhar absorto. Num quadro onde pinta uma lebre, o animal parece vivo. Na “Natividade” imprime um ar plácido, repousante e contemplativo. Em “Adão e Eva” distorce habilmente os corpos adaptando regras para descobrir a melhor harmonia. Ele tinha toda a técnica e a liberdade interior do gênio. Alargava ou alongava conforme achava melhor excelência.
Vai pela segunda vez a Veneza e lá conhece Bellini que reconhece nele toda a capacidade. Em carta a um amigo diz: “Aqui sou um senhor, no meu país sou um parasita” queixando-se da rigidez das guildas (oficinas) de Nuremberg onde a ordem do imperador Maximiliano I eram rígidas ditando como proceder com tintas e métodos, já que a Arte estava a serviço do sacro império germânico e Dürer era o pintor oficial da corte.
Com 50 anos visita os Países Baixos e é recebido como um fidalgo. Teria dito em carta que num jantar em sua homenagem os convidados inclinaram-se para que passasse em sinal de honra.
Em 1528, ano de sua morte, foram publicados os quatro livros do seu próprio tratado de proporções onde escreve “Afirmo que a beleza e a forma perfeitas estão contidas na soma de todos os homens”.
Albrecht Dürer extremamente culto e talentoso deixa uma obra espetacular, ele que resumia em si toda a Arte ocidental da época, como disse um historiador de Arte:
“Dürer era um artista tão grandioso, um pensador tão profundo e abrangente, que quase se constituía, ele mesmo, numa Renascença”. Teve mesmo a reputação de ser o Da Vinci nórdico.
Há uma boa história sobre um ícone de Dürer, um rinoceronte que ele desenhou mesmo sem ter visto um. Hoje ainda este rinoceronte frequenta as lojinhas de museus de todo o mundo em camisetas, posters, xícaras, chaveiros de lembranças. O detalhe é que o rinoceronte não confere com a realidade. Mas quem se importa?
"Jesus entre os Doutores" Albrecht Durer,1506.
Museu Thyssen-Bornemisza, Madri.
Uma análise/depoimento de Angela Becker sobre o David de Michelângelo
O David de Michelângelo
Entrei na Galleria dell’Accademia, Firenze, em raro momento de calma. Pude sentar diante do David, de Michelângelo. Apreciá-lo demoradamente. Tatear com meus olhos cada pedaço da obra, os pés, as veias das mãos, o pescoço forte, a sua nudez.
Eu tivera experiência semelhante com Moisés, em Roma. Quando cheguei, o padre encarregado estava fechando a Igreja. Pedi para entrar: “no, no, chiuso” não, fechado, disse, sem mesmo me olhar. Em seguida, abanando a mão, resmungou “ah va, va,va!” E fui. O prazer de estar sozinha com aquela obra-prima foi único. Quase um fetiche. Pude sentir a majestade, a imponência do líder. Ao concluir a obra, o próprio Michelângelo admira-se de sua perfeição e diz: “Perché non parli?” Por que não falas?
Agora eu estava diante de David. A escultura é do tipo que impõe silêncio na sala. Mesmo com pouca gente naquela hora, estava mergulhado num mundo feito de silêncio e formas. A estátua é uma autoridade em si. Pelos 5,17m, pela perfeição, pelo realismo anatômico. Impressionante. Não há a menor dúvida de que estamos diante de algo muito, muito grandioso.
Michelângelo encontrou um enorme bloco de mármore de Carrara, abandonado ao lado de uma igreja. De 1501 a 1503, se fecha numa casa perto da catedral e esculpe o David. Reinventa o tema do “nu heróico”. E o nu passa a ser a sua especialidade.
Ele não teve um mestre para a escultura. Quando perguntavam quem foi seu mestre, ele dizia que seu talento viera através do leite da esposa do mestre de cantaria, que o amamentara. Uma maneira brincalhona de dizer que ninguém lhe ensinara.
A presença de Michelângelo marca todo um século. Ele sempre se considerou escultor e não pintor. Ele diz “a escultura é a lanterna da pintura” (tem rixa intelectual com Leonardo da Vinci que defende a pintura como arte maior). Leonardo dizia que a escultura era uma arte manual, como o fazer de um pedreiro, um padeiro. “O pintor sabe fazer a tridimensionalidade no plano. O desenho é “cosa mentale”, dizia.
Michelangelo usa a “licença”, a maneira de fazer. Graças a ele o artista adquiria esta liberdade. Ele se torna um modelo a ser imitado.
No texto de Vasari diz: “Michelângelo é filho de Florença, discípulo de Giotto , filho dos Médicis”. Diz ainda: “a configuração das constelações fez com que Deus fizesse Michelângelo nascer em Florença”.
Tanto em Vasari como em Condivi, biógrafos do artista dizem que ele fora criado por Deus. Cristo e Michelângelo são enviados por Deus. O próprio Michelângelo quis que assim fosse considerado.
Michelângelo nunca mede seus esboços, é tudo no “olho”. Ele diz: “o compasso está no olho”. As proporções são fundamentadas na ótica. Ele dá novo status ao artista. Tem uma extraordinária presença, dialoga com papas, príncipes, de igual para igual.
Michelângelo era de uma religiosidade cristã profunda Ele foi o topo de um percurso histórico da cultura florentina. E da Itália. E do mundo Ocidental.
Mas, sentada diante do David, eu me perguntava, diante dela mesma, se realmente aquela obra existia, naquele tamanho, naquela grandeza, naquela perfeição. Era uma situação de “me belisquem, por favor".
Angela Weingärtner Becker
BENVENUTO CELLINI (1500-1571) e o saleiro de ouro
BENVENUTO CELLINI (1500-1571)
BENVENUTO CELLINI (1500-1571)
e o saleiro de ouro
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Por Angela Becker
Em janeiro de 2006, a polícia da Áustria recupera uma obra-prima renascentista pertencente ao Museu de História da Arte, Viena. O saleiro, centro de mesa de ouro, esmalte e ébano era avaliado em 50 milhões de euros. O autor da maravilha foi o italiano florentino, Benvenuto Cellini.
Em maio de 2003, um ladrão entrou pela janela, por um andaime de construção, e roubou a escultura sem que ninguém o visse. Ele dirigia uma empresa de alarmes.
Isto foi um dos mais espetaculares roubos dos últimos anos.
Tudo em estilo cinematográfico. Perseguição nas ruas de Viena, imprensa, FBI, telefonemas, filmagens, “procura-se”, negociações. E o mundo em expectativa.
O suspeito, de 50 anos, "colecionou escultura na sua juventude e continua a sentir um fascínio por ela", justificou-se. Ele pedia um resgate de dez milhões de euros.
Ao final, acabou por confessar e apresentar-se à polícia. Levou os detectives a um bosque onde a peça estava enterrada. Depois de escavarem na neve, os agentes recuperaram uma caixa metálica onde estava embrulhado, em linho e plástico, o saleiro de Cellini.
Durante os três anos, a escultura esteve escondida no apartamento do suspeito.
O "Saleiro de Ouro" é considerado a "Mona Lisa" das esculturas, única obra de ourivesaria conservada, do florentino Cellini. O artista fez a obra em Paris, entre 1540 e 1543, a pedido do rei Francisco I da França.
Mede 26 centímetros e compõe-se de duas figuras, Ceres e Netuno, representando a Terra e a água. Suas pernas entrecruzadas simbolizam a união desses elementos que, juntos, produzem o sal.
Cellini foi um famoso ourives, escultor, gravador, pintor. Trabalhou para imperadores, reis, papas e príncipes. Ele mesmo, lá em sua época, foi acusado de roubo de objetos papais. Sua biografia é bem interessante.
Benvenuto Cellini nasceu em Florença, filho de um fabricante de instrumentos musicais. Não seguiu a música como queria o pai. Foi trabalhar como aprendiz de joalheiro. Inquieto, briguento, pegou a estrada em direção à Roma, sonho e destino dos artistas da época.
Seu primeiro trabalho como ourives foi um "saleiro de prata" encomendado por um cardeal que ficou tão maravilhado que saiu a exibi-lo pela cidade. Mais tarde irá fazer o saleiro de ouro, este, que em 2003 foi roubado do museu na Áustria.
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Em torno do Papa Clemente VII, reuniam-se os melhores artistas. Cellini, hábil como artesão, hábil nas relações sociais, introduziu-se neste seleto círculo.
Uma guerra entre França e Espanha devastava o norte da Itália e, em 1527, chega até Roma. Cellini, refugiado no Castelo de Sto Ângelo, comanda um grupo e, juntos travam memoráveis batalhas expulsando os invasores.
Cellini é tido como herói de Roma.
Volta à sua paixão, o trabalho de ourivesaria. Para o papa Clemente VII faz diversos trabalhos, inclusive um medalhão de ouro com a imagem do pontífice. Em 1534, assume um novo papa, Paulo III, que o mantém. Na época, era o maior artista em sua especialidade.
O esplendor da obra de Cellini é um exemplo perfeito da escola maneirista que buscava atingir a emoção através de efeitos estéticos. O maneirismo, é uma arte “de corte”, de um intelectualismo refinado.
Bom lembrar que Cellini vinha de Florença onde os Médicis governavam. Lá as técnicas de ourivesaria, tecelagem, cerâmica, não eram consideradas “menores”. O status do artesanato era de Arte. Assim, artistas de prestígio trabalhavam na produção artesanal oferecendo desenhos, modelos. Cellini foi um caso típico de artista-artesão, ourives, restaurador acurado, habilidoso pintor e principalmente escultor.
Infelizmente, a maioria das obras pequenas de Cellini, como medalhas, taças e adagas, foram fundidas. E o medo das autoridades de Viena quanto ao saleiro roubado era bem este: de ser derretido.
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No início da década de 1540, Benvenuto Cellini vai a Paris. O rei da França, Francisco I, oferece-lhe um lugar na corte, mas ele não aceita. Volta para Roma.
Chegado à intrigas, cheio de inimigos, é preso, acusado de ter roubado joias do tesouro pontifício.
Com a ajuda de amigos, nada é provado, é solto. Resolve voltar para a França onde se dedica à produção de peças encantando a corte francesa.
O ano de 1540 foi o mais produtivo de sua vida. Para Francisco I faz “O Saleiro de Ouro" e a "Ninfa de Fontainebleau".
Torna a voltar para a Itália onde passa a trabalhar para o Duque Cosimo de Médici, em Florença. Lá cria peças admiráveis.
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Toda a vida solteiro, resolve casar com sua governanta. Então se aquieta, abandona a vida tumultuada e produz belíssimas obras escritas sobre sua vida, sua arte, e com isso compõe um quadro vivo do homem da Renascença.
Cellini produziu trabalhos em ouro, prata, bronze e mármore, hoje expostas em vários museus. Também as famosas estátuas de “Perseu” (Logi dei Lanzi, Praça da Signoria, Florença). "Narciso", "O Cristo na Cruz" , (está em Madri) e "Cosimo I de Médici" e "Apolo e Jacinto", talhados em mármore, estão no Museu Nacional de Florença.
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Cellini, este homem renascentista de múltiplos talentos, faleceu em Florença no ano de 1571.
Hieronymus Bosch coroa a vista ao Museo Nacional Del Prado
Hieronymus Bosch
Por
Angela Weingärtner Becker
Ele, tão misterioso quanto suas pinturas, adotou o final do nome de sua cidade holandesa “s’Hertogenbosch”. Enigmática a obra, enigmática a vida. Fantástico, misterioso, aterrador. Um galerista com quem conversei afirmava, como muita gente o faz, que Bosch era surrealista. O Surrealismo supõe que o inconsciente seja a matéria da arte. Ora, na época de Bosch não existia o conceito de inconsciente (morre em 1516). Mas como duvidar de que “O Jardim das Delícias” seja matéria vinda do mais recôndito eu ? Salvador Dalí teria se inspirado em um detalhe deste quadro para fazer o seu “El Gran Masturbador”.
Dalí era um surrealista de cânone. Conhecia a obra de Freud, observava os manicômios, conhecia o fluxo de consciência. Bosch, não. Era um religioso. Sua obra trata de questões religiosas e ditados, e lendas nórdicas. Ele viaja pela alma holandesa. E viaja pela alma ocidental.
O certo é que não se consegue sair da frente dos quadros de Bosch. Mil detalhes para descobrir. Eles atraem, são um ímã e pedem tempo ao espectador. Difícil conseguir um lugarzinho para apreciar. Por cima do ombro de um, na mudança de posição de outro, sobra um espacinho.Todos fascinados. Fico pensando em quanto de Bosch temos hoje transmutado em “ciber” matéria. Mundos aquáticos, orgânicos, minerais. Virtude, perversão, pecado. Pessoas nuas, arquiteturas fantásticas. Ratos, peixes, romãs com proporções invertidas. E absolutamente tudo está em movimento, em ação. “Apoteose da beleza do mal”, diz o espanhol Joaquín Luaces..O Museu de Arte de São Paulo possui "As tentações de Santo Antão". Especula-se que este seria uma das versões (a parte central do tríptico) do Museu de Arte Antiga de Lisboa. Bosch teria feito 15 versões deste tema.
Na “tienda Prado”, loja do museu, comprei um pequeno poster desta maravilha. Bosch eu já tinha, desde minha “fase Bosch”. Já houve a “fase van Gogh” a “fase Chagall”, a fase “El Greco” a fase “Egon Schiele”. Sofro de fases, dá para ver. Muito amorosamente, eu sentia que estava entrando na “fase van der Weyden”.
A noite já baixara. Famílias passeando no centro de Madri. Uma música bossanovista lá longe. Entramos numa espécie de delicatessen, onde se podia sentar e comer. Pão integral, jamon (presunto), queijos, um bom vinho tinto espanhol. Amanhã cedinho, rumo a Barcelona. Foi uma noite de sonhos. Sem som nem sentido, um sacro horror em pântanos, bolhas, paquidermes e grutas antropomórficas.
. "As três graças"1630–1635 -Peter Paul Rubens, Museu do Prado, Madri
Peter Paul Rubens
Por Angela Becker
Bonito, saudável, culto, sensato. Rico, com vida organizada e sóbria. Artista e diplomata de sucesso, foi chamado de “O príncipe dos pintores”. Influenciou grandes e numerosos artistas que vieram depois. Delacroix o venerava.
Diferente da maioria dos artistas, ele foi feliz por toda a vida, desde sempre.
Dono de um atelier enorme, chegou a ter 100 auxiliares. Poderíamos considerar uma corporação ou, modernamente, uma empresa, talvez Peter Paul Rubens & Cia. Ltda. Tinha uma marca, a marca “Rubens” onde empregava especialistas de mãos, pés, crina de cavalos, animais, plantas.
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Seu método de trabalho era fazer um esboço da composição, depois um pequeno modelo e entregar aos obreiros para realizar. Tocava a ele negociar, conceber, supervisionar, retocar, finalizar. Neste tempo, não havia ainda a figura do marchand, o intermediário. Habilidoso, ele mesmo negociava. Uma obra tinha maior ou menor preço dependendo da participação que o mestre dispensava ao trabalho.
Assim funcionavam praticamente todas as famosas guildas. Com Rubens não foi diferente. Sua oficina foi mesmo espantosamente grande.
Às quatro horas já estava de pé. Assistia à missa cotidiana e ia trabalhar. Não esperava inspiração. Sentava-se e trabalhava. Pintava e lia os clássicos ao mesmo tempo.
Além de pintor, foi importante diplomata. Era chamado pelas cabeças coroadas da França, Inglaterra, Itália, Espanha para facilitar a resolução de intrigas tão comuns ontem e hoje neste meio.
Em 1630, com a ajuda de seus esforços diplomáticos, estabelece a paz entre Inglaterra e Espanha. Recebe o título de Cavaleiro. Foi o primeiro pintor a receber esta honra.
Escreveu: “considero o mundo inteiro, minha pátria”.
Andava com naturalidade pela Europa, cheio de fama e tapetes vermelhos.
A fama, no entanto, não o afetava.
Foi um homem trabalhador, verdadeiro e bom. Não gostava de política mesmo estando rodeado dela e quando pode, comprou terras e foi morar no campo.
Nasce na Antuérpia, Países Baixos. Recebe educação católica humanista e se torna um grande leitor de literatura clássica, o que veio a marcar toda a sua obra. Tinha conhecimento extraordinário de filosofia e literatura.
Com onze anos começa a leitura dos clássicos e isto continuará pelo resto da vida
Em 1600 viaja para a Itália. Em Veneza estuda Tiziano, Veronese, Tintoretto. Em Florença, o grego clássico. Faz uma grande e longa viagem a Roma para estudar no avançado centro da cultura da época.
De Michelangelo, apreende os volumes, de Caravaggio, a luz, de Veronese a cor. Porém tudo passa pelo seu filtro pessoal.
Aos 23 anos, foi retratista da corte em Mântua. Aos 32, pintor oficial da Infanta Isabel, da Espanha.
Teve dois casamentos e foi feliz em ambos. Na segunda vez que casa, estava com 53 anos, ela com 16.
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Retratista, paisagista, trabalhos decorativos, alegorias, mitos, história, natureza. Ele era bom em tudo, mas mais ainda, como pintor de trabalhos religiosos. A contrarreforma estava no auge e ele foi o mais importante pintor barroco- foi um mestre da persuasão.
Brutalmente vital, suas obras muitas vezes faziam uma explosão orgiástica da vida. Curvas, oblíquas, órbitas e acúmulos de massas. A cor em ondas “alcança timbres brilhantes” diz Wendy Becket a freira, historiadora que sempre tem a palavra certa. Neste turbilhão ele junta passado e presente. Bíblia e Mitologia ocupam o mesmo espaço na tela.
Sua pintura tem vigor, intensidade e doçura também. Ele olha o corpo com dignidade, reverência e refinamento. Assim olha tudo. Certa vez recebe uma encomenda difícil de Maria de Medici, rainha-mãe da França. Rubens conseguiu fazer a série de telas com extraordinária beleza, sem resvalar para o ridículo, que é o que ela sempre havia tangenciado.
Foi um grande solucionador de problemas. Inclusive na arte religiosa, expressava um humanismo católico admitindo o prazer sensual misturado com fervor religioso.
O maior dos pintores barrocos juntou o esplendor italiano com a nitidez e sensibilidade flamenga.
“As três Graças”, é a mais popular de suas obras. Ali retrata magníficos corpos femininos, cheinhos, ao gosto flamengo seiscentista. Belas, floridas e roliças mulheres flamengas. Traz o motivo clássico com o gosto do presente.
Ao final da vida, Rubens compra um castelo e lá no campo, rodeado pelos seus familiares, começa a fazer paisagens. Constable entende que ali faz o melhor de sua obra. Bom em tudo, mesmo.
Em 1640, acometido por gota, sua vida chega ao fim. Seu quinto filho estava concebido há um mês...
Giovanni Antonio Canal-(1697-1768).
Acima Uma Regata no Grande Canal- 1730-39 National Gallery
CANALETTO
Por Angela Becker
Artista famoso por retratar a atmosfera própria de Veneza captando a visão de suas ruas e canais, envoltos em luz e sombras.
Recebeu sua formação com o pai, pintor e cenógrafo Bernardo Canal. Daí o nome Canaletto.
O fotográfico Canaletto! Aquele que valorizava as sombras e os realces. Aquele que era todo realista quando desenhava gôndolas, canais, panoramas de Veneza, com um detalhismo extraordinário, aprendido com os flamengos.
Demorei a gostar.
Parecia-me sempre o mesmo quadro. Do tipo "quem viu um, viu todos". Lembrava-me, também, sempre o mesmo cartão postal. Reconhecia o evidente valor documental, mas nada mais do que isso. Museu atrás de museu, lá estava o mesmo Canaletto, reconhecido de longe e eu com aquele ar de dèja vu.
Hoje gosto muito e posso ver sua obra com uma rara luminosidade onde o horizonte brumoso envolve a paisagem. Mágico.
Consta que foi um dos primeiros a pintar ao ar livre. Amado e estudado por isto, pelos impressionistas. Ele tinha a ajuda de uma câmera escura, um instrumento óptico que permitia a passagem dos raios solares por uma lente que refletia a imagem a ser pintada.
Com este recurso, conseguiu belíssimas imagens urbanas. Poderosa sugestão para o futuro impressionismo. Esplêndido tratamento das luzes e sombras e perfeito domínio da perspectiva, Canaletto era sensível às mutações atmosféricas.
Em Roma fez numerosos desenhos de ruínas e monumentos e diversos cenários para as óperas de Alexandre Scarlatti. Entrou em contato com pintores como Gian Paolo Pannini, perito em perspectivas, e o flamengo Gaspar van Wittel, “holandizando-se” claramente, também sob influência de J. Van der Hyden. Porém com a vibração veneziana.
A topografia tradicional de Veneza tinha encontrado o seu mestre!
Canaletto trabalhou em Roma e Londres mas principalmente em Veneza onde nasceu e voltou para morrer. Seu sucesso era internacional. Por toda a parte ele era imitado (diz o historiador de Arte, André Chastel).
Paisagista de mão cheia, voltou para a terra natal onde passou a trabalhar pintando panoramas da cidade, sob encomendas. De fato, tinha, afinal, alguma coisa de cartão postal. Isto era perceptível para mim que não compreendia a sua grandeza muito além.
Veneza, a Sereníssima, estava, assim com Canaletto, magnificamente representada. O cônsul inglês da cidade, Joseph Smith, apresentou-o a importantes clientes que desejavam paisagens de Veneza como recordação de viagem. Veneza sempre foi o que é hoje, um mito.
De volta a Veneza, em 1763, ingressou na Academia de Belas-Artes, da qual foi membro até sua morte. Entre seus principais discípulos destacou-se seu sobrinho Bernardo Bellotto, também chamado de Canaletto-que muitas vezes é confundido com o tio. Este vai difundir a fórmula de paisagem luminosa em todas as cortes europeias, Viena, Munique, Dresden, Varsóvia fazendo delas outras tantas Venezas ou cidades ideais (Chastel).
Hoje a cidade de Veneza, ameaçada pelo aquecimento climático, pelo avanço do mar, apela novamente ao pintor, mesmo morto há 244 anos.
Pesquisadores descobriram que a alta precisão de seus quadros retratando a cidade no século 18, mostrava o nível do mar um século e meio antes que fossem criadas técnicas de medição, segundo a revista New Scientist .
Os primeiros instrumentos usados para medir o nível do mar surgiram em 1872, diz o site. Pesquisadores estão empenhados em procurar caminhos para descobrir o que aconteceu antes disso, para ajudar a prever o que deverá ocorrer no futuro.
As pinturas de Canaletto podem ser usadas para reconstruir o passado. “Canaletto é absolutamente confiável”, diz o pesquisador. Olhadas com atenção, essas pinturas fotográficas mostram um linha marrom-verde nos edifícios, que marca o nível da maré. E assim pode-se medir o que o futuro apronta para a Sereníssima de Canaletto.
Rembrandt Harmenszoon van Rijn (Leida, 15 de julho de 1606 — Amsterdam, 4 de outubro de 1669). Pintor e gravador holandês.
Rembrandt
Por Angela Becker
REMBRANDT
luz, sombra, textura e solidão
Rembrandt foi o maior pintor do século XVII. Isto é praticamente um consenso.
Enquanto seus contemporâneos executavam pequenos quadros de paisagem, cenas alegres, com humor malicioso, ele estava imerso no drama e mistério da condição humana.
É o pintor da nossa desolada solidão. Suas figuras têm inscritas nas rugas, nas expressões sutis, a idade psicológica da sabedoria.
Todos são velhos, todos são patriarcas bíblicos. Todos são extraídos da penumbra, como se uma luz se acendesse por dentro de cada um.
Diferente de Caravaggio que "usa um holofote" para iluminar o drama, Rembrandt extrai lentamente cada figura do espaço profundo "como se os átomos soltos no escuro viessem pousar na tela e formar uma figura" diz Argan, historiador de Arte.É uma condensação.
Ele supera a interpretação psicológica das personagens, vai além da personalidade, chega ao universal. Diz-se que sempre pinta a si mesmo já que se transmuta na própria pessoa que retrata. Identifica-se a tal ponto que no final, todos parecem ser ele mesmo.
"A volta do filho pródigo" ( vi no Museu Hermitage) ali a gente se aproxima com profunda reverência e nos afastamos tocados no âmago.
É daquelas obras que impõe silêncio dos que estão em volta, olhando. Tipo.. baixa um clima de sensibilidade coletiva. Arrebata.Todos tocados pelo drama, o espaço que nos une é de santidade humana.
É considerada a maior preciosidade do museu Hermitage. Isso que lá não falta inclusive Leonardo da Vinci.
Nesta pungente obra, o pai que recebe o filho é uma muda presença humana que aceita as circunstâncias como a um desígnio obscuro e inescapável.
A cor é dourada. A emoção é quase imperceptível, é secreta. As figuras que estão na cena, cada uma está isolada em si, solitária assim como é a condição humana.
Rembrandt não interfere, não questiona, não emite juízo. Suas figuras não agem mas "sofrem a ação" da luz, da sombra, da vida.
"A Volta do Filho Pródigo", 1668. Museu Hermitage
William TURNER (1775 —1851)
William Turner
Por Angela Becker
"Tudo é movimento, volúpia e esplendor. Tudo nos traga. Vejamos a obra “Navio a Vapor numa Tempestade” 1842. Audacioso, ele pinta uma borrasca do outro mundo, num mar, sob nevasca. Mar enraivecido, ondas ameaçadoras, barco ameaçado, em iminente desastre. Não saberíamos descrever esta experiência. Nunca estivemos num barco em tormenta, no mar. Em nossa imaginação, porém, é assim que é. Poucos sabem, na verdade. Uma boa aproximação disso se pode ter em Edgar Allan Poe no -locus horrendus- de seu conto “Manuscrito encontrado em uma garrafa”. Poe sabia, ôh se sabia. Quem quiser ter a sensação de arrojar-se dentro de uma tempestade no mar, leia."
Mais sobre a obra de Turner? Vá no site de Angela Becker!
As Três Graças (1812-1817), por Antônio Canova (1757-1822)
As Três Graças
por Angela Becker
Este é um grupo escultórico que eu gostaria de ver “Alla tenue lampada” passeio noturno, com lanterna, que é feito no museu de Antônio Canova, em Possagno, Itália, sua cidade natal. Porque é assim que “Il cantore della bellezza eterna”, maior escultor do neoclassicismo, um novo Fídeas, deveria ser visto. Ao menos esta escultura que tive a graça de ver duplicadas, tanto no Louvre como no Hermitage. Em "AS TRES GRAÇAS" Antônio Canova se reporta à escultura grega. O esplendor do corpo feminino, o sonho, a paixão contida, tudo brilha lisamente com flexibilidade não parecendo feitos de pedra. De imediato ele nos carrega junto na dança de suas esculturas. Com suavidade, leveza, voamos com ele. O vento nas vestes, a delicadeza dos gestos, a dulcíssima sensação de estar entre bibelôs gigantes. O branco se torna luminescente sem deixar de ser carne. Canova frequentava o teatro, era apaixonado pela dança, a música. Tinha um amigo, bailarino e coreógrafo, Carlo Blasis, do teatro Scala di Milano, autor de uma enciclopédia de dança. A grande Guerra foi violenta para as obras de Canova. Braços, mãos, asas de anos, narizes e detalhes tiveram de ser reconstruídos. Desde Bernini foi considerado o melhor escultor e referência por todo o século XIX. Como era de praxe na formação dos artistas, foi à Roma, cidade-museu, para estudar. Teve sucesso imediato. Obteve as graças do Vaticano, as graças de Napoleão Bonaparte. Encomendas e ofertas de toda a Europa. Mas o sucesso tem preço alto e lhe causou estresse e dor. Teve seu peito afundado por um apetrecho de escultura -trapano- que lhe comprimiu o esterno. Foi preciso largar a escultura e dedicar-se à pintura. Passeia pela Alemanha, Áustria onde a arquiduquesa Maria Cristina lhe encomenda um monumento mortuário chamado cenotáfio que se revelou o melhor de todos já feitos. Em 1802 é convidado por Napoleão para fazer sua estátua. Fica seu amigo pessoal bem como de David, pintor oficial da corte. Também o papa lhe dá o cargo de Inspetor geral das Antigas e Belas Artes do Vaticano. Ali trabalha com gosto e resgata o espólio artístico arrebatado da Itália. Entre eles o famoso Laocoonte. Antônio Canova era simples, discreto, generoso. Sempre disposto a ajudar os iniciantes. Generoso a ponto de comprar obras de Arte e anonimamente entregá-las a museus. Gostava da rotina, levantava cedo e trabalhava sem parar. Por duas vezes quase se casou, mas permaneceu solteiro. Homem de poucas palavras, ele falava através do mármore polido com perfeição. Sua obra tem luz de dentro para fora. E voam, e deslizam e dançam.
Gustave Courbet
Gustave Courbet (Ornans, 10 de junho de 1819 — La Tour-de-Peilz, 31 de dezembro de 1877) foi um pintor francês pioneiro do estilo realista francês. Foi acima de tudo um pintor da vida camponesa de sua região.
A Origem do Mundo (L'Origine du monde) de 1866, é um quadro pintado por Gustave Courbet a pedido do diplomata turco otomano Khalil-Bey, que solicitou ao pintor uma pintura que retratasse o nu feminino na sua forma mais crua. Arruinado pelo jogo, o diplomata teve que vender toda a sua coleção, e L'Origine du Monde foi comprada por um antiquário e escondido por trás de um outro quadro de Courbet. O seu dono seguinte, no início do século XX, terá sido Émile Vial, um cientista e colecionador de arte japonesa. Em 1910 ou 1913, um aristocrata e colecionador húngaro, o barão François de Hatvany, adquiriu-o e levou-o para Budapeste. Parte da coleção de arte do barão foi roubada pelo Exército Vermelho durante a Segunda Guerra Mundial, mas depois do conflito o seu proprietário conseguiu recuperar parte de sua coleção de pinturas, entre elas L'Origine du Monde. A obra que foi parar na sala da casa de campo do psicanalista francês Jacques Lacan, que por sua crueza, foi escondida sob uma pintura de madeira do seu cunhado André Masson. Após a morte de Lacan, a pintura foi finalmente exposta, em 1995, no Musée d'Orsay, onde se encontra atualmente. A pintura comporta várias leituras mas toda a sua beleza encontra-se no seu realismo: a origem do mundo encontra-se na mulher e não em alguma causa ou poder transcendente. Em resumo, como bem dizia Courbet: "Eu nunca vi um anjo. Me mostre um anjo que eu pintarei um"
Sua vida de pintor durou pouco: 10 anos de um frenesi absurdo de trabalho, com cerca de 1.100 desenhos, quase 900 pinturas, ilustrações, cartas.
Van Gogh, este divergente errante
Por Angela Becker
A cada ano o Museu van Gogh, em Amsterdã, Holanda, se inunda de um milhão e meio de visitantes para ver Vincent Willem van Gogh (1853-1890). Para muitos – e me incluo nisso – ele adquiriu uma proporção quase mística. A caminho de uma exposição sua, sentimo-nos ‘em peregrinação’.
Jamais esquecerei quando, no Museu de Orsay (D’Orsay), vi uma exposição especial sobre ele. Tive de sair da sala para me recuperar. Estava aos prantos, emocionada. E não é para menos. van Gogh se desnuda para nós.
A intimidade de seu quarto em Arles, seu médico Dr. Gachet, o carteiro, portador das cartas do irmão Theo. Seu autorretrato de orelha cortada numa briga com Gauguin. Os girassóis que fez, cheio de planos, para sua nunca realizada comunidade de artistas. O pátio da clínica onde se internava, sua última pintura em traços convulsos (‘Campo de trigo com corvos’, 1890) tudo isso era ferida exposta para quem quisesse ver. Uma chaga exposta. Mas também a beleza das noites estreladas, das Iris, dos trigais dourados.
Sua vida de pintor durou pouco: 10 anos. Porém foram 10 anos de um frenesi absurdo de trabalho. Cerca de 1.100 desenhos, quase 900 pinturas, ilustrações, cartas, onde demonstrava conhecimento profundo das Artes.
Não se sabe muito sobre sua juventude, mas possuía outros quatro irmãos, sendo que Theo terá um papel importante em sua vida.
Nada indicava que ele se destacaria na pintura. Introvertido, excêntrico, conseguiu um emprego aos 16 anos, junto à sucursal que os pintores franceses mantinham em Haia. De lá vai para a loja sediada em Londres, depois a Paris, sede central da Goupil & Co, onde trabalhava o irmão.
Inquieto, esquisito, começou a dar sinais de interesse religioso em suas cartas à familiares, fazendo-se pastor protestante, como seu pai. É mandado para uma pequena região mineira belga onde ganhou o apelido de ‘Cristo da mina de carvão’, pois pregava para os pobres e desamparados. Tem arroubos de euforia e depressão. É destituído do cargo. Com 27 anos e perdido na vida. Theo, que o sustentava, sugeriu que tentasse ser artista.
Desde sempre ele fazia esboços, mas sentiu-se inseguro. Combinou com Theo, que enviaria seus desenhos periodicamente, em troca de seu sustento.
Vincent era autodidata e para se tornar um pouco mais profissional, passou uma temporada em Bruxelas. Devora livros de anatomia e perspectiva. Observa seus contemporâneos. Mas o alto custo de vida obrigou-o a voltar ao interior, à casa de seus pais. Os camponeses foram seus modelos. Desentende-se com o pai, volta para Haia. Um errante!
Começa a pintar aquarelas e ao final de 1882 inicia a pintura a óleo. Animado pelas histórias contadas pelo artista Rappard, vai ao norte para pintar a vida no campo. Não é aceito pelos camponeses e torna a voltar para a casa dos pais. Nesta ocasião pinta ‘Os comedores de batatas’ (1885) e escreve a Theo: “que uma pintura de camponeses cheire a toucinho, fumo, batata à vapor, muito bem. Parece-me saudável que um estábulo cheire a esterco, pois que um quadro de camponeses não poderia cheirar a perfume”.
O pároco do lugar proíbe os camponeses de posarem para van Gogh. Ele volta para Ambere onde faz um curso na Escola de Bellas Artes.
Ao final de 1886 chega – sem avisar – no pequeno apartamento de Theo, em Paris, que obriga-se a procurar um lugar maior.
Montmartre abre um novo mundo a van Gogh: Milliet (por quem é apaixonado) Delacroix, Manet, Monet. Encontra-se com Toulouse Lautrec, que se encarrega de o apresentar à noite de Paris e o expõe ao álcool, absinto, prostituição.
Faz 27 autorretratos, pois estes não requeriam modelos, a não ser ele próprio.
Em Paris conhece Gauguin com quem vai de muda para Arles, sul da França. Como sua saúde já estava bastante debilitada pelas noites boêmias de Paris, esperava recuperar-se no campo. Melhorou mesmo, e com ele sua pintura virou uma primavera de amarelos fulgurantes, azuis de vitrais, intensos vermelhos. Ele passa a fazer planos: quer fundar uma colônia de artistas. Aluga quatro casas para tal. E pinta muitos vasos com girassóis para decorá-las. Gauguin deveria ser o líder desta comunidade. Os dois trocam técnicas e inspirações. Mas não contavam que seus temperamentos igualmente obsessivos, iriam pegar fogo em violentas brigas. Numa dessas, van Gogh corta sua própria orelha esquerda. Gauguin, furioso, se vai para sempre, para suas ilhas tropicais.
Van Gogh sofre todo o tipo de problemas: desde dores de estômago, maus dentes, até graves alucinações, depressão. Interna-se voluntariamente no sanatório de Saint-Rémy. Lá pintaria o pátio, as naturezas mortas, tudo sob observação do sanatório. Neste período, algum interesse começava a surgir sobre suas pinturas.
Theo conseguiu vender um único quadro ‘O vinhedo vermelho’ (ou ‘A Vinha Encarnada’, 1888), que se encontra hoje no Museu Pushkin, de Moscou.
Van Gogh estava fora do mercado de Arte. É recluso, estranho, um louco com seu chapéu ridículo onde instalou uma lâmpada para pintar à noite. Mas suas obras não são obras de um doente mental. Ali nosso olho encontra equilíbrio, harmonias internas, disciplina de cores e formas. Mas principalmente uma densidade humana jamais vista. Suas tensões na pintura estão absolutamente controladas. A gestualidade é vigorosa, a carga expressiva é plástica e estável. Suas pinturas possuem luz de vitral. Tem admirável senso geométrico. A proporção se junta à amabilidade das cores.
Em 1990, seguindo os conselhos de Theo e Camille Pissarro, van Gogh vai a Auvers-sur-Oise, perto de Paris. Estava sob os cuidados do Dr. Gachet. Ali produziria muito, praticamente uma obra por dia.
Theo, porém, farto de trabalhar para os outros, decide trabalhar por conta própria. Tiveram de apertar o cinto, economizar. “Minha vida também tem sido afetada desde sua raiz. Eu também não me mantenho mais firme sobre solo”, diz numa carta ao irmão.
Van Gogh relata que está em depressão profunda e seus quadros expressam a dor de estar no mundo.
Em 27 de julho, dispara uma pistola em seu peito e agoniza dois dias na presença de Theo, até morrer. Os dois tinham trocado 6 mil páginas de correspondência. Um ano depois, fisicamente desgastado e mentalmente debilitado, falece Theo, vítima de uma sífilis mal tratada.
20 anos depois da morte de van Gogh os preços de seus quadros disparam.
O nosso museu do MASP, afortunadamente, possui nada mais, nada menos do que cinco obras de van Gogh, entre eles o famoso ‘O escolar’ (ou Camille Roulin, ou Gamin au Képi, ou O filho do carteiro, 1888).
Gauguin nasce em Paris e em seguida sua família atravessa o Atlântico rumo a Lima, Peru. Nessa viagem, morre seu pai. Assim, o futuro pintor desembarca apenas com sua mãe e irmã. Volta a Paris com 7 anos e é adotado pelo tio. Com 17, ingressa na marinha mercante e corre o mundo. Tenta trabalhar na abertura do canal do Panamá. Sangra as mãos e foge para a ilha Martinica. Volta a Paris e vai trabalhar na bolsa de valores. Em1873 casa com Mette Sophie Gad
Paul Gauguin
“Vou para o Taiti onde as necessidades materiais da vida podem ser satisfeitas sem dinheiro...Quando na Europa homens e mulheres só sobrevivem depois de um trabalho crescente durante o qual se debatem em convulsões de frio e fome, presas da miséria, os taitianos, ao contrário, felizes habitantes do Paraiso desconhecido da Oceania, só conhecem a doçura da vida”.
Assim diz, assim faz Eugène-Henri-Paul Gauguin depois de abandonar a esposa dinamarquesa com cinco filhos pequenos.
Este é mais um daqueles artistas marcados para sofrer. Como van Gogh, como Modigliani, comoToulouse-Lautrec.
Mas isto é só o começo, para saber mais, clique no site abaixo de Angela Becker!
Édouard Manet (Paris, 23 de janeiro de 1832 — Paris, 30 de abril de 1883) foi um pintor e artista gráfico francês e uma das figuras mais importantes da arte do século XIX, considerado por estudiosos de artes plásticas como um dos mais importantes representantes do impressionismo francês, embora muitas de suas obras possuam fortes características do realismo."
Édouard Manet
Adicione uma descrição.
Olympia (1863)
Édouard Manet II
A personagem central desta célebre pintura de Manet "Olympia", pseudônimo frequentemente adotado pelas prostitutas de luxo de Paris nesta época. Nua, deitada em um sofá, ela usa apenas uma flor no cabelo, um colar, uma pulseira e calça um tamanco. Com um olhar provocador, ela encara diretamente o público. Ela pode estar observando um cliente. A francesa Victorine Meurent, na época com 19 anos, posou para a obra. A segunda personagem da obra, conhecida apenas por Laure morava em Paris e foi identificada em outras duas telas de Manet: "Retrato de Laure", de 1862, e "Crianças nos Jardins das Tulherias", pintado entre 1861 e 1862.
Paul Cézanne (Aix-en-Provence, Provença, 19 de janeiro de 1839 — Aix-en-Provence, Provença, 22 de outubro de 1906)
Paul Cézanne
Por Angela Becker
Cézanne é uma ponte, faz as bases para a pintura do próximo século. (Quem andou, magnífico, sobre esta ponte foi Picasso).
7 anos mais novo que Manet e 2 mais novo que Renoir, está no meio de um e já começa outro movimento. Assim caminha a História. Ninguém dorme idade média e acorda renascimento.
Bruto, ranzinza, gênio mais que difícil, atirava tintas e pincéis no teto, cortava telas com facadas, pisoteava. Ao menor obstáculo, estourava. “Merde” era palavra na ponta da língua. “Sou o mais recusado dos recusados”, dizia, mencionando as tantas tentativas de entrar para os salões de Arte.
A verdade é que ele não colaborava. Não aceitava convites para eventos artísticos. E quando ía, arrumava confusão. Além de tudo, tinha horror ao contato físico. Até para dar a mão em cumprimento, lhe era penoso.
A Pintura e Émile Zola foram suas paixões na vida.
Quer saber mais?
Claude Monet
Oscar-Claude Monet (1840 - 1926) considerado por muito como um dos pais do Impressionismo. Junto com Camille Pisarro e Gustave Courbet desenvolveu a técnica de pintar o efeito das luzes com rápidas pinceladas. Foi acometido por uma catarata, época em que usou cores mais fortes. Foi operado e operou até o final de seus dias aos 86 anos de idade.
"Uma paisagem não existe para mim...é a atmosfera em sua volta que a trás para a vida"
"Tem algo mais a dizer ou mostrar? Pode usar esta seção para isso. Adicione fotos e uma curta descrição para mostrar aos visitantes o que mais você desejar. "
Arte Russa - o Círculo dos Mamontov Savva Mamontov
Por Angela Becker
Um grupo de artistas chamado “Os Errantes”, em 1863 desliga-se da Academia e vai fazer arte para o povo. Aparentemente um suicídio, já que perdem patrocínios oficiais. Eles se auto denominavam “errantes” porque levavam exposições itinerantes a todos os lugares, inclusive ao campo. Desejavam a arte útil para a sociedade desafiando a tradição acadêmica -a arte pela arte- que vingava em São Petersburgo. Começava aí um movimento nacionalista mais ligado a Moscou. O assunto, o tema ganhava importância pois o conteúdo estava a serviço de uma reforma social. A arte não mais deveria ser "vazia". O camponês era o novo herói. Sua pureza e austeridade seriam o tema (mais ou menos o que aconteceu no Romantismo alemão). “Os Errantes” não estavam envolvidos com o Movimento Eslavófilo que rejeitava a cultura ocidental, eles buscavam a tradição nacional, de há muito negligenciada, como diz a historiadora Camilla Gray. O que valorizava as raízes russas (Moscou suplantando São Petersburgo) deu origem ao que depois seria uma escola de arte russa moderna. Igreja na colônia de Abramstevo Um grande patrono e incentivador da Arte Russa, Savva Mamontov e esposa Elizabeth, (ricos pela construção de estradas de ferro) foram a Roma para em tratar a doença do filho e pelo interesse das artes. Lá tiveram contato direto com artistas e bolsistas russos (1872). Ao voltarem de Roma, fizeram-se acompanhar por um grupo de amigos artistas. Na passagem por Paris trouxeram mais um casal e seu filho. Inicialmente eram um grupo de treze pessoas. Compraram propriedades na Rússia, em Abramstevo e vizinhança. Estas vieram de um outro intelectual com ideais de melhorar a vida do povo, Sergei Aksakov (amigo de Gogol). Os Mamontov juraram continuar o que o dono anterior tinha começado. Fizeram escolas, hospital, oficinas, atelier, teatro. Lá encenavam peças de teatro, óperas, leituras, sessões de desenho. A comunidade que se formou ali tinha como objetivo mais do que as artes, queriam também o bem-estar do povo. Era o "Círculo de Mamontov". Ilya Repin, "Os barqueiros do Volga" Vasily Polenov Mark Antokolski, Mephisto Na comunidade de Abramstevo afluíam artistas, arqueólogos, estudiosos dos ícones e tradições medievais russas, poetas e escritores (como Turgenev e Tolstói) teatrólogos, dançarinos, artesãos. A elite cultural de Moscou vinha se abastecer nesta comunidade amante das artes. A família Mamontov generosamente recebia a todos, abrigava a todos e assim, por três gerações, influenciaram artistas nos ideais de resgatar as tradições artísticas da antiga Rússia. Esta concentração extraordinária de talentos reunidos no mesmo tempo e espaço, discutindo e fazendo arte, deixaram suas marcas para sempre. Não só na arquitetura de estilo tradicional russo e em obras de arte, mas em resgate da arte. Eles viajavam por toda a Rússia. Recolhiam técnicas e obras de todo o tipo de arte, desde a cerâmica típica até histórias infantis (como a da famosa bruxa Baba Yaga). Mesmo a boneca "matrioshka" foi produzida pela primeira vez na oficina infantil de Abramstevo. A educação dos filhos da comunidade era aprimoradíssima. Imagine-se toda a influência que recebiam desde cedo! De fato, mais tarde, muitas destas crianças tornaram-se artistas de renome. Tive a oportunidade de ver estes talentos no Museu Russo. É uma produção do tamanho da Rússia. Incalculável, tanto em número como em qualidade. "Eu fui um homem rico, é verdade. Mas acredito que o dinheiro existe para o povo e não o povo para o dinheiro" teria escrito em seu diário, o grande Savva Mamontov.
WASSILY KANDINSKY
Por Angela Becker
WASSILY KANDINSKY (1866-1944) Nasce em Moscou, em família abastada e culta. Desde cedo entra em contato com a Arte, principalmente a música. Com a música dodecafônica, por toda a vida, terá uma relação orgânica. (A música atonal –Shönberg, Stravinski - serão importantes para ele porque fogem do previsto, mostram o espanto, reelaboram o código tradicional).
Em 1896 vai à Munique, centro cultural da Europa. Embora a formação artística se dê ali, estar imbuído da cultura russa, será um homem cosmopolita. Traz consigo a imagem do vitral, as procissões ortodoxas russas, o colorido, as formas flutuantes. Ele dirá
“As formas só têm sentido se expressarem energia”.
E assim faz um mergulho na cor como sendo um elemento quase místico. Ele buscava uma energia vital cujo nascedouro era a música.
Ocasionalmente misturava areia em suas cores para trabalhar a textura. Rompe com a representação, com a solidez geométrica e abre para outros estados de consciência. A música pura será o fermento da sua pintura abstrata.
Pretendeu que as suas formas fossem sutilmente harmonizadas para ressoar com a própria alma do observador. Diante de sua obra é preciso parar tudo. Desarmar-se e ter um olhar puro. Descontaminar-se tanto quanto é possível e deixar que a imagem entre e fale por si, pela sua geometria, pela sua cor.
A pintura de Kandinsky não busca agradar os sentidos, nem representar nada. Não há mímeses. São harmonias de cores quentes e frias. É como uma música que é feita de acordes. Está apresentando uma harmonia secreta.
Não é fácil despojar-se diante de suas telas, mas esta atitude é fundamental para a apreciação da obra. É quase dizer, “dispa-se e assim veja Kandinsky”. Ele busca a pureza das sensações primárias. É absolutamente musical. Quando perguntaram a ele o que significava uma determinada obra sua, ele responde “Isto se significa”, dizia o saudoso professor Renato Brolezzi em suas magníficas aulas- na qual este artigo é baseado.
Kandinsky é considerado o primeiro pintor ocidental a produzir uma tela abstrata. É como se dissesse “Não procurem buscar elementos do mundo. Mergulhem nas cores para despertar estados de alma para além do visível”. Kandinsky conhece a teoria das cores a fundo.
Kandisnky será, em sua volta à Rússia, Ministro da Educação. Em 1923 Stalin dá o golpe e vai proibir este tipo de Arte. (a arte que transforma sempre é proibida pelo autoritarismo!). Quer implantar a arte que o povo entende (ou seja, quer manipular pela arte) Kandisnky “fala” em suas pinturas, de liberdade não atrelada às regras dadas e é considerado lá como “arte burguesa decadente”.
Em 1921 deixa a Rússia e vai para Berlim. Desgraçados, a maioria dos pintores russos da época se suicida ou foge. Uma longa agonia da Arte acontece na Rússia. Graças a Paul Klee torna-se professor da Bauhaus, centro de vanguarda, escola de artes aplicadas. Kandinsky ensina vitral, tentando trazer para a Bauhaus a nova espiritualidade, a nova poética.
Em 1933 Hitler termina com a Bauhaus. O nazismo tem um projeto também estético (eliminação do imperfeito, do doentio). Para o Nacional Socialismo (nazismo) não pode haver o triunfo do indivíduo forte e criativo. Isto é mortal para Kandinsky, que ganha o rótulo de “cancro da bolchevização da Arte”.
Em 1937 - com a famosa exposição de Arte Degenerada- estão lá presentes Paul Klee e Kandinsky. Ele foge novamente a Paris. Sua vida é uma história de deslocamentos e rejeições. Mudou duas vezes de nacionalidade (alemã e francesa). Quando os nazistas invadiram a França, estava velho demais para nova mudança e cuidou de viver na obscuridade. Tornou-se discreto e viveu tão delicadamente quanto suas pinturas.
Morre aos 78 anos aquele que fez uma das maiores revoluções de todos os tempos, comparado no campo das artes com a grandeza de Einstein e Freud. Junto a Piet Mondrian e Kasimir Malevich, Wassily Kandinsky faz parte do "trio sagrado" da abstração, sendo ele o mais famoso.
Wassily Kandinsky
Composição
Composição
Composição
EDVARD MUNCH (1863-1944) . Acima "Amor e Dor" de Edvard Munch, em exposição no Museu Munch, Oslo
EDVARD MUNCH
Por Angela Becker
Munch (pronuncia-se"Munk") é um dos fundadores do movimento expressionista. “O grito” sua obra máxima, (1895) é muito familiar a todos nós e ilustra bem o que é expressionismo: a arte que muda deliberadamente a aparência das coisas para mais expressar um sentimento.
Enquanto o impressionismo “olha para fora”, para a luz do sol que modifica as coisas externas (paisagens, pessoas, animais, objetos), o expressionismo “olha para dentro” e retrata a forma como uma súbita excitação pode transformar todas as nossas impressões sensoriais.
Portanto o expressionismo expressa sentimentos de dor, susto, alegria, humor, desespero, etc. Nesta época, a arte se afastou do que chamamos comumente de “beleza”. As imagem retratadas são distorcidas, exageradas, e abstrai a cor natural das coisas. Tudo em nome de melhor expressar o nosso lado psicológico.
Esta arte nos traga para dentro da obra, de forma que sentimos a angústia e a dor daquilo que está retratado. Daí ser muito forte. É uma arte em que conteúdo e forma sincronizam de maneira quase perfeita.
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Dado tudo isto podemos dizer que o expressionismo é uma arte que expressa a individualidade do ser e pode ser muito diversificada, agrupando muitas aparências sob o guarda-chuva do que chamamos de expressionismo.
Na obra “O Grito”- por toda a paisagem- reverbera a angústia. A personagem retratada é andrógina, podendo ser homem ou mulher, qualquer um de nós que a observa. Nela vemos uma língua de vidro que lambe no céu uma lava de vulcão expressando um turbilhão de angústias e pavores existenciais!
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Além do tema da mulher e sua sexualidade, Edvard Munch , este pintor norueguês, cuja vida pessoal foi atormentada por pelo menos duas mortes que ele assistiu na sua infância (mãe e irmã) teve como tema a doença, a morte, a depravação sexual, crises emocionais e outras tragédias. Sobre “O Grito” ele diz que é um homem parado no meio de uma ponte e julgado por um crítico tão perturbador que deveria ser evitado por crianças e mulheres grávidas. Sobre a obra, ele mesmo relata em seu diário:
"Parei e apoiei-me na balaustrada, quase morto de cansaço. As nuvens pairavam acima do fiorde azul e negro e eram vermelhas como sangue e línguas de fogo. Meus amigos me haviam deixado e, sozinho, tremendo de angústia, tomei consciência do infinito e vasto grito da natureza".
Apesar do escândalo causado pela exposição de suas obras em Oslo, ganhou uma bolsa de estudos em 1889. Em Paris trava contato com Toulouse Lautrec e com Cézanne de quem vai absorver muito. Além de pintura, faz xilogravuras, litogravuras, águas-forte e pinta cenários para o teatrólogo Ibsen, já que tem afinidades com o realismo social daquele autor. Em 1910 volta para a Noruega e lá continua suas pinturas de estilo vigoroso, porém com cores mais claras.
17 obras do autor foram descobertas, no ano de 2013. Faziam parte das 1500 confiscadas pelo nazismo. 300 delas consideradas “arte degenerada”. Entre estas estavam as obras de Munch. Podemos entender -mas não perdoar- que Munch tenha sido reprovado no filtro nazista que fazia uma espécie de “eugenia” da arte, deixando passar só aquilo que tinha “cara” de clássico.
Alphonse Maria Mucha (Morávia, 24 de julho de 1860 — Praga, 14 de julho de 1939) foi um pintor, ilustrador checo e um dos principais expoentes do movimento Art Nouveau.
Alphonse Maria Mucha
Mucha (pronuncia-se Muk-ra) é mais conhecido pelos seus cartazes, ilustrações, figurinos, cenários de teatro, vitrais, trabalhos publicitários diversos (rótulos, selos, dinheiro, tecidos, papel de parede, etc) do que como pintor. Acima de tudo ele é tido como o expoente do Art Nouveau. Seu nome e o Art Nouveau se confundem.Sua obra, apesar de ter sido algo esquecida na presença das vanguardas, a partir dos anos 60 retorna em ondas de sucesso.
Ophélia
Pré - Rafaelitas I
Por Angela Becker
“Pré-rafaelitas” esta denominação remete à época de antes de Rafael Sanzio, (1483-1520) no chamado quattrocento italiano. É assim que se chamaram os pintores ingleses, rebeldes às regras do classicismo ainda vigentes na Academia inglesa em 1848. Lá estudavam três moços que fizeram a virada da arte britânica: Dante Gabriel Rossetti, William Holman Hunt e John Everett Millais. (Este último pintou o conhecido ícone "Ophélia"). “Moços” porque o mais velho, Hunt estava só com 21 anos.
O Despertar da Consciência
Pré - Rafaelitas II
Por Angela Becker
Era o ano de 1848, e na Inglaterra vitoriana, com grande prosperidade econômica, grassava um moralismo hipócrita, uma deprimente involução cultural e de exploração do trabalho, um sem fim de arte esgotada de “bois e vacas no pasto” “barquinhos na àgua” uma arte tola, pueril, ridícula, cheia de clichés, e de escandalosa convivência do puritanismo anglicano com o capitalismo. Veja-se que na Europa continental já sopravam os ares do Impressionismo e Marx já estava fazendo o seu Manifesto.
Neste ambiente, surge o grupo pré-rafaelita organizado como uma guilda medieval. Eles vem colocar abaixo todo o classicismo, todas as regras acadêmicas. Surge uma arte com função sanadora desta sociedade, que vai buscar inspiração lá no gótico, “antes do pecado do orgulho” como diz Argan, onde ainda existia o sentimento puro, a ética do trabalho, o artesanato, a poesia, a profunda humildade, a honestidade. Depois da decadência, o retorno.
A obra deveria nascer no artista sem regras, sem sequer atelier pessoal. Deveria ter alma e espiritualidade. O romance, o erotismo, o misticismo, lendas, cenas religiosas visionárias, inocência, eram atributos para serem glorificados nas telas. A realidade não importa muito, pode ser apenas sugerida.
Imagem: A carroça de Feno.
JOHN CONSTABLE
Por Angela Becker
De biografia discreta, Constable quase não viajou. Como seu pai, próspero comerciante de grãos, nem a Londres lhe apetecia ir. Nasceu em Suffolk, Inglaterra, e sua arte derivou diretamente do solo natal.
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Viveu em plena época da Revolução Industrial, mas não foi afetado pelo trem a vapor, pela fumaça das fábricas, pelo frenesi do que estava “no ar”. Não era um homem da modernidade. Foi um pintor não-teórico, mesmo tendo estudado na Royal Academy de Londres.
Constable pinta para a elite do país, sofisticada, sutil, discreta.
“Todas as condições técnicas do impressionismo já estão em Constable” dizia o saudoso professor Renato Brolezzi, mas ele tem obsessão pela complexidade e não pinta como os impressionistas.
Está afinado com duas noções: o belo e o sublime”. (Os objetos belos devem ser pequenos, lisos, cores puras, luz suave e fundada no prazer. Já os sublimes possuem dimensões grandes, linhas retas, masculinas, ásperas, trevas, solidez fundada na dor).
No sublime, a tragédia grandiosa. No lirismo, a beleza, a miniatura, o feminino, o belo. Este último sublime, entendo ser o domínio de Constable.
O historiador Donald Reynolds diz que as telas de Constable propõe a questão “para que olhar mais além?”. Ele quer ver o que está diante dos olhos, sem acrescentar nada, apreciando aquilo que o momento oferece."..mesmo assim Constable fala de recordação, porém não mais do que isso” (tipo reflexões morais, por exemplo).
O olho vê um quadro de Constable como uma festa, porém também vê a alma que cada coisa tem. Isto ainda é, muitas vezes, o que as pessoas pretendem sobre Arte: as coisas todas em concordância, um apaziguamento das coisas e consequentemente da alma do espectador.
Para Constable a tradição -no sentido de igualar, ultrapassar- não era importante. Ele queria pintar o que via. Queria tão somente a verdade, diz o historiador Gombrich. Ele detestava o que chamava de “bravura”(fazer algo além da verdade).
O modelo, na época, era Claude Lorrain, que desenvolvera um esquema pelo qual praticamente qualquer um podia fazer uma obra relativamente agradável: uma árvore em primeiro plano e atrás, uma paisagem que se abria para uma vista longínqua.
O esquema das cores também tinha uma elaboração fixa: no primeiro plano cores quentes que esfriava-se ao distanciar-se. Era uma “receita”, truques para pintar nuvens, troncos de árvores, enfim.
Constable fazia esboços direto na natureza e depois terminava no atelier. Diz Gombrich que estes esboços eram mais arrojados do que o trabalho terminado. Mesmo assim, ele causava grande atenção pela técnica perfeita.
O quadro que o tornou famoso em Paris (para onde o enviou) foi uma cena rural “A Carroça de Feno” (1824). Nele podemos viajar, entrar, seguir o rio e ver as nuvens preparando-se para uma tempestade. Ali vemos um Constable que se submete à natureza, que não quer ir além, nem ficar aquém. Não há essa pretensão. Há uma honestidade presente sem projeção dos seus sentimentos.
O MASP possui uma belíssima obra de John Constable "A catedral de Salisbury".A catedral é um dos signos da Inglaterra anglicana, exemplo do gótico inglês. Ela está por detrás da paisagem, como uma surpresa que se descortina entre as árvores. Constable não está preocupado em fazer a apologia do gótico. A paisagem é de pincelada solta, com detalhes precisos. Entre claros e escuros faz a sinfonia do agradável.
A COLUNATA DA PRAÇA SÃO PEDRO-VATICANO Gian Lorenzo Bernini (Nápoles, 7 de dezembro de 1598 – Roma, 28 de novembro de 1680)
A COLUNATA DA PRAÇA SÃO PEDRO-VATICANO
Por Angela Becker
Sabemos que o Barroco veio como aparelhamento ideológico da Igreja Católica em função da Reforma de Lutero. A Igreja desejava a propagação da fé, e que esta fosse “em massa”.
O Papa Sisto V programou a reforma urbanística de Roma, já como alegoria deste espírito. “Alegoria” que falo, é a transposição do conceito(abstrato) ao plano material, da imagem mesmo, de forma que, no caso, a Arquitetura passe a ser um produtor de valores.
A colunata do Vaticano, idealizada e construída por Bernini, na Praça de São Pedro, representa a Igreja Católica abraçando seus fiéis. Há um valor ideológico na concepção do espaço.
Então, como diz Giulio Argan, grande historiador de Arte, “entrar naquele espaço (abraçado pela colunata) é ENTRAR NO CONCEITO. Há um convite para entrar e integrar-se”.
A coluna em si é um elemeneto plástico, um suporte mas é também um símbolo de força, porque tem a finalidade de sustentar.
Na Praça de São Pedro ela é usada como expressão visível e monumental da força do processo persuasivo católico.
O espaço natural diante da Igreja de São Pedro dá lugar a um espaço artificial, com uma razão bem clara: a crise religiosa da Contra-Reforma que deveria ser vencida por todos os meios, incluindo a Arquitetura. A fé, levada ao nível de massa, seria uma defesa eficiente contra a “heresia” protestante.
Não é para menos que o século XVII será “o século da imagem”, isto é, da propaganda. É de todos os modos que a Igreja Católica passa a preparar-se para sua contra-ofensiva. A Igreja não brinca em serviço.
É neste estado de espírito que Bernini desenvolve a espacialidade aberta da Colunata da Praça, em forma elíptica, como se fossem braços de um corpo (o da Igreja Católica) onde a cúpula de Michelângelo é a cabeça. A igreja católica abraça seus filhos, reunindo-os num amplexo. Pronto!, o Conceito está transmitido magnificamente, em forma plástica- que convida a entrar (a colunata é aberta)numa alegoria de universalidade que a Igreja almeja, em tempos de Contra-reforma.
Já não é um conceito abstrato, mas um rito de ingresso num espaço sagrado.
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Se Bernini “que também foi um grande encenador de espetáculos” (Argan) pudesse ver as imagens que vemos na televisão a todo o momento, como ficaria satisfeito com o resultado monumental de sua colunata, encimada pelo céu físico, e encabeçada pela cúpula de Michelângelo! Tudo grandioso e teatral como deveria ser para funcionar dentro da ideologia que se propôs!
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Basta ver a grandiosidade monumental quando o mundo católico elege mais um papa (e agora temos dois, sinais da multiplicidade dos tempos!)
Jean-Baptiste Debret ou De Bret (Paris, 18 de abril de 1768 — Paris, 28 de junho de 1848), foi um pintor, desenhista e professor francês. Integrou a Missão Artística Francesa (1817), que fundou, no Rio de Janeiro, uma academia de Artes e Ofícios, mais tarde Academia Imperial de Belas Artes, onde lecionou.
Jean Baptiste Debret
A pintura de D. João VI mede apenas 60 x 42 cm, incomparável com obras de imponentes monarcas que chegam a atingir 3m de altura. Tudo leva a crer tratar-se apenas de um estudo improvisado, logo a chegada no Brasil em 1816..
Caboclo por Debret
Jean Baptiste Debret
Debret desenhou e pintou várias telas refletem a vida no Brasil naquele final do Sec. XIX. Índios, caboclos, escravos, flora e fauna. A obra de Debret nos ajuda a visualizar e entender o Brasil .
José Correia (Corrêa) de Lima (Rio de Janeiro, 22 de junho de 1814 — 1857) foi um pintor acadêmico brasileiro. Acima o Retrato do Intrépido Marinheiro Simão, Carvoeiro do Vapor Pernambucana (1853)
José Correia (Corrêa) de Lima
O que dizer de uma obra pintada em um Brasil escravocrata e que demonstra um homem negro e forte que olha para além? O "preto Simão" como ficou conhecida, retrata o Marinho Simão que durante o Naufrágio do vapor Pernambucana, conseguiu salvar 13 vidas, indo e voltando a nado. Natural de Cabo Verde, casado e pai de oito filho, o intrépido marinheiro pensou naqueles que se afogavam.
Victor Meirelles de Lima (Nossa Senhora do Desterro, 18 de agosto de 1832 — Rio de Janeiro, 22 de fevereiro de 1903) foi um pintor e professor brasileiro.
Victor Meirelles
A tela da Primeira Missa no Brasil foi pintada por Victor Meirelles mais de três séculos após essa ter ocorrido. Vale acrescentar que pintura histórica foi realizada em Paris. Hoje sabemos que A missa foi realizada em uma pequena ilha e que Pedro Álvares Cabral só saiu de sua caravela para esse evento, logo retornando.
João Zeferino da Costa (Rio de Janeiro, 25 de agosto de 1840 — Rio de Janeiro, 24 de agosto de 1915) foi um pintor, professor e decorador brasileiro.
João Zeferino da Costa
Com a obra A Pompeiana João Zeferino da Costa tem o mérito de introduzir o nu na história da pintura brasileira. Não sem críticas: desde a falta de proporção e harmonia até o tema em si, que "retrata uma pompeiana que deveria ter passado pelo Largo do Rócio" (zona do meretrício) nas palavras do crítico de arte Gonzaga Duque.
Pedro Américo (1843 -1905)
Pedro Américo
Em uma época em que as relações internacionais se davam por outros critérios, a pintura histórica e a ópera eram os valores estéticos que demonstrava que o Brasil não era apenas um país escravocrata envolto nessa barbárie: a pintura de Victor Meirelles e de Pedro Américo revelavam a civilidade brasileira, a grandiosidade da história monumental. Em Pedro Américo, o tamanho das obras impactavam o espectador e esse era o objetivo: impactar o público para afastar o seu rival Victor Meirelles. Pedro Américo nunca assistiu a guerra e a sua famosa Guerra dos Guararapes lhe foi encomendada quando o pintor estava na Itália. Após a exposição de 1872, todo o Rio de Janeiro comentava as Belas Artes. O tempo definiu o destino dos dois grandes pintores: Meirelles o mais velho era a favor do império e Américo, o mais jovem, tornou-se um ardente republicano.
Pedro Américo II
Detalhe de Batalha de Avahy
Batalha de Tiradentes Esquartejado
Henrique Bernardelli (1886 - 1890)
Henrique Bernardelli
Adicione uma descrição.
A Proclamação da República, o quadro mais famoso de Henrique Bernadelli.
Henrique Bernardelli II
O quadro mais famoso de Bernadelli foi pintado em 1890, após uma longa temporada pela França e Paris. O grande propulsor da reputação artística de Bernadelli foi o mesmo Gonzaga Duque que tanto criticou João Zeferino da Costa.
Belmiro de Almeida (Serro, 22 de maio de 1858 — Paris, 12 de junho de 1935) foi um pintor, desenhista, escultor e caricaturista brasileiro
Belmiro de Almeida
Segundo Rafael Cardoso, Belmiro de Almeida foi um dos pintores e artistas mais versáteis de sua época. Aqui não encontra-se mais quadros de historiografia monumental, mas sim quadros que retratam o dia a dia. Segundo o crítico de arte Gonzaga Duque, "Ainda no Rio de Janeiro não se fez um quadro tão importante como é este." Para Duque, o quadro Arrufos retrata uma defesa "das mais admirável das instituições - a família" . Um olhar atualizado nos revela algo bem mais singular: uma mulher chorando e um dândi, avesso à sua (dela) dor por ter recebido "fora".
Rodolfo Amoedo (Salvador, 11 de dezembro de 1857 — Rio de Janeiro, 31 de maio de 1941) foi um pintor, desenhista, professor e decorador brasileiro. Era professor na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro e foi considerado um ótimo conhecedor das técnicas artísticas. Ao começar a lecionar, sempre dava grande importância ao método de aprendizado no momento que ensinava seus alunos. Acreditava que o mais significativo não era criar especialistas e sua maior pretensão era que todos aqueles que passassem por suas mãos se tornassem grandes entendedores de arte
Rodolfo Amoedo
Segundo Rafael Cardoso, o um dos artistas mais injustiçados da história da arte brasileira. Pintor proficiente em termos técnicos, ficou relegado a segundo plano por ser técnico porém desprovido de emoção. Não é bem isso o que a tela acima reproduzida nos revela.
José Ferraz de Almeida Júnior (Itu, 8 de maio de 1850 — Piracicaba, 13 de novembro de 1899), foi um pintor e desenhista brasileiro da segunda metade do século XIX.
Almeida Júnior
Almeida Júnior é frequentemente aclamado pela biografia como precursor da abordagem de temática regionalista, introduzindo assuntos até então inéditos na produção acadêmica brasileira: o amplo destaque conferido a personagens simples e anônimos e a fidedignidade com que retratou a cultura caipira, suprimindo a monumentalidade em voga no ensino artístico oficial em favor de um naturalismo
O descanso da Modelo
Almeida Júnior II
Almeida Júnior foi o pintor que melhor assimilou o legado do Realismo dos franceses Gustave Courbet e de Jean-François Millet, característica essa que o tornou bastante célebre ainda em vida. Sua biografia ainda é objeto de estudo, sendo de especial interesse as circunstâncias que levaram ao seu assassinato: Almeida Júnior morreu apunhalado, vítima de um crime passional. Foi morto pelo primo, marido de Maria Laura do Amaral, com quem o pintor manteve um romance por anos.
O Dia do Artista Plástico brasileiro é comemorado a 8 de maio, data de nascimento do pintor
Antônio Diogo da Silva Parreiras (Niterói, 20 de janeiro de 1860 – Niterói, 17 de outubro de 1937) foi um pintor, desenhista, ilustrador, escritor e professor brasileiro. Alcançou grande sucesso em vida mas morreu jovem e atualmente seu nome é praticamente desconhecido.
Antônio Diogo da Silva Parreiras
As pinturas de Antônio Parreiras costumam retratar paisagens, momentos, e acontecimentos considerados sublimes. Parreiras abordava a natureza com olhos de artista, sentindo-a com a emoção que causa a quem pessoalmente presencia o que retrata. Tinha o desejo de interpretar a natureza quando esta ainda parecia ter sido intocada. Contudo, com o quadro A Dolorida ganhou renome internacional, sendo que a tela chegou a ser reproduzida, naquela época, 93.000 vezes. Não pode ser aqui reproduzida por questões de política de uso do hoster, então segue um estudo para a Prisão de Tiradentes.
Rodolfo Chambelland (Rio de Janeiro, 29 de julho de 1879 — Rio de Janeiro, 31 de agosto de 1967) foi um pintor, desenhista, professor e decorador brasileiro.
Rodolfo Chambelland
Com Rodolfo Chambelland inicia-se uma nova fase da pintura moderna brasileira. O baile de carnaval com seus movimentos e personagens, longe do realismo de antes, parece colocar o espectador dentro da cena, dentro do próprio baile. O motivo não é grandioso, não reflete nenhuma grande batalha, muito menos do que isso, apenas um momento em um baile carnval.
Pedro Weingärtner (Porto Alegre, 26 de julho de 1853 — Porto Alegre, 26 de dezembro de 1929) foi um pintor, desenhista e gravurista teuto-brasileiro.
Pedro Weingärtner
Diferente de seus contemporâneos, Pedro Weingärtner deixou Rio Grande do Sul e não foi estudar pintura na Itália ou na França, mas sim na Alemanha. A consequência é uma vasta obra que pode retratar tanto uma sofisticada cena imaginária, como O Banho das Pompeianas como uma singela cena como a Colheita do Trigo. Sem dúvida alguma um pintor muito versátil e de grande técnica. O quanto conseguiu retratar cenas do Rio Grande do Sul? Muito e muito bem.
Colheita de Trigo
Pedro Weingärtner II
Aqui o pintor retrata uma cena do Rio Grande do Sul, onde nasceu. Várias outras telas, como esta, foram produzidas por ele.
Por que trouxe Iberê? Porque Iberê grita por nós.
IBERÊ CAMARGO- (1914-1994)
Por Angela Becker
Resolvi trazê-lo aqui neste momento em que já viramos a página no caso de
GENIVALDO, MORTO AOS 38 ANOS.
Por que trouxe Iberê? Porque Iberê grita por nós.
Há alguns anos teve uma grande e completa exposição de Iberê Camargo aqui em São Paulo.
Voltando desta exposição “Um trágico nos Trópicos” no Centro Cultural Banco do Brasil, escrevi:
É sempre uma experiência de dor existencial ver a sua obra. Principalmente a sua fase madura, quando alguns anos antes de morrer, volta à figura humana, com telas enormes com mais de 2 ou 3 metros.
Iberê é, para mim, o melhor. Nenhum outro brasileiro ousou tanto. É ele que vai mais fundo, o que encara uma autenticidade doída, o que aborda a finitude e a tragicidade da vida de uma forma direta. Ele olha o horror nos olhos. Com tinta, ele nos grita: a vida é patética! Com palavras, em suas entrevistas, nos fala “a vida dói”.
Parece dizer a nós brasileiros “encarem vossa pseudo felicidade, vossa euforia falsa. A vida é trágica e é nela que estamos metidos até o pescoço”. Iberê nos sacode de um sonho ingênuo.
Seus ciclistas e seus idiotas são acontecimentos da superfície da tela e na tela se resumem. Nada tem de representativo da realidade. Mas o que nos chega é tão intenso, o gesto pictórico é tão duro e robusto que nos sacode. Os dramas da História, as guerras, as bombas, as mortes, o abandono, as dores físicas e emocionais estão todas ali trancadas nos seus quadros e explodindo em eco dentro de nós. Não tem escape.
Ver sua série "Tudo te é falso e inútil" é atravessar um túnel de melancolia, nonsense, desespero. Seus carretéis que a princípio nos embalam em tenra infância chegam a nós, só para depois nos lançar na maior miséria possível.
A revista Time, quando anunciou sua morte, teria escrito que Iberê Camargo “expressou a miséria humana de forma impiedosamente honesta”. É isso.
No seguir da exposição tomamos um fôlego ao ver seu tema querido, os carretéis. Na antessala estavam os próprios carretéis empilhados, outros esparramados como se ele recém acabasse de brincar em sua infância longínqua na cidade de Restinga Seca, Rio Grande do Sul. Uma pequena alegria e em seguida fomos outra vez lançados à solidão.
A saudade da infância, o paraíso perdido de todos nós. Os carretéis se sucedem em mil formas, cada vez mais abstratos, e eis que vemos um quadro onde suas formas explodem na tela. Há coloridos inusitados, milhões de cores!
Mas nada nos aquieta em Iberê, nada nos consola. "O drama, trago-o na alma. A minha pintura, sombria, dramática, suja, corresponde à verdade mais profunda que habita no íntimo de uma burguesia que cobre a miséria do dia-a-dia com o colorido das orgias e da alienação do povo.
"Não faço mortalha colorida", diria ele. É verdade, ele não faz mortalha colorida, não tergiversa, não negocia.
A exposição seguia tendo a morte como interlocutora: morte da infância, morte da alegria, morte da lucidez. Seus idiotas têm rosto cruel, olhos escavados, burlescos, um esgar de sorriso.
Pintados com um azul noite, aquática transparência suja de branco leitoso, têm formas de amebas que sorriem para si, banguelas e deformadas. "Uma expressividade grotesca de criança envelhecida em tubo de laboratório" diria um crítico.
A conclusão é imediata “somos também este idiota, todos somos”.
Clarice Lispector definiu Iberê como “um homem alto, um pouco curvo, olhar de grande mansidão, pele morena, ar ascético de monge”. Teria perguntado: “Iberê por que é que você pinta?” e ele respondeu que só saberia dizer por que pintava "quando tivesse descoberto o que era".
IBERÊ CAMARGO
René Magritte (1898-1969) foi um pintor belga, um dos principais representantes do Surrealismo, ao lado de Salvador Dali e Max Ernst. "O Filho do Homem" na reprodução acima.
RENÉ MAGRITTE (Bélgica 1898-1967)
Por Angela Becker
RENÉ MAGRITTE (Bélgica 1898-1967)
Confesso que o pintor René Magritte não constava das minhas preferências.
Muito silêncio em suas telas.
Sentia falta de algum brilho, algum som. Ambientes assim congelados não me atraíam. Nem a ideia de um pintor convencional que pintava na sala de jantar de casa, sem sequer o charme de um ateliê! E mais: pintava de terno, gravata, chapéu coco.... (chapéu coco não, mas gravata borboleta sim). Um homem “normal”, caseiro que morou 54 anos na mesma rua e dali só deu uma fugidinha de dois anos a Paris.
Tratava-se do pintor do cachimbo que não é um cachimbo e isso me parecia mais do que óbvio, rs
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Seu pai, Leopold, era alfaiate e proprietário de uma pequena manufatura têxtil. Agressivo, namorador, irreverente, com altos e baixos financeiros. Os três filhos, indisciplinados a ponto de a família ter de mudar de cidade por duas vezes, Châtelet e Charleroi, na Bélgica. Os moleques logo tinham má fama sendo rejeitados pelos vizinhos.
A mãe foi chapeleira (não é para menos que Magritte se autorretratava de terno e chapéu).
Ela, portadora de melancolia profunda, tenta suicídio várias vezes. O marido a tranca no quarto por temporadas, até que um dia, em 1912, definitivamente termina com a sua vida e é retirada do rio Sambre, afogada. Um pano envolvia a sua cabeça. Magritte tinha 14 anos e presenciara a cena.
Esta imagem com pano, vai aparecer muitas vezes em sua pintura (mas também corresponde ao interesse surrealista por máscaras).
Dois eventos lhe marcariam a vida: um encontro com um artista pintando em um cemitério, com quem ele se deparou enquanto brincava com um amigo e a cena da morte da mãe.
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Na escola, conhece Georgette Berger com quem se reencontra mais tarde para casar-se.
Frequenta a academia de Belas Artes da Bélgica. E, casado com Georgette que trabalha numa cooperativa de artistas, tem a rica oportunidade de conviver com arte.
Conhece vários membros da vanguarda belga interessados pelo futurismo italiano e o movimento The Stijl. Trabalha numa fábrica de papel de parede e depois com publicidade.
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Certo dia conhece a tela de De Chirico “Canção de amor” que o influencia ao ponto de fazer uma guinada nos seus trabalhos. Um ar desolado e misterioso toma a sua obra apontando para o que será.
Em 1926 faz sua primeira tela surrealista “Lost Jockey” e realiza sua primeira individual em Bruxelas. Expõe “Assassino Ameaçado” influenciado pela popular série policial Fântomas, da qual era um fã. Um quadro chocante.
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Muda-se para uma cidade perto de Paris e se junta aos surrealistas liderados por André Breton: Paul Eluard, Hans Harp, Miró. Com Eluard e sua esposa Gala, visita Dali em Cadaques. ( vejam..pouco tempo depois, Dali casa com Gala).
Nesta época pinta “Ceci n’est pas une pipe”(1929) - Isto não é um cachimbo. De fato, não era mesmo um cachimbo, mas a figuração de um cachimbo. Então o observador se pergunta qual a verdade mais real.
Isto terá implicações semânticas, linguísticas. Nomeia o que, evidentemente, não tem necessidade de nomear e quando o faz, nega-o. (O filósofo Michel Foucault faz um estudo sobre o tema. Há de ter aqui na internet).
Em 1930, ignorado pelo grupo surrealista de Paris, volta para o conforto belga. Não gostava das questões do subconsciente, resiste à psicanálise. Seu método, no entanto, foi revelado por um sonho, no ano de 1932.
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Magritte tem a obsessão do banal misterioso. Toma um objeto da realidade, e o tira do contexto originário, estabelecendo um enigma. É surrealista, mas não segue Breton que preconizava o automatismo psíquico, a gestualidade casual. Ele não se volta ao subconsciente em si. Trata do objeto e de como este invoca o subconsciente quando o desloca para outra realidade.
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O objeto, desenha e pinta íntegro e autônomo (não derramado ou alterado como fazia Dalí e outros). Cria um outro tipo de lógica, a do absurdo. Os títulos também são deliberadamente sem relação com as obras. Usa o título para outra vez deslocar.
Magritte adorava quebra-cabeças.
Sua maior tela está no teto do Théâtre Royal des Galeries, em Bruxelas. Um céu azul pontilhado de nuvens, motivo caro ao pintor belga. Inicialmente, o artista havia proposto o mesmo motivo com sinos, cuja pintura pode ser vista no Museu Magritte.
Esta última opção acabou não sendo mantida, mas um gigantesco lustre com bolas de vidro foi adicionado no meio. Ficou lindo, vi por fotografia e posto acima.
Briga pela segunda vez com Breton e deixa os elementos sombrios (tão caros ao surrealismo) para fazer quadros mais alegres. Pelo surrealismo, incorpora o nonsense e autoriza-se ao irracional.
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Como uma resposta subversiva à desolação da guerra, escreve:
“A sensação de caos, de pânico, que o surrealismo esperava promover, para que tudo pudesse ser posto em questão, fosse alcançado com muito mais sucesso por aqueles idiotas nazistas. Contra o pessimismo generalizado, agora proponho uma busca por alegria e prazer.”
Pinta várias telas por influência de Renoir. Eu vi, não gostei, concluí que Magritte, no impressionismo, não estava em seu elemento.
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Há quatro anos vi a tela “tempo paralisado” pintada com petróleo. Apresenta um trem saindo pela lareira e adentrando o silêncio de uma sala vazia. A pintura foi feita por encomenda pelo empresário de Londres Edward James. O tema é encomendado em homenagem à esposa, que morreu sob um trem descontrolado em Londres. " Eu decidi pintar a imagem de uma locomotiva para que seu mistério seja invocado", disse.
Tem uma tela roubada “Olympia”, avaliada em 3 milhões, onde aparece Georgette nua. Os ladrões a devolvem três anos depois por ser muito famosa e não conseguir, por isso, comercializá-la. Surrealista, não?
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Morre de câncer aos 68 anos.
Nos últimos dez anos de vida o sucesso o alcança definitivamente. Ele dizia “meu único desejo é enriquecer-me com pensamentos excitantes”.
Bem, até aí, normal, nada surrealista, a gente também.
RENÉ MAGRITTE II
O Filho do Homem
Isto não é um cachimbo
Golconda
Rene e Georgette
A Arte de Lucian Freud, neto de Sigmund Freud, aqui apresentada e analisada por Angela Becker
Lucian Freud
Angela Weingärtner Becker
Na Inglaterra, nos anos 80, havia um movimento pró-figurativo em decorrência da tradição britânica que considerava a arte conceitual como um desvio da verdadeira vocação da Arte. Queria-se um retorno aos temas humanísticos. É neste lugar que Lucian Freud se coloca. Mas também (e talvez principalmente) no mercado. Este se mostrou magnânimo com ele.
... o mercado não pensou como a crítica de Arte. O quadro “Benefits Supervisor Sleeping”, 1995, foi vendido por 33,6 milhões de dólares na sede nova-iorquina da Christie's ,um record mundial em leilão, para um artista vivo. E, uma fortuna acumulada de 96 milhões de libras mostram o quanto ele foi procurado e valorizado.
Retrato de Rosie (1979) não pode ser reproduzido neste hoster.
Lucian Freud II
Lucian Freud é autobiográfico. O conteúdo da sua obra envolve suas esperanças, memórias, sensualidade. Pintou amigos, esposas, filhos (deviam ficar imóveis por longas 13 horas por dia!). A rainha Elizabeth, cujo retrato pintou em 2001, só conseguia pousar 2h de cada vez. O retrato mostra uma rainha ElizabethII bastante masculina, sob uma pesada coroa. O pintor estava tão preocupado em captar a "essência interior" da soberana que descartou um plano mais amplo e a fez em close. Comparou a dificuldade de sua tarefa com uma expedição ao Polo Norte.
Nos anos 50, redescobriu para si a arte dos retratos e dos nus realistas. Em geral, seus modelos eram parentes e amigos. Dificilmente retratava quem se destacasse por beleza extraordinária com exceção da top-model Kate Moss e Jerry Hall, ex-esposa de Mick Jagger.
Comparar com a A Origem do Mundo de Coubert.